terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Na minha aldeia

















Nestes dias mais ou menos festivos, é inevitável o meu pensamento não voar.
Desta vez foi até à minha aldeia de então.
Era uma aldeia quieta e silenciosa.
Em dias de chuva como o de hoje, era também deserta.
Quase fazia lembrar uma aldeia onde, a qualquer momento, um filme fantasmagórico iria acontecer.
Nas ruas, para lá da chuva que zurzia tudo o que encontrava pela frente, havia no ar um cheiro intenso a fumo.
Até isso era meio misterioso e agradável.
Era um cheiro genuíno e forte e selvagem.
Dentro de cada casa, a lareira era a protagonista.
Sem ela, diria eu, seria insuportável viver ali.
Por isso era tão adorada, tão querida e tratada com tanto desvelo.
À sua volta, teciam-se estórias e romanceavam-se acontecimentos.
Quase sempre os antepassados já desaparecidos eram os protagonistas.
Desde quadrilhas que assaltavam pela calada da noite, a proezas acontecidas, tudo servia para ocupar e animar o grupo.
 A lareira era o centro do convívio saudável daquela época.
 Havia sempre alguém que fazia o papel de animador.
Às vezes até penso que aqueles serões se transformavam  em verdadeira comédia à portuguesa.
Na altura não havia gente depressiva.
O convívio era alegre e muito verdadeiro.
Transformou-se a minha aldeia.
Para melhor em termos de progresso.
O resto, esse, ficou-se pelo caminho.
Na minha aldeia, num dia igual ao de hoje, alguém diria:
- Está um dia de capar cães!...
E outras expressões que, manda a decência, ficam apenas no pensamento.
A minha aldeia mudou, mas continua a ser a minha aldeia, aquela que me viu nascer e crescer.
Um ano bom para todos os que me lerem.


Abraço.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Que não falte a saúde



















Este ano que termina amanhã não deixará saudades à maioria dos portugueses.
Pelo menos aos que ficaram sem acesso ao trabalho que lhes trazia o sustento.
Aos que, ainda que trabalhando, viram os seus rendimentos reduzidos drasticamente, sem apelo nem agravo.
Aos idosos, com reformas de miséria e que, ainda assim, foram «assaltados», humilhados, esquecidos e a sentirem-se empecilhos sem préstimo.
Aos jovens, que sem oportunidades no seu país, se viram obrigados a emigrar e a deixar para trás todos e tudo aquilo que amavam.
Às crianças, que por via de tudo isto, andam mal alimentadas – ao ponto de desmaiarem de fome nas escolas.
Às vidas desfeitas.
Às famílias separadas!
Ao desafecto em que tudo isto poderá resultar!
Para quê?
Para encher os bolsos de alguns e o ego de outros?
Alguém, para lá desses senhores, vê alguma luz no horizonte?
O que é que nos aguarda no futuro?
Haverá algum motivo para ter esperança?
Despedirmo-nos deste, sim, mandá-lo para bem longe.
Mas… festejar o que vem?
Não vejo por quê.
No meio deste lodaçal, o que mais poderemos desejar é que não nos falte a saúde.

Abraço.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Quando os afectos são curtos

























Estamos sempre rodeados de muitas pessoas, cada uma de sua espécie.
Quando se é uma pessoa de afectos, sofre-se com isso mais do que se devia.
Sobretudo quando nos damos conta de que há entre quem nos rodeia pessoas frias e indiferentes.
Distantes e que não nos envolvem.
Não nos mostram nem réstia de ternura.
Quando nunca acontece aquele abraço fraterno e caloroso.
Quando os olhos que vemos não contêm nem mostram afecto.
Quando nos damos conta de que, afinal, as relações são apenas de cortesia.
Para cumprir protocolo.
Quando não há um gesto, um sinal de amizade.
A essas relações eu chamarei relações frias e hipócritas.
Relações sem conteúdo nem alma.

Por onde andarão os afectos de que tanto necessitamos?

