Não é esta a primeira vez que falo aqui do sino da minha aldeia.
Referi como foi importante para as populações em tempos
idos.
Fiz várias referências, mas esqueci-me de uma muito
importante e até traumática em certas situações.
Não sei muito bem porquê, fui buscar uma lembrança remota,
que se encontrava «entalada» entre tantas outras no meu disco rígido.
Isto para dar um ar mais actual.
Lembrei-me de como a aldeia estava mergulhada em silêncio.
Mesmo que fosse dia, ouvia-se o zumbir das moscas, o bichinho
da madeira a fazer trre…trre…
Enfim, ouvia-se, como costumo dizer, o silêncio.
Era no meio do silêncio que, de vez em quando, o coração
disparava e os corpos tremiam.
Alguém se dirigia ao sino e tocava em ritmo muito acelerado.
Dlão-dlão-dlão-dlão-dlão…
Chamava-se toque a rebate.
Era alarmante e significava grande aflição.
Normalmente era incêndio.
Também me lembro, de poder ser assalto ou outra coisa grave.
O sino era o agente mobilizador.
Nesses momentos, levantava-se uma população inteira e corria
aflita.
Se fosse incêndio, não havia baldes, regadores e outros
recipientes para carregar água que chegassem.
Em grupo, uns para lá e outros para cá, lutava-se até
eliminá-lo.
O sino despoletava a situação, a solidariedade fazia o
resto.
Sem água canalizada, sem mangueiras, sem bombeiros, a
solução estava mesmo na inter-ajuda.
O sino.
Um objecto que foi tão útil em tempos e hoje não passa de um
objecto decorativo.
Abraço.
Sem comentários:
Enviar um comentário