terça-feira, 8 de abril de 2014

A Moita está bonita





A memória mais antiga que tenho desta pequena aldeia situa-se por volta dos meus cinco, seis anos.
Meu pai, um filho da Moita, levou-me com ele já ao cair da noite, a fazer uma visita à família.
Fomos no primeiro carro que ele teve. Uma carrinha Austin cinzenta.
Ao chegarmos, fui surpreendida pela negativa.
A minha imaginação de criança criou uma expectativa muito para lá da realidade encontrada!
Ao estacionar o carro, voaram-lhe para cima um bando de crianças, que o rodearam e o miravam por dentro e por fora.
Falavam todos ao mesmo tempo e comentavam entusiasmados.
Foi tudo muito estranho para mim.
A aldeia era demasiado pequena, se comparada com a minha.
O escuro era de breu – como, aliás, em todas elas na altura.
As crianças eram mais que muitas e a gritaria também.
Fruto dos amores e talvez da falta de outros envolvimentos, floresciam em escadinha.
Para sairmos, teve que o meu pai abrir caminho, enquanto o grupo rodeava o veículo e o mirava por todos os lados.
Não me lembro de mais nada.
Apenas esta imagem.
 Só mais tarde meu pai me explicou a razão da curiosidade daquelas crianças.
É que na Moita, e porque não era uma aldeia de passagem obrigatória, só muito de vez em quando aparecia um carro. Logo, era natural a curiosidade das crianças.
Fiquei com aquela imagem durante muitos e muitos anos!
Quando, não há muito tempo, por lá passei, a surpresa foi ao contrário.
Como tudo era diferente naquela terra! Está bonita e organizada.
Limpa e cuidada.
Impressionou-me «a luz» das casas pintadas muito claras: a sua luminosidade surpreende.
Desta vez, poucas crianças por lá vi!
A fraca procriação, a desertificação, a crise, a televisão e outros meios de comunicação, terão a sua cota parte de responsabilidade!
Interessa é que houve uma grande mudança para melhor, nesta aldeia beirã onde tenho ainda um bocadinho de mim.
Gostei de ver.


Abraço.

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