terça-feira, 23 de julho de 2013

Aflição






Não é esta a primeira vez que falo aqui do sino da minha aldeia.
Referi como foi importante para as populações em tempos idos.
Fiz várias referências, mas esqueci-me de uma muito importante e até traumática em certas situações.
Não sei muito bem porquê, fui buscar uma lembrança remota, que se encontrava «entalada» entre tantas outras no meu disco rígido.
Isto para dar um ar mais actual.

Lembrei-me de como a aldeia estava mergulhada em silêncio.
Mesmo que fosse dia, ouvia-se o zumbir das moscas, o bichinho da madeira a fazer trre…trre…
Enfim, ouvia-se, como costumo dizer, o silêncio.
Era no meio do silêncio que, de vez em quando, o coração disparava e os corpos tremiam.
Alguém se dirigia ao sino e tocava em ritmo muito acelerado.
Dlão-dlão-dlão-dlão-dlão…
Chamava-se toque a rebate.
Era alarmante e significava grande aflição.
Normalmente era incêndio.
Também me lembro, de poder ser assalto ou outra coisa grave.
O sino era o agente mobilizador.
Nesses momentos, levantava-se uma população inteira e corria aflita.
Se fosse incêndio, não havia baldes, regadores e outros recipientes para carregar água que chegassem.
Em grupo, uns para lá e outros para cá, lutava-se até eliminá-lo.

O sino despoletava a situação, a solidariedade fazia o resto.
Sem água canalizada, sem mangueiras, sem bombeiros, a solução estava mesmo na inter-ajuda.

O sino.

Um objecto que foi tão útil em tempos e hoje não passa de um objecto decorativo.


Abraço.

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