sexta-feira, 27 de junho de 2014

De Zeca Afonso ao kuduro!




Gosto de música desde que me conheço.
Na minha adolescência, ouvi e dancei ao som das músicas que durante todo o dia passavam na Rádio Altitude da Guarda.
Saltava-me o coraçãozito com toda ela.
Faltava-me a noção da qualidade.
Ainda hoje, ranchos folclóricos, acordeão, bandas, tudo isso me faz bater o pé.
Em determinada altura, já no fim da minha adolescência, chegou-me por via de um amigo, uma cassete gravada por um grupo de cantores de intervenção.
Fizeram isso meio clandestinamente e distribuíram cópias.
Algo mudou em mim.
Meio atordoada, tomei conhecimento daquele género de músca e apaixonei-me por ela.
Foi um abanão psicológico e intelectual!...
Fez-me parar para pensar.
Tratava de assuntos que até então estavam meio nublados no meu espírito. Aos poucos, fui tomando consciência de como a vida era madrasta para alguns e tão fácil para outros.
Abriu-me horizontes e ensinou-me a entender os porquês e os meandros e mistérios que até aí nem questionava.
Ficou para mim tudo mais claro.
Aprendi caminhos alternativos e mais correctos para alcançar uma maior justiça.
Foram anos em que essa música me acompanhou e me ajudou a desbravar caminhos.
Acompanhou-me e deu-me força, em momentos difíceis – como a guerra colonial.
Entre muitos outros e apenas para referir alguns, o José Afonso, o Adriano Correia de Oliveira, o Sérgio Godinho, o Francisco Fanhais, o José Mário Branco, deixaram marcas fortes.
Seria exaustivo falar de tantos. Nossos, brasileiros e de outros países que se juntaram a este movimento de esclarecimento dos mais afastados da realidade.
Aprendi com eles a apreciar o que de bom se pode fazer com músicas e letras de qualidade.
Não posso deixar de me sentir triste quando, de repente, começo a ver essa gente e esses poemas, a sair de cena para darem lugar a autênticas mediocridades, que preenchem os espaços nobres das nossas televisões...
Que saudades e que crime este de desprezar a cultura que nos é tão necessária!
Dou comigo a pensar que de José Afonso ao kuduro e outras que tal, vai um mundo de ignorância de desconhecimento e de distância em relação ao saber. A começar na programação das televisões que enfrascam quem os vê de mediocridade e toneladas de falta de qualidade.
Pobre povo que tão mal tratado és!

Abraço.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Às vezes o silêncio fala




Há um ditado português que diz que «o calado diz tudo».
Em certas situações, concordo com ele.
Principalmente quando a conversa não tem interesse ou quando o diálogo não é possível.
Sim, porque há conversas estéreis e diálogos impossíveis!
Principalmente quando apenas um está disponível, pois para haver diálogo são precisos, pelo menos, dois.
Aí, nada feito.
O pensamento fica trancado no subconsciente, impedido de se manifestar.
Quando isso acontece, a sensação é a de que houve um corte na liberdade de expressão.
É como se nos impusessem um silêncio não desejado, como se nos obrigassem a colocar uma
mordaça.
Claro que quando isso acontece o melhor é o tal silêncio, aquele que fala dentro de nós mas que não se ouve.
Que muitas vezes nos leva apenas a reflectir no porquê da recusa do diálogo!
Quando isto acontece, penso sempre numa cantiga de há muitos anos, cantada pelo então Padre Fanhais.
Com a sua voz inconfundível, forte e clara dizia:
«Cortaram o bico ao Rouxinol!
Rouxinol sem bico não pode cantar»!...
Há gente que nunca entenderá isto!
Pudera, nem lhes passa pela cabeça o que foi a censura!
O que foi calar o pensamento!
Nunca passaram por isso!...
Não lhes levo a mal, é preciso passar para sentir!...


Abraço.







  •                                           Música para ouvir:
                                              Cortaram as asas ao rouxinol
                                              por Francisco Fanhais
                                   Aqui.

