terça-feira, 27 de novembro de 2012

É bela

















É bela e quente.
Aquece o ambiente e o coração.
Sedutora, a sua chama forte prende o olhar.
Que fascinado, a segue até os olhos doerem…
É bom sentir este calor ambiente, que nos penetra o interior.
Que apazigua o espírito e nos traz calma.
Que nos leva a um mundo imaginário onde tudo é paz.
Lá fora, o frio convida ao aconchego.
O sol espreita, misturado com bátegas de chuva, de quando em vez forte.
As vidraças inundam-se de gotas irrequietas.
Irreverentes, não param.

O corpo cede ao calor.
Arquiva-o e saboreia-o.
Amolece.

É bela e quente.

Vermelha como o tom do sangue que nos corre cá dentro.
Quente como os corações sensíveis.

É a chama quente.
A companheira que nos mima e nos protege do frio lá fora.

Abraço.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Tanta coisa













Tanta coisa para escrever!
Mas…
Nem tudo é tão linear assim.
Nem tudo pode saltar para o ecrã do computador.
Existem os princípios, o bom senso, a educação.
Há coisas que ficam melhor arquivadas.

O silêncio é de ouro.

Calar as fitas negras da vida.
O que indignou.
O que tirou o sono.
O que marcou.
Marcou por dentro, bem no centro da nossa sensibilidade.
O mais correcto é esquecer?
Recordar os bons momentos.

Tanta coisa.

Tantos nós.
Apertados e grandes.

Tanta coisa.

E o silêncio é de ouro!...
   
Abraço.

domingo, 25 de novembro de 2012

As meninas gotinhas de água

















A propósito desta chuva que cai copiosamente, lembrei-me de uma estória doce e cheia de pedagogia, que tantas vezes contei às crianças que me foram confiadas.
Tal como na estória, também as minhas gotinhas vieram ajudar.

Durante muito tempo, as meninas gotinhas de água mantiveram-se calmas lá nas profundezas do mar.
Lá em baixo estava-se bem e assim descansaram mais um pouco.
O ruído, cá em cima, não condizia com elas.
Acontece que passado um bom tempo, sentiram que era o momento de espreitar a superfície.
Pareceu-lhes que, para lá do ruído do mar que se agitou de repente, o sol se fechou.
A gotinha mais dinâmica reparou que as nuvens estavam carregadas.
De repente, sem saber como, viu-se poisada numa, a sobrevoar o mar e os campos.
A gotinha de água achou tudo muito seco e triste.

Os campos rachados com tanta secura, as plantas vergadas com sede, os rios não corriam, as barragens estavam semi-vazias e os Homens andavam cabisbaixos e sem sorriso.
A vida sem água não era possível.
Assim, pensando depressa, a menina gotinha de água chamou as suas irmãs.
Deram as mãos e foram em socorro de todos.
Deixaram-se escorregar pelas folhas, pelos caminhos, pelos campos.
Encheram rios, poços e barragens.
A terra ficou prenhe de água e quem precisava dela sorriu de felicidade.
As flores abriam as pétalas em forma de agradecimento.
As árvores tornaram-se mais verdes e deram frutos saborosos.
Os passarinhos cantavam, aninhados nos galhos.
As searas engrossaram e o grão transformou-se em pão.
As ervas, alimento dos animais, cresciam e prometiam fartura.
A terra, hidratada pela chuva, não se cansava de produzir.

As meninas gotinhas de água olharam lá de cima e viram nos rostos dos Homens um sorriso gigante que as encheu de alegria.
O sol… mostrou-se resplandecente!

Agora sim, pensaram. 
Tudo era vida.

Podiam recolher-se outra vez.

Abraço.

sábado, 24 de novembro de 2012

Tornar útil o tempo














Depois de tantos anos debaixo de controlo, a cumprir horários e a responder com empenho à tarefa de educar, fiquei livre.
Logo de seguida, dei asas à minha liberdade de acção.
Comecei pelo que mais me agradou.
Saí, observei, saboreei e partilhei o que mais me tocou.
Pus à prova a minha sensibilidade.
Mostrei-me sem artefactos tal e qual sou.
Tenho-me sentido preenchida.
Deixei que a minha imaginação e criatividade fluíssem e falassem por si.
Assim, apenas eu, sem maquilhagem.

