Meu pai era um homem com H grande.
Tinha um grande espírito de humor, mas, quando a coisa não
lhe agradava, era acintoso e às vezes nada meigo nas apreciações que fazia.
Lembrei-me dele ao ler um título de uma notícia de hoje.
«Vital Moreira rejeita inconstitucionalidade das quarenta
horas».
«Ai o filho da…» (… da outra, digo eu. Ele seria mais terra-a-terra…).
Na revolta, eu dar-lhe ia razão.
Como este senhorito mudou!
E pensar eu que já o tive como primo, ainda que por
afinidade!
E pensar eu que este vira-casacas já se disse um homem de
esquerda a sério.
Que se pavoneou na festa do «Avante!», a fingir que era um
deles!
Que se serviu enquanto precisou para depois dar o salto que
o havia de levar a voos mais altos!
Filho da mãe mesmo!
Sem carácter nem vergonha.
Cobardolas.
Apanhado a toda a hora a trair, feito um coisa-reles!
Quarenta horas!
Para ele, que deve ter acesso às mordomias todas e mais
algumas.
A quem as amas, as criadas e as bábás não hão-de faltar.
E as outras pessoas?
As que saem de casa às seis da manhã e regressam às oito, ou
mais, com os filhos à pendura, e ainda todas as tarefas da casa e mais algumas
à sua espera.
Nessas, o constitucionalista não pensa.
Ele já não faz parte desse povo que um dia disse defender..
Subiu alguns degraus.
À custa de quê?
Filhos da mãe!...
Ou da outra, como diria o meu pai?
Abraço.
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