quinta-feira, 24 de abril de 2014

Dia inicial



«Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitemos a substância do tempo»


Sofia de Mello Breyner


E a noite e o silêncio transformaram-se no dia mais feliz 
das gentes deste pequeno País adormecido!
Não deixemos morrer esse espírto.

Abraço. 


terça-feira, 22 de abril de 2014

Primavera é vida






































Ontem, depois de uma ida ao ginásio, depois de uma merecida pausa e depois de um pequeno lanche, apeteceu-me encarar a Natureza.
Aqui muito próximo de mim, Natureza em estado puro é o que não falta.
 Por entre descidas e subidas mais ou menos inclinadas, e veredas estreitas ladeadas de arbustos, a caminhada decorreu serena, dando ainda a oportunidade ao cérebro de se  reabastecer.
A meio do passeio, já lá em cima, na parte mais alta, brotava, de um verde ofuscante de luz, um tapete colorido, que não deixaria indiferente qualquer mortal.
Não resisti e, deliciada, apanhei uma a uma aquelas espécies, que a Mãe-Natureza me oferecia. 
Observei com atenção a minúcia de cada exemplar e agradeci ao Cosmos tanta perfeição! E que bem que cheiram!
Com muito cuidado, devido à sua delicadeza, trouxe-as para casa como se de uma prenda se tratasse.
 É isso.
Uma prenda que partilho com as pessoas que gostam de mim!
Aí vão, com todo o carinho.


Abraço.

domingo, 13 de abril de 2014

Pregões




Tenho agora o privilégio de poder tomar o pequeno-almoço sentada à mesa com toda a calma, aliás, coisa a que todos deveriam ter direito. Quando trabalhava, não tinha essa hipótese…
Hoje, ao pequeno-almoço, fui surpreendida pelo som estridente da gaita de um amolador.
Engraçado! Por isto é que eu gosto de viver num meio rural!
 Assim não perco as tradições que são mais ou menos comuns a esses meios.
Numa fracção de segundos, voltei ao meu antes. O amolador!
Hoje, lembrei-me logo do seu homónimo que, de tempos a tempos, visitava a minha aldeia e que era sempre muito esperado por alguns, com problemas que só por si não conseguiriam resolver.
Os seus serviços eram específicos e dirigidos.
Pois bem, hoje com esta gaita, lembrei-me do amola-tesouras - que não se ficava por aí: fazia outras tarefas que mencionava no pregão engraçado que gritava!
Logo ao entrar na aldeia fazia-se ouvir com a gaita especial que usava e rezava/cantava assim:
-«Afiiiiiiiiiiam-se facas, amolam-se tesouras, compõem-se as varetas aos guarda- chuvas e não se enleia o arami»!...
Achei sempre muita piada a este pregão e guardei-o comigo.
Assim como outros.
Este, por exemplo:
«Há trapos, ferro velho, sebo ou lentecão pr’a vinderi»!....
Também era disto que viviam as aldeias tradicionais, enquanto corria o tempo vagaroso, saboreado e sem «stress».


Abraço.

terça-feira, 8 de abril de 2014

A Moita está bonita





A memória mais antiga que tenho desta pequena aldeia situa-se por volta dos meus cinco, seis anos.
Meu pai, um filho da Moita, levou-me com ele já ao cair da noite, a fazer uma visita à família.
Fomos no primeiro carro que ele teve. Uma carrinha Austin cinzenta.
Ao chegarmos, fui surpreendida pela negativa.
A minha imaginação de criança criou uma expectativa muito para lá da realidade encontrada!
Ao estacionar o carro, voaram-lhe para cima um bando de crianças, que o rodearam e o miravam por dentro e por fora.
Falavam todos ao mesmo tempo e comentavam entusiasmados.
Foi tudo muito estranho para mim.
A aldeia era demasiado pequena, se comparada com a minha.
O escuro era de breu – como, aliás, em todas elas na altura.
As crianças eram mais que muitas e a gritaria também.
Fruto dos amores e talvez da falta de outros envolvimentos, floresciam em escadinha.
Para sairmos, teve que o meu pai abrir caminho, enquanto o grupo rodeava o veículo e o mirava por todos os lados.
Não me lembro de mais nada.
Apenas esta imagem.
 Só mais tarde meu pai me explicou a razão da curiosidade daquelas crianças.
É que na Moita, e porque não era uma aldeia de passagem obrigatória, só muito de vez em quando aparecia um carro. Logo, era natural a curiosidade das crianças.
Fiquei com aquela imagem durante muitos e muitos anos!
Quando, não há muito tempo, por lá passei, a surpresa foi ao contrário.
Como tudo era diferente naquela terra! Está bonita e organizada.
Limpa e cuidada.
Impressionou-me «a luz» das casas pintadas muito claras: a sua luminosidade surpreende.
Desta vez, poucas crianças por lá vi!
A fraca procriação, a desertificação, a crise, a televisão e outros meios de comunicação, terão a sua cota parte de responsabilidade!
Interessa é que houve uma grande mudança para melhor, nesta aldeia beirã onde tenho ainda um bocadinho de mim.
Gostei de ver.