Tenho gostado desta ocupação do meu tempo.
Ainda mais porque gosto de partilhar.
Acontece que, de há um tempo para cá, apeteceu-me diversificar.
Pegar também em alguns trabalhos a nível manual.
Digamos: voltar a pegar em coisas que, em tempos idos, gostei de fazer.
Não dizem que a História se repete?

Pus mãos à obra e entusiasmei-me.
Afinal é como andar de bicicleta: dizem que nunca se esquece.
Bom, uma ideia aqui, outra ali, o resto é da minha lavra.
Apenas alguma criatividade.
Gosto de ver o produto final.
Dá-me gozo usar coisas completamente exclusivas.

Que saíram de mim e do meu gosto.

É bom criar.
É relaxante e preenche-nos o ego!

Abraço.

Nota
Os trabalhos das fotos foram feitos sobre peças de linho. Uma delas, a das alças, é linho «original» e terá bem mais de cem anos. 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O prego caibral
















A crónica de hoje surgiu depois dum passeio ao passado.
Nesta tarde fria, decidi não sair do meu aconchego.
Enquanto me ocupava com outras tarefas, viajei.
Aliás, como tantas vezes me acontece.
Gosto destas viagens.
Sobretudo quando me trazem recordações que me fizeram tão feliz.

A minha avó materna, aos oitenta e tal anos, ficou confusa.
Trocava-se toda.
O seu cérebro deteriorou-se.
Nos dias de hoje, talvez se pudesse dizer que a minha avó tinha Alzheimer ou coisa parecida.
Eu, adolescente, gostava de estar com ela, por isso, estava sempre muito presente.
Gostava de a ouvir e brincar com ela.
Sei que, apesar de não me identificar como neta, gostava muito de mim.
Logo que eu chegava, começava a conversar e dizia as coisas mais desconexas que se possa imaginar.
   
Contava-me muitas histórias imaginárias sobre a sua própria vida.

Um dia perguntou-me quem era eu.
- Sou sua neta – respondi.
Muito ofendida, disse logo.
- Eu nunca me casei! Não é que não tivesse quem me quisesse!... Mas eu nunca fui nessa! Quando morrer, ainda levo o raminho da palma!!!

Queria ela dizer que ainda era virgem!
Levava a mal quando eu, de riso fácil, me largava a rir.
A minha avó foi sempre uma pessoa recatada, mas depois, com a doença, transformou-se. Metia-se com quem passava e dizia as coisas mais inesperadas.
Dizia por exemplo, quando uma mulher com a higiene menos bem feita aos sovacos passava por perto:
- Olha aquela! Leva ali o ninho da carriça!...
Às vezes deixava-nos embaraçados.

Se eu aparecesse de saltos altos e finos, dizia me:
- Ó menina, como é que consegue andar assim, em cima desse prego caibral?

Era querida a minha avó Maria Isabel.
Chamava-me simplesmente «menina», tratava-me por «vossemecê» e queria-me bem junto dela.

Falava, falava, falava.
Dissertava sobre o que, na hora, lhe passava pela cabeça. 
Pura ficção.
Bons tempos eu passei com ela!

Abraço.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Quando o olhar entristece















É agradável quando olhamos alguém, e deparamos com um olhar luminoso.
Um olhar que fala por si.
Com brilho, límpido.
Um olhar que traz ao rosto uma luz que irradia bem-estar.
Que sorri sem sorrir.
Que dá ao rosto um brilho radiante.
Que apetece admirar e até às vezes invejar.
No bom sentido, claro.

Isto acontece quando se está bem na vida.
Quando se está feliz.
Feliz e preenchido.
Sem nada que ensombre o espírito.
Para muita gente seria preciso pouco.
Bastar-lhes-ia estabilidade e o suficiente para o dia a dia.

