sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Juiz, mas calma aí

 




Senhor juiz, excelência.
Que pena só agora saber da vossa existência!
A minha vida teria sido muito mais animada, se vos tivesse conhecido antes.
Certamente até as crianças que ajudei a crescer teriam sido mais felizes.
Talvez pudessem ter esquecido o excesso de tempo que estavam no infantário.
Talvez, quem sabe, esquecessem o pouco tempo que os pais, coitados, tinham para lhes dar!... 
Pessoalmente, teria de certeza aderido à sua tese.
Bebia-lhe uns copitos de vez em quando e o tempo seria mais animado, leve e produtivo.
As criancinhas, essas, iriam divertir-se muito mais.
E por que não umas pinguinhas a elas também? Sempre adormeceriam mais calmas…

Eu, de voz entaramelada a contar estórias e a cantar cantigas!...
Gaguejando, claro, e a ir de encontro às cadeiras e mesas.
A estatelar-me no chão, borrachinha que nem um cacho!...
Pensariam que era uma dramatização e então é que seria o delírio, com elas a colaborar.

Pois é, excelência.
Pena, pena, pena!
Os copitos que eu não bebi.
Como a minha vida teria sido uma reinação comigo assim, feita uma esponja.
A animação que eu e o meu grupo de crianças perdemos!
A qualidade de trabalho que nos escapou!

Diga-me, excelência.
Onde é que o senhor exerce?
Tenho que descobrir.
Quero ouvir de viva voz as suas sentenças.
Quero vê-lo a sair do tribunal ainda de toga, e de braço dado com os seus arguidos.
Divertidíssimos, a dirigirem-se para a tasca mais próxima, emborcarem mais um copo de três.

Bonito serviço, este!...
Afinal ainda há mais bebedolas ao serviço do povo do que eu imaginava!
E não há quem os controle?

Agora compreendo algumas decisões de certa justiça!...

Está bonito o meu país. 


Abraço.

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