Abraço.

domingo, 6 de abril de 2014

Um passeio higiénico


























«…Quantas noivas ficaram por casar, para que fosses nosso, ó mar!...»

Estava hoje muito activo o «gigante».

Estavas revoltoso, e batias com força nas rochas milenares, que aguentavam firmem as tuas investidas.
Não percebi se aquela actividade era uma manifestação de alegria pela presença da Primavera ou se era apenas uma forma de exteriorizares a energia acumulada ao longo inverno.
O sol resplandecente estendia os braços longos, acariciando as tuas águas de um azul que se confundia com a cor do céu.
Apesar do bulício, respirava-se calma naquela praia afastada da confusão e rodeada de uma beleza natural que atrai os amantes da calma que a natureza em estado puro proporciona.
Foram momentos de evasão e transporte para um mundo especial onde o som é apenas o marulhar das ondas.
Uma lavagem aos neurónios poluídos do lixo que tentam nos entupa a inteligência.

O mar! Aquele que dá e tira. Que nos envolve e nos machuca a alma quando menos se espera!...  


Abraço.

sábado, 5 de abril de 2014

O relógio e a vida

























Mesmo sem horários rígidos, ainda hoje me sinto mais ou menos escrava do relógio.
Que horas são? Já são horas!... É às tantas horas!...
 É assim que a vida é feita. Tudo na base do relógio e das horas.
Obedecendo de forma mais ou menos rigorosa, lá andamos nós comandados pelo relógio.
Objecto dominante este!
Com ou sem tic…, tac…, está presente em todos os momentos da vida de cada um!
Como seria a vida sem ele?
Como seria andar à deriva e sem orientação?
 A ideia mais remota que tenho deste utensílio é da casa de minha mãe.
Um velho relógio de parede, que batia as horas de quarto em quarto de hora.
Tinha um som melodioso, calmo e quase dolente.
Lembro-me que ainda era daqueles a que tinha que se dar corda.
Quando a minha mãe se esquecia, o som das badaladas deixava de se ouvir.
Era de uma forma quase urgente, que ela corria e lhe repunha as forças de que ele precisava.
Dizia ela que a casa sem aquele som ficava triste.
Um pouco mais tarde, apareceu o relógio da Torre da Igreja.
Esse, então, comandava de uma vez as vidas da aldeia.
A memória mais forte que tenho dele é das tardes de verão de verdadeira canícula.
Tardes silenciosas, eram «acordadas» do seu recolhimento, com um dlão!...dlão… dlão!... forte, que se alongava pelas ruas desertas e recolhidas na sua pacatez.
Objecto chato por vezes, mas de grande utilidade na programação da vida.  


 Abraço.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Nostalgia





















Nem sempre a nostalgia é uma atitude de tristeza.
Pode ser um percorrer de lembranças que nos preenchem o espírito, que nos ajudam a um encontro connosco e com outros, de quem gostamos e com quem partilhámos momentos felizes.
Podem ser momentos que nos envolvem com o passado distante e que deixou lembranças boas.
Que, no nosso recato, nos levam a recriar e quase a dramatizar situações vividas.
Nesses momentos de devaneio bom somos, às vezes, surpreendidos com um sorriso inesperado e doce.
Aqui, no meu canto quente, é muito fácil ser levada em viagem!
 Num dia como o de hoje, frio e chuvoso, nada melhor do que um pedaço de casa quente e aconchegante.
A um canto, uma lareira-salamandra tosca crepita.
Acolhe-nos e envolve-nos com a chama e as ondas de calor que dela emanam.
 O som do seu crepitar ajuda ao arranque para paragens e caminhos bem delineados, claros e rectilíneos.
A paz interior que nos invade é suficiente para esquecer por largos instantes as agruras de hoje.
Esquecer os maquiavélicos e os insignificantes que, com o seu chicote invisível, nos zurzem e tentam reduzir a nada.
Só por isso, já valeu a «viagem»!

 Abraço.