No momento presente, dificilmente se consegue uma visão destas.
Existe, sim, desânimo.
Falta de esperança e um futuro interrogado.
Numa situação assim, o olhar deixa de brilhar.
Em vez de luminoso, o olhar fica triste e baço.
Como o de quem navega no escuro e não conhece o amanhã.

Quando será que os olhares voltarão a brilhar?

Abraço.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A aposta na educação






















Desde sempre e às vezes ainda hoje, a falta de educação, formação intelectual e preparação dos cidadãos foi e é, razão para que por vezes ainda haja cidadãos
pouco preparados e a agir de forma menos própria.
Sem bases, a grande maioria foi e é criada mais ou menos ao sabor do instinto.
Muitas vezes, também, das necessidades e das possibilidades familiares.
A educação e a cultura, elas mesmas, raramente estiveram /estão presentes nas preocupações dos responsáveis.
Por falta de conhecimento, por ignorância ou porque ainda se considera mais importante que o cidadão arranje um bom modo de vida, pois o dinheiro continua a ser o que move tudo.
Normalmente fixados nesse objectivo, somos encaminhados para o Mundo sem nos passar pela cabeça que há algo mais!
E igualmente ou mais importante.
Daí resultou uma sociedade pouco esclarecida e sem necessidade de se cultivar, de adquirir conhecimento.
Pouco preparados, vamos deitando filhos ao mundo, mais para continuar a descendência, e sem a preocupação da qualidade.
No momento em que vivemos, algumas mudanças já se operaram para melhor.
Praticamente todos estudam.
Só que esses estudos são de fraca exigência.
É só exigido passar.
O conhecimento a nível global ainda é de somenos importância.

As lacunas são enormes e lá continuamos nós em certos aspectos, muito parecidos
com o meio.  

Raramente a formação e a educação propriamente ditas estão nos horizontes.
Daí a falta de noção e de bom senso para discernirmos ainda hoje qual a melhor forma de actuar em certas situações mais sensíveis.
Qual o melhor caminho?
Depois de pensar neste assunto, só pude concluir que faltaram/faltam, as bases.
Faltou a transmissão por via umbilical.
Não há nada, ou haverá muito pouco.
Por isso mesmo, ainda hoje se age a maior parte das vezes apenas por instinto.

Só assim se percebe, o porquê de atitudes que deixam de queixo caído os mais incautos.  

Ainda hoje o problema da educação e da formação intelectual está actualíssimo.

Seria desejável que passasse a prioritário.

Abraço.

sábado, 17 de novembro de 2012

O meu momento














São neste momento dezassete e trinta e cinco.
A noite aproxima-se a passos largos.
Lá fora há uma semi-obscuridade que me convida a fazer uma pausa.
Neste fim de dia cinzento-escuro de Novembro, aqui no meu espaço ainda não se nota a presença do Outono.
As duas buganvílias, uma de cor amarela e a outra de cor vermelha, dão as «mãos».
Unidas pelo toque, parecem apelar às gentes que se unam também.

Tudo aqui ainda é verde e colorido.
Cá dentro a lareira crepita e dá à sala um ambiente morno, tranquilo e sereno.
E a noite chegou.
O céu fechou-se fortemente.
As nuvens pesadas anunciam chuva.
Eu, aqui no meu canto, faço só meus os momentos em que escrevo.
Como já reparou, nada de novo, apenas o trivial do dia a dia.
Também são necessários momentos banais.
Só nós e a nossa privacidade.
Quanto a mim, também ela necessária para o nosso equilíbrio.

Parar um pouco.
Não pensar em nada que incomode.
Dizer ou fazer apenas o que apetece no momento.

Apetece-me também agora, desejar-lhe um bom resto de fim-de-semana.
Tente não pensar na crise por alguns momentos.
Faça apenas aquilo de que gostar.

Abraço.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ver por dentro













Normalmente, quando olhamos para alguém, a tentação é fixarmo-nos no seu aspecto físico.
A partir daí, muitas vezes tiramos ilações erradamente.
Esquecemo-nos de que o aspecto físico é apenas um invólucro.
Um invólucro que às vezes não corresponde ao que parece.
Que nos passa uma mensagem que pode levar ao engano.
A tirarmos conclusões que não correspondem à verdade.