Abraço.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Festa na aldeia





Hoje, há festa na aldeia.
Por aqui, e nesta matéria, a aldeia está quase em estado «puro».
Sempre, no dia a seguir ao natal, fazem esta festa que é de arromba e que põe a aldeia a bulir.
Não falta o foguetório, a fanfarra, a longa procissão e, claro, a banda com o artista preferido para animar os residentes e forasteiros, com um forte bailarico.
 Tudo funciona à volta deste acontecimento que, para os locais com negócios, é um arrecadar de «divisas».
As beldades aproveitam o dia para se passearem com os modelitos novos e porem em ebolição a cabeça dos olhudos do físico.
É a tradição quase sem adulteração.
Penso que tudo isto será para se limparem um pouco da época do verão, em que o turismo abafa e lhes retira a privacidade e o protagonismo.
À parte os foguetes, que eles teimam em manter, os festejos são feitos no largo principal, deixando tranquilos os apreciadores do recato.
 Em fundo, temos o som do mar que ruge, mas, nestas condições, chega abafado e não leva a melhor.
Tem o ano todo para se exibir.

Abraço.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Não esqueças…
















Aqui em casa aconteceu Natal.
Como sempre, tentámos transportar para este tempo o natal genuíno.
Apreciamos degustar o sabor verdadeiro.
Um arremedo, cheio de boa vontade e empenho.
Começa com a preparação do cenário.
Alguidar e todos os ingredientes necessários bem juntos, no local do evento.
Será que não falta nada?
Não esqueças o fermento.
E o sal?
Olha o azeite, a laranja…
E, tudo confirmado, começa o ritual.
A força do braço é muito importante para que a massa fique bem trabalhada.
O segredo?
Bom, os segredos são vários.
Diria que a prática e a sensibilidade nas mãos são os principais.
Enrolado o «bebé» numa manta quente, a lareira espera-o com o seu calor que o vai fazer crescer e ganhar corpo.
A frigideira de zinco, já está no fogo e espera a iguaria uma a uma que, pacientemente é depositada e guardada como se de um tesouro se tratasse.
Dá gozo ver o resultado final.
O chá já espera e a prova faz as delícias de quem as aprecia.
Um ritual bonito.
Sem ele, para mim, não haveria natal.


Abraço.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Bom Natal / Boas Festas



Para todos os que ao longo de três anos de blog me têm acompanhado, desejo um Feliz Natal e um Ano Novo com muitos amigos e cheio de saúde.


Abraço.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Um antepassado famoso



Este senhor é o meu bisavô. Era Abade do Sabugal no final do séc. XIX / princípio do séc. XX, ao que sei... E não se portou lá muito bem com os filhos que teve com a minha bisavó. Isso era contado com revolta pelo meu pai e pelos meus tios, quando eu era pequenita.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O sonho

 



Não sou muito de sonhos, sejam eles do tipo que forem.
A vida já me ensinou que o melhor é viver um dia de cada vez sem grandes floreados.
Só que uma destas noites foi diferente.
Fui «agarrada» para um local, onde a algazarra e a «festança» eram a palavra de ordem.
«Aterrei» ali sem saber como nem porquê.
Nada daquilo me dizia nada, nem sequer me identificava com aqueles seres, nem com o tipo de convívio.
Apesar disso não tinha como sair.
Porquê, não percebi.
Aquela interacção era entre seres estranhos e medonhos.
Seres minúsculos de atitude, feios e pegajosos.
Eram uns seres que poderiam ser… de outro planeta.
Comiam alarvemente, riam aos berros, e babavam-se, lambuzando-se entre si.
Era estranho. Tudo soava a falso.
Diria eu que era uma festa feita de alegria oca e postiça, sem qualquer verdade.
Eu, confusa, deslocada, assistia àquilo contrariada, sem conseguir compreender como ali tinha ido parar.
Dei comigo a imaginar se aquela coisa não seria mais uma aberração do desgoverno do país onde eu pertencia!
Foram momentos pesados, aqueles.
Quando acordei, e já no mundo real, pensei:
- Que confusão! Então aqueles seres eram os governantes eles mesmos!
Não são todos eles, um mundo de seres «pequeninos», esquisitos e pegajosos?
Aí, acalmei.
Uf! Sonhos...


