
O comboio da Beira Baixa de há quarenta anos marcou a minha
vida de jovem.
Sempre desde que me conheço houve carro lá em casa e por
isso não precisei de o utilizar nunca.
Utilizei -o apenas após me casar, nas idas e vindas de e para
Lisboa.
Já há algum tempo falei aqui de como me foi difícil sair da
minha terra, mas por uma questão de enquadramento vou fazê-lo hoje outra vez.
Fui criada no Casteleiro e muito agarrada à família, às
tradições e às vivências diárias.
Custou-me imenso largar tudo e sair para um meio que
desconhecia.
A primeira viagem foi no dia em que casei.
Nesse dia era festa, não cabiam questões de outra natureza
que não fosse o sonho!
Tudo se alterou quando se tornou uma situação necessária e de
rotina.
Ir ao Casteleiro, tudo
bem. Mas regressar era sempre aquele drama!
Aquele comboio ronceiro, barulhento, maçador e com um cheiro
intenso a óleo, era deprimente.
Era desconfortável e albergava gente para lá do que podia e
devia: era um armazém apinhado e mal arrumado de humanos e de bagagens de toda
a espécie!
Uns sentados em bancos frios, outros em pé, durante
as nove/dez horas que demorava a viagem.
Para mim, tempo demasiado desgastante a nível físico e
emocional.
Sentia que aquele comboio deprimente me afastava a cada
minuto, para mais longe do meu berço aconchegante e tão cheio de afectos.
O dia que mais me marcou foi aquele em que tive que me
despedir de minha mãe por dois anos, na estação de Belmonte.
Esse dia deixou a marca das marcas!
Cheguei a Lisboa desfeita e de olhos inchados!
A partida para Angola a acompanhar o marido que forçadamente
fora levado para a guerra, impunha-se.
Foi uma opção demasiado dolorosa e que nunca esquecerei!
Aquele comboio foi uma vez mais o monstro de mais uma estória
da minha vida!
Hoje tudo é diferente, mas aquela imagem, aquele som e
aquele cheiro continuam nas minhas memórias.
Abraço.
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