Uma avaliação apressada pode levar-nos a cometer erros.  
Julgar alguém merece cuidado e bom senso.
Um juízo de valor incorrecto, pode comprometer o futuro.
A análise deve ser feita à partida com tempo e alguma ponderação.

O que existe para lá do invólucro, o que não se vê logo à partida, é bem mais importante.
Os sentimentos, o carácter, o bom senso, a honestidade são valores demasiado valiosos para serem ignorados.
É debaixo do invólucro que estão.
E não se detectam logo nos primeiros contactos.
Só com o tempo vêm ao de cima.
O invólucro pode ser um enigma.

É só dar tempo e ir observando.

Abraço.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A crise e os humores





Nestes tempos de instabilidade, só com esforço se consegue encarar a vida com alguma leveza, e sorrir.
As dificuldades, as incertezas e a interrogação quanto ao futuro, tiraram de vez a vontade de brincar, à maioria dos portugueses.
A vida está sombria.
Embora o tempo esteja cheio de luz lá fora.

Nem o «labioso» do senhor Passos, a anafada da senhora Merkel, ou o rapidinho do senhor Relvas, devolvem o sorriso aos portugueses!
Tantas tropelias, tantos arranques falsos, ora para a frente, ora para trás, e só conseguem arrancar ou um sorriso amarelo ou uma catalinada de impropérios menos próprios.
Nem nos dão tempo para nos refazermos das surpresas! 

Não fora a seriedade da coisa, até daria para sorrir, quando a senhora Merkel disse com ar de pessoa a quem agradou o que viu, que, quando já não for chanceler, vem até cá passar férias!
Deve ter gostado das vistas que o senhor Coelho lhe mostrou no Forte de São Julião!
Que belo momento da visita!
Que regalo para os olhos pequeninos mas matreiros da senhora!

Provavelmente, nessa altura também será recebida pelo amigo que, com o pecúlio conseguido, já terá uma bruta mansão para a acolher a ela e aos seus – quem sabe!...

Vai um sorrizinho?

Que lhes faça bom proveito.

Abraço.

domingo, 11 de novembro de 2012

O cavalo e o homem


















Quando eu era criança, passava à minha porta um homem grande.
Passava montado num cavalo grande e para mim muito alto.
O homem, de chapéu de três bicos, intimidava a criança que eu era.
Ao vê-lo cá de baixo, parecia-me uma figura poderosa.
Algo de misterioso passava pela minha imaginação.
Tinha medo daquela figura.
Vista cá de baixo, parecia-me demasiado imponente e vinda de um outro sítio qualquer, que não do meu mundinho de menina.
Logo que, ainda lá longe, ouvia o trotar do cavalo, ficava em alerta.
Em alerta mas curiosa.
Meio dentro, meio fora da minha porta, via-o passar e olhava-o.
Ele, que já devia ter percebido o efeito que fazia em mim, olhava-me com um meio sorriso, que ainda o tornava mais enigmático.
Tinha medo daquele homem.
Saía do padrão normal dos homens da minha terra.
A minha ingenuidade de criança transportava-me para um mundo de gigantes, onde o perigo espreitava a cada canto.
Custou-me a habituar àquele trote de cavalo e àquele homem grande!...
Só mais tarde, já adolescente, interiorizei que aquela figura, para mim misteriosa, era apenas um lavrador abastado da minha própria terra.
O cavalo conduzia-o apenas às suas propriedades.

Ainda que desfeito o enigma, ainda hoje me impressiono, quando penso na figura grande, majestosa e imponente, daquele homem grande.

O que a imaginação de uma criança pode!... 

Abraço.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O português e as calinadas


 



Toda a minha vida levei na cabeça quando, ao expressar-me, o meu português não saía escorreito.
Foi uma luta de anos.
Valeu a pena.
Hoje sinto-me orgulhosa por nunca me ter rebelado.
Aceitei sempre com agrado as correcções e tirei o melhor proveito.
Talvez por isso esteja sempre muito atenta à forma como cada um se expressa.
Principalmente, quando se trata de alguma figura com visibilidade pública.
Ou de algum docente com obrigações de ensinar com correcção.