Abraço.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O mar




Quando o mar está um pouco agitado, ouve-se nitidamente o seu rebolar aqui em casa.
Naquela noite foi demais.
Ele não só rebolava, como troava.
Mesmo aqui, a uns escassos três ou quatro quilómetros, impunha alguma apreensão.
Devo confessar que a minha noite foi até um pouco menos serena do que o costume.
Ao acordar, deparei com a notícia trágica, da «ceifa» de seis vidas ainda jovens.
O mar, pelo menos este que tão bem conheço, pode ser um grande amigo, um grande confidente e recebe todos de portas escancaradas.
Mas tem o seu brio.
 Gosta que reparem nele.
Precisa de se espreguiçar, de alongar e deitar fora a raiva que sente.
Faltas de respeito não.
Ignorarem-no, olharem-no sem o ver?
Afinal ele é uma potência!
Serve-nos a todos!...
Aqueles jovens, pela certa, não o viram.
Não mediram as consequências do tão poderoso.
A idade, a alegria de viver têm destas coisas.
A falta de experiência de vida não deixa tempo para o essencial.
Os livros por onde estudam, não lhes transmitem estes códigos de conduta.  
Tão jovens e com tantos projectos!
 Isso, o mar não entendeu.
 Estava demasiado zangado.


Abraço.

domingo, 15 de dezembro de 2013

É difícil

 



Quando comecei nestas coisas da escrita, uma das primeiras regras que aprendi foi aquilo que hoje vou escrever.
Se puder ser útil a quem vai começar, ficarei feliz.
A regra é a seguinte: a palavra, quando escrita e publicada (e esta é a minha opinião), nem sempre chega a quem a recebe como desejaríamos.
A mensagem nem sempre é clara.
Ou, cada um que nos lê interpreta e sente à sua maneira.
A palavra, quando sai de nós, não mais é controlada.
Ficamos felizes quando o que expressamos é entendido como o sentimos.
Ficamos com um certo amargo de boca quando verificamos que não nos entendem, que fazem um juízo completamente ao lado do que escrevemos e desejaríamos que fosse entendido.
Terá sido falha nossa? Poderíamos ter sido mais claros?
Também acontece que, às vezes, falamos de assuntos que não são propriamente do agrado de quem os lê. Aí, é bem mais cómodo ignorar e/ou fingir que não se entende!...
A liberdade de expressão e de pensamento já foi, em tempos tenebrosos, proibida.
Hoje, graças à conquista da liberdade, é um direito que nos assiste.

Se tivermos isto em consideração, ganhamos todos.


Abraço.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

É preciso preservar

















Aqui por casa ainda vamos tentando preservar as tradições.
Da maneira mais simples e original, com a prata da casa e alguns materiais de desperdício, pusemos hoje de pé o nosso presépio e completámos a árvore de Natal.
Um Natal simples e tosco.
Tentámos que se aproximasse o mais possível do presépio pobre, da cabana em que, segundo a tradição, Jesus nasceu.
Aproveitámos uma árvore de Natal verdadeira que temos no quintal, e pusemos umas luzinhas para dar um pouco mais de colorido e para a tornar minimamente visível à noite.

O presépio está num canteiro (uma antiga manjedoura), lá fora, num pequeno jardim que circunda a casa.

Um Natal sem pretensões.
Um Natal modesto.
 Como achamos que deveriam ser todos os natais.
Um Natal com uma ceia tradicional e com a feitura das filhoses uma a uma na frigideira de folha de zinco.
 Um Natal em que a família e os amigos estarão, de certeza, em primeiro plano.

P.S. - Preserve também a tradição.


Abraço.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Estava frio




O rumo foi o Cabo Espichel.
Àquela parte do Cabo tranquila e calma que tanto nos agrada.
O ar cortava. Ainda assim, saí do carro e comecei a caminhar.
No ar, um cheiro a mar e campo.
A extensão visual não tinha princípio nem fim.
O sol descia lentamente com viagem marcada para outros mundos.
Parei, observei e absorvi a Natureza.
Nunca é demais olhá-la e senti-la.
Aquela beleza natural («posta ali» por quem?) impressiona-me sempre.
Descubro sempre mais qualquer coisa.
 Deparei comigo, mais uma vez, a olhar aquela arriba gigante que enfrenta o mar.
Os tempos (os milénios) têm ajudado na sua formação.
Os traços esculpidos são perfeitos.
De tez morena, aqui e ali alguns dourados, faz pensar em como é possível que o tempo e a erosão a tornem cada dia mais atraente.
De traços rugosos e formas perfeitas.
A sua pose imponente faz com que nos sintamos ainda mais pequenos.
Enfrenta o mar aquela arriba.
E ele aproveita-se. Bate nela, às vezes com raiva.
Empurra-a, mas ela é firme. Protege-o, serve-lhe de apoio.
As suas pancadas, fortes e viris, ora castigam, ora são carícias prolongadas e suaves.
Uma relação que vem detrás e que prevê muito futuro.

