domingo, 25 de agosto de 2013

A fita que não se desgasta

 Daquelas escadas, via as cegonhas na torre


Desde muito pequena, que me senti fortemente ligada à família do lado materno.
Todos os meus dias ficaram marcados pelo convívio com a avó, tias e primos que me enchiam de mimos.
A casa da minha avó a quem chamava madrinha (dizia-me a minha mãe que assim ela se sentiria menos velha – coisa do tempo!...) era o sítio onde, todos os dias, não podia deixar de ir.
O trajecto que fazia, fosse dia ou fosse noite, era sempre feito a saltitar e com o coração a palpitar de emoções, que enchiam a minha vida de menina.
Mais tarde, já adolescente, aquele sítio, aquelas escadas de pedra, recebiam-me sempre e (digo eu) quase sentiam as alegrias e os pequenos problemas e preocupações de uma jovem a fervilhar de vida.
Aquelas pedras eram-me tão familiares, que ainda hoje me lembro de alguns pormenores que as caracterizavam.
Foi lá que, meio clandestinamente, me iniciei no gosto pela leitura.
Desde a chamada literatura de cordel, para, um pouco mais adiante, passar aos clássicos e na altura quase proibidos, Herculano, Camilo, Dostoiévski etc…

Aquelas pedras lambidas pelo sol, gastas pelo tempo e circundadas de vegetação, eram únicas.
Quentes e aconchegantes, transmitiam-me o calor que não existia noutro sítio.
Calor físico e humano.
Dali só saía quando o sol se escondia e a lareira já crepitava.
Aí era o até amanhã, ou o até logo, se as noites fossem as noite longas de inverno e o serão era em família.

São estas recordações que perpassam muitas vezes no meu espírito e me devolvem aqueles momentos mágicos e ternos que fizeram de mim uma pessoa mais humana e sensível.


Abraço.

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