Infelizmente é frequente por aí.
Pessoas com responsabilidades deixarem de rastos a língua de Camões.
Ainda nunca percebi se o fazem porque acham que é uma questão de somenos importância, ou se é mesmo porque não dominam a gramática.
Falha da Escola?
Desinteresse?
É pena.
O português bem «dito» é uma língua bonita.
Difícil, mas muito bonita.
Dizê-lo bem é um prazer e um desafio.

Eu gosto muito.

Abraço.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Extractos de uma vida






















Uma pessoa que, como eu, viveu trinta e tal anos rodeada de crianças, tem sempre um sem número de estórias engraçadas para contar.
Tenho muitas.
Só por comodismo não vou ao «sótão» buscá-las e descrevê-las.
Hoje lembrei-me de uma que me vem à memória muitas vezes, pela força que teve.

Carlos era o nome da criança.

No seio familiar chamavam-lhe Càquinha.
Era de cor preta.
Três anos grandes.
Antes de entrar para o infantário, a sua vida – se é que se pode chamar vida àquilo – era passada na rua, num bairro degradado da Damaia.
No inverno, semi-nu, brincava na lama, que dava até meio da pernita magra.
A completar o cenário um permanente ranho grosso sempre a correr.
No verão a lama era substituída por um sol tórrido.
Pele ressequida e sempre com feridas.
Tinha um olhar perdido.
E muitos gestos de revolta.
Ao entrar no infantário foi um choque.
Não estava habituado a regras.
Nem sociais nem de higiene nem nada.

Calhou-me em sorte.
Foi um osso muito duro de roer.
Já estava habituada a outros casos igualmente difíceis.
Encarei o facto com um desafio difícil, mas que teve resultados compensadores.
Pus-me à prova.
Peguei nele com vontade e muita paciência.
Penso que me posso orgulhar de lhe ter sido útil.
Continuava quase sem roupa, ainda que o frio gelasse.
No primeiro inverno que se seguiu à sua entrada, não aguentei vê-lo assim e decidi arranjar-lhe algumas roupas.
Aceitou-as com relutância.
A sua pele não estava habituada.
A pior reacção foi quando tentei vestir-lhe a camisola de lã grossa, que fiz de propósito para ele!
Com fio duplo.

Logo que lha enfiei, a gritaria pôs o infantário em alerta geral.
«Mejola não, Duche. Mejola não!...»
(Camisola não, Dulce!...).

Com muita pena minha, não insisti.
Entendi-o.
Estava habituado a andar solto e aquela coisa grossa prendia-o.
Tirava-lhe a liberdade a que estava habituado.
Foi um episódio marcante, mas revelador.
Já bastavam as regras a que foi submetido.

Fiquei com a camisola na mão meio desconsolada.
Foi usada por um filho de uma colega minha.

Este caso ficou para a história do infantário.

Deixou-me a pensar.
A partir desse dia, dei ainda mais atenção ao «Càquinha».
Foi um trabalho árduo, mas valeu bem a pena. 

Abraço.

domingo, 4 de novembro de 2012

Conhecimento


 















Para mim o conhecimento resulta da sede de saber.
Ao adquirir conhecimento estou a desbloquear o cérebro e partir à procura.
De quê, porquê, para quê, onde, como?
Adquirindo-o, posso tornar-me uma pessoa mais confiante.
Mais sabedora e esclarecida.
Posso ser mais completa na relação comigo e com os outros.
Posso estar mais consciente do que quero.
Sem me deixar manipular.
Sem deixar que me amputem a inteligência.
Sem deixar que me conduzam.
Angariar mais defesas par me saber conduzir.  
Conhecimento é não ficar fechada em mim.
É a procura de tudo o que me possa enriquecer.
É juntar a minha experiência de vida á experiência de vida dos outros.

Em suma, é o caldear de saberes.