É bom passear um pouco pela Natureza e também pela imaginação!...
O espírito veio mais rico para casa.

Abraço.

domingo, 8 de dezembro de 2013

O verdadeiro Natal





















Era e ainda sou fascinada pelo Natal.
Pelo Natal autêntico, o que se vivia nas aldeias.
O Natal ingénuo, despretensioso, puro e sem consumismos.
O Natal quente de emoções e afectos.
Aquele natal que dava prioridade à família, ao convívio e à fraternidade.
Sem adulterações, sem importações nem imitações deslocadas e desencaixadas.
É desse Natal que ainda gosto.
Da azáfama que antecede o dia.
Da noite da consoada.
Do lume com grandes arrumadouros, da panela de ferro pronta para receber as batatas, o bacalhau e as couves brancas queimadas pela geada.
Do ritual da amassadura das «filhózes».
Do entusiasmo, da preocupação para que nada esquecesse.
Da mãe a amassá-las com o suor a correr pelo rosto, apesar do frio na rua.
Que saudade desse Natal, em que a família rodeava a fogueira para o chá e a prova do acepipe acabado de fazer: filhós feitas em grande frigideira e com azeite da terra!  
Esse Natal que me tirava o sono, à espera da prendinha simbólica que me deixavam no sapato junto da lareira!
Esse é o Natal dos meus encantos.
Era o que me enchia o coração e a alma.
Para onde mandaram esse Natal único?

Abraço.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Inesquecível





Morreu um Homem Bom.
Um Guerrilheiro.
Uma pessoa de corpo inteiro, que não abdicou nunca da sua dignidade.
Não se vendeu nunca a troco de nada.
Um exemplo de honradez, coerência, força revolucionária e um humanista para guardar sempre na nossa memória.
Uma referência a não perder.
Até sempre, Madiba.

 Abraço.  

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Partilha

 


A palavra partilha (de partilhar) agrada-me muito.
É uma palavra que me leva até aos outros.
Significa para mim despojamento e generosidade.
 Não é fácil nos tempos que correm a aproximação entre as pessoas.
Somos todos demasiado individualistas e egoístas, para sairmos de nós e darmo-nos aos outros, apenas um bocadinho.
Só que para isso, seria preciso sacrificar alguns destes epítetos que referi e sermos mais disponíveis e generosos.
Seria preciso partilharmos com os outros um pouco do nosso tempo, da nossa amizade e da nossa sensibilidade.
Seria preciso abdicar e saber ouvir e, se necessário, ajudar.
Saber traduzir.
Só que este mundo frio convida à indiferença.
Convida ao isolamento.
A tendência é fecharmo-nos.
Fecharmos os olhos e trancarmos o cérebro.
Enquanto isso, vamos cultivando orgulhos e sentimentos que não nos trazem nada de bom.
É pena.
O convívio saudável e tranquilo de há umas décadas, seria óptimo para evitar depressões e trazer-nos a alegria e o entusiasmo de volta.
Peço desculpa pelo desabafo.
Foi apenas uma pequena reflexão.
Este blogue também tem esta vertente.
Partilhem.


Um abraço.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Não há machado que corte…















O poeta tem razão mesmo.
«Não há machado que corte a raiz ao pensamento» (Manuel Alegre).
Aqui, no meu canto calmo e quente, e enquanto oiço a lareira a crepitar, os gatos a ronronar e uma música de que gosto em fundo, o meu pensamento vai voando.
Sempre, durante o Inverno, há momentos de maior introspeção.
As condições, pelo menos no meu caso, são propícias.
Neste silêncio saudável e aconchegante, as lembranças fluem.
Umas muito boas, outras nem tanto; umas que deixaram saudades, outras que marcaram fundo… eis que se apresentam e me levam ao encontro de tantos caminhos que em tempos já percorri e que, diria até, já estão gastos de tanto usar.
Ainda que seja uma frase feita e corriqueira, a verdade é que «recordar é viver»!
E quando se recorda de uma forma saudável, as recordações podem ser úteis.
Podem até, penso eu, ajudar a fazer a catarse que, quantas vezes, é necessária.
 Necessária, só que difícil.
Parecendo um bicho feio tímido e medroso.
Para isso são precisas condições.
Neste momento, e no meu caso, tenho-as mesmo.