    segunda-feira, 23 de junho de 2014

    Indiferença… Desinteresse…

















    O que a gente vai observando todos os dias, dá para reflectir e desabafar para não sufocar.
    A situação política portuguesa (para me situar apenas no que me rodeia) está um caos!
    A maioria dos portugueses está desiludida e descrente.
    Os políticos perderam o brio e deixaram-se transformar em figuras ridículas e desacreditadas.
    Quais saltitões exibicionistas e com sede de poder, digladiam-se na praça pública, apoiados pelos seus acólitos mais próximos.
    Sempre que aparecem com as suas trocas e baldrocas, são motivo de chacota e apelidados com os piores epítetos.
    Esta nova geração deles, na sua maioria pouco preparada, desumanizada, fria e agindo como máquinas, deu origem a este desinteresse e quase desprezo a que foram votados.
     A maior parte das pessoas que ainda olha para eles, principalmente os que vêm de uma geração anterior, perdeu não só a paciência, como perdeu a esperança.
     Dentro das suas figuras ataviadas e com vozes esganiçadas e vazias de conteúdo, entram-nos em casa sem pedir licença e debitam nos nossos ouvidos verdadeiros atentados à inteligência.
    Tornaram-se incómodos e caminham para o descrédito.
    As suas atitudes ridículas, levianas e algumas delas graves, afastam não só quem já em tempos conviveu com políticos a sério mas também os mais jovens, que não viveram essa experiência e pensarão que, desses, não existiram nunca.
    Nasce assim uma nova geração pouco esclarecida e sem capacidade de análise dos problemas que todos os dias vão surgindo e lhes vão transformando a vida num caos!
    Estamos perante políticos injustos, que atingem a torto e a direito uns e outros sem um critério justo e honesto.
    São esses políticos frios, desumanizados e egoístas que estão a transformar o nosso país num deserto de sensibilidade, de sensatez e de humanismo.   
    Onde habitam seres igualmente frios e sem qualidades, que todos os dias praticam as maiores atrocidades!...
    São eles, políticos, que têm vindo a dar origem a um Mundo de descompensados e com deficit de afectos.
    Viciados em futilidades, recorrem a qualquer esquema para as conseguir.
    São esses políticos, e outros que hão-de vir de igual teor, os principais responsáveis por um Mundo menos bom.
    Será que algum dia alguém lhes pedirá contas?

    Abraço.

    sexta-feira, 13 de junho de 2014

    Trampolim

     


    Engraçado!
    Em conversa morna e a propósito do que poderia ser um pequeno meio de comunicação, surgiu a palavra trampolim, que me fez pensar.
    Um trampolim é uma prancha para saltar para as piscinas ou para qualquer outro sítio que se pretenda.
    É um objecto muito usado nos ginásios e em saltos.
    Em política e não só, esta palavra está sempre a vir à liça.
    Também é usada para dizer que este ou aquele posto, lugar ou serviço, é utilizado como trampolim, para outros mais rentáveis, mais importantes e mais convenientes económica ou politicamente.
    Quando alguém usa outros «alguéns» ou serviços para com isso beneficiar a nível pessoal, costuma até dizer-se que está a usá-los para lhe servirem de trampolim.
     Pois bem, todos conhecemos casos e pessoas que fazem uso disso.
    Esta palavra enquadra-se na perfeição, no raciocínio e na ideia que deu origem a esta minha divagação.
    Trampolins!
    Como dão jeito a certa gente!
    E em certos casos, que gente oportunista, digo eu!...


    Abraço.

    sexta-feira, 6 de junho de 2014

    A Família Grande

     




    Esta família grande a que me vou referir hoje, não é só uma família grande, mas uma Grande Família.
    É com orgulho que faço parte dela por via directa.
    Teve a sua origem onde menos se poderia esperar.
    No recato de uma casa paroquial onde habitavam um sacerdote, uma governanta e uma criada.
     Assim, «na paz de Deus»!...
    O silêncio devia ser muito, a solidão doía, o frio chamava companhia e a carne era fraca!...
    O sacerdote, coitado, ainda jovem, caiu em tentação.
    Não conseguiu aguentar os impulsos e zás, não fez apenas um mas quatro filhos.
    Três de uma e um de outra.
    Qual árabe no seu harém.
    Três foram assumidos pela calada, acolhidos num colégio interno em Coimbra e lá receberam a educação que o pai lhes negou!
    A sociedade assim o exigia!
    O outro, coitado, foi atirado à rua com sua mãe, cresceu e fez-se Homem a pulso e com muito sofrer.
    Sem dó nem piedade, Filho de pai Incógnito.
    Foi ele pai de treze filhos (apenas um não se criou) e meu avô e avô de tantos outros que nem sei precisar quantos!
    É esta família de homens e mulheres trabalhadores, honestos e empreendedores, que se auto-denominou por Família Abade.
    Uma forma de criar curiosidade e desmascarar a injustiça que então aconteceu?
    É esta família ou parte dela, que amanhã se vai encontrar para um almoço-convívio na terra onde têm as suas raízes.
    Tenho muita pena de não estar presente.
    Estarei em espírito e com os canais do afecto todos ligados.


    Abração especial para todos eles.

    quarta-feira, 4 de junho de 2014

    Trastes





















    Um traste, tanto quanto eu sei, é um objecto ou uma pessoa sem préstimo.
    Um trastezinho então terá ainda menos valor, menos préstimo e utilidade.
    Isto vem a propósito de uma pequena reflexão sobre o que nos vai surpreendendo no dia-a-dia.
    Dou comigo a pensar em como seria triste, sentir-me encaixada neste rol!
    Ser considerada um traste ou um trastezinho e ser apenas o invólucro sem préstimo!...
    Se pensarmos bem, quantos circulam e se cruzam connosco diariamente por aí.
    Alguns nem disfarçam, outros aparecem-nos camuflados de gente preparada.
    Apesar disso, não passam de trastes!
    Ou melhor.
    De trastezinhos!...
    Detestaria fazer parte de um ou de outro grupo.

     Abraço.