Abraço.

sábado, 3 de novembro de 2012

Por esta não esperava






















Não esperava mesmo.
Passaram trinta e sete anos.
Cabinda, Buco Zau

Duas crianças: Nuno e João.

Duas crianças em plena floresta do Maiombe.
Também elas «recrutadas» para a guerra.
Era preciso, junto com a mãe, apoiar o pai, médico.
Também ele chamado a cumprir o «dever».
Ainda hoje vejo os dois, escorrendo suor.
Massacrados com o calor.
Arrastavam-se pingando.

O João ainda com fralda e chucha.
Penso que um ano e meio.
Cabelos pretos um pouco longos, caíam-lhe em cachos.
Olhos negros grandes de carvão.
Fralda pesada de suor e às vezes não só.
Que eu mudei algumas vezes!

O Nuno, pouco mais velho.
Pele clara, cabelo louro.
Olhos grande e bonitos.
Era calmo e ponderado.
Conviviam os dois com o calor, arrastando-se todo o dia sem exigirem quase nada.
Só mais tarde iriam perceber o porquê daquele castigo!...

Que bom que tenham tomado consciência.
Conhecendo os pais como conheço, nem seria de esperar outra coisa.

Fiquei muito contente por o Nuno ter entrado em contacto.
Por o saber sensível e curioso do seu passado.
Que, como não pode deixar de ser, fará parte da sua história de vida

Obrigada, Nuno, por teres transcrito parte do meu texto no teu facebook.
Fiquei reconhecida e ao mesmo tempo surpreendida.

Que bom ter feito parte da vossa vida durante algum tempo.

Um beijo grande aos dois.

Dulce 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Sem tema





É isso, hoje não estou com inspiração.
Se é assim, porque não dou meia volta?
Olha, porque já me habituei a esta rotina e enquanto não me sento e digo qualquer coisa, parece que não estou completa.
Bom, mas quando se escreve é para partilhar, para dizer algo com interesse.
Só que hoje, parece que o meu cérebro se está a recusar a colaborar.
Porque será, pergunto eu?
Não sei, só sei que tenho como que uma nuvem, que trava o que normalmente sai sem dificuldade.
Gosto que o que escrevo me saia bem cá de dentro.
Gosto de sentir o que sai.
Gosto de o transmitir tal e qual.
Assim, em directo e sem rede.
Hoje estou meio-vazia.
Será que o dia está a influenciar-me?
Nunca gostei de meias tintas.
Está enevoado, meio sombrio e indefinido.
Há qualquer coisa que me trava o pensamento.

Sei como isto se resolve.
Vou pôr o cérebro a mexer.
O cérebro e não só.
Preciso mesmo é de puxar pelo físico.
Nada melhor do que hora e meia de ginásio.

Abraço.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Tempo para reflectir





Nem sempre, ao longo da vida, temos tempo para parar e pensar.
O tempo é demasiado preenchido e cheio de preocupações.
O que nos resta não é suficiente, nem sequer para dedicarmos a nós próprios.

Perante este cenário, a reflexão passa ao largo.
No meu caso, sempre tentei estar atenta.
Mas só agora, depois de arrumar essa fase «activa», me pude dedicar mais atentamente à reflexão séria.

Parar para pensar.

Esta frase ouvimo-la ao longo do tempo.
E até achávamos que sim, que devíamos parar e pensar.
Só que no meio de tanta ocupação, aquilo era um apelo que nos parecia longínquo e nós disfarçávamos e continuávamos na labuta.
O cérebro recebia a mensagem.
Mas acomodava-se.
Negava-se a parar, sobretudo a pensar.
Continuava meio adormecido, embalado pelos afazeres.
Convenhamos que reflectir dá trabalho!
E responsabilidade também.

No que a mim diz respeito, agora sim, nesta calma em que vivo, tento olhar, ver, pensar e concluir sem pressas nem pressões.
Nem sempre fico confortável com o que vejo.
Mas pelo menos não posso dizer que não vi.
Que não tive tempo!...
Meter a cabeça na areia, seria demitir-me de cidadã consciente e responsável.

E como o Mundo precisa de todos!
Em conjunto, seria mais fácil.

Abraço.