Abraço. 

domingo, 1 de dezembro de 2013

Coisas da técnica






Durante toda a minha vida, nunca me atraíram as técnicas virtuais.
Sou muito terra-a-terra, sou muito de sentir bem de perto aquilo que faço.
Gosto de tocar aquilo de que gosto.
Digamos, então, que sou uma pessoa bastante exigente nas relações e que preciso bastante de sentir, e de ver em directo e ao vivo.
Preciso de ver as expressões, de ver os olhos, de sentir o toque.
Preciso de sentir a ternura a saltar dos outros para mim, e preciso que sintam a minha.
 Talvez por isso, esta coisa das máquinas frias, sem expressão e impessoais, nunca me tivesse seduzido.
Apenas há três anos (vai fazê-los em agora em dezembro), alguém na brincadeira me desafiou para criar um blogue.
Ri-me com gosto e disse:
- «Não tenho cacifo para isso»!
Mas…cá no fundo, no fundo, a ideia ficou a bailar.
Passou a ser um desafio a mim própria.
Adoro escrever, preciso de comunicar e não sou de tagarelar com os vizinhos as minhas preocupações, alegrias e angústias.
Este computador tem-me servido de confidente e amigo e não me tenho dado mal com isso.
O mais engraçado é que há quem goste.
Agora, aderi ao «Face».
Nunca me imaginei!
Estou a dar os primeiros passos, ainda inseguros, mas estou a achar muita piada – mesmo.
Vão saltando amigos a cada momento.
Amigos de sempre e dos bons, ainda que, por motivos que não vêm a propósito, tenhamos estado muito tempo sem contactar.
Obrigada a todos e …gosto de vos sentir, ainda que à distância.


Abraço.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O frio



Cheira a frio lá fora.
O vento vindo não se sabe de onde assobia ameaçador.
A natureza verga-se perante a crueza da temperatura.
Os pássaros, ainda há pouco com tantos piu-pius…, recolheram-se e fizeram silêncio.
Os gatos fazem rom-rom… enquanto se enroscam e se entregam aos prazeres e ao conforto do calor.
Até os cães emudeceram.
Procuram o soalheiro, talvez armazenem calor para o rigor da noite.
E que rigorosa deve ser!
A natureza ameaça ser implacável.
Um pouco mais distante, ouve-se o mar.
O mais forte, o que domina.
O que não tem frio.
O que é indiferente aos gelos e aos ventos.
Ele aguenta, o gigante.
Sempre que precisa, procura as rochas e abraça-as.
Abraça-as com os seus braços grandes de todo poderoso.
Também ele tem os seus momentos de ternura.

E os sem-abrigo?
Para esses os braços do Mundo são curtos!...
O frio!
O que faz falta para queimar os micróbios, mas…alguns escapam!...


Abraço. 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A verdade




Há quem pense que a verdade é sua propriedade.
Então na «internet» vê-se cada cromo.
Mas, pensemos melhor.
Alguém será dono da verdade?
Alguém terá o direito de impedir outros de terem os seus pontos de vista sobre seja o que for?
Alguém se sentirá tão sabichão que não admita a discussão e o diálogo, ainda que discorde?
Alguém terá o direito de pôr em causa a seriedade e a boa intenção de quem nem sequer conhece?
Penso que haverá aqui um equívoco.
A verdade de uns poderá não ser a verdade de outros.
Manda o bom senso que, perante várias opiniões, se respeitem todas e que, ou se dê mais uma ou então se guardem os apoios para serem dados em privado.
Pôr em causa a palavra dos outros, apelidá-los de mentirosos ainda que indirectamente, não me parece de gente bem formada e generosa.

Cultivem-se, gentes.
A conversar é que a gente se entende.


Abraço. 

sábado, 23 de novembro de 2013

O ribeiro da minha rua



Gosto de ter memórias.
Gosto de constatar que tive um ontem que me deu imenso.
Desde alegrias a vivências cheias de conteúdo afectivo e até às aprendizagens em directo.
Tudo isso tem preenchido e completado a pessoa que sou.
De vez em quando, recordo lugares e factos que me foram tão familiares!
Que me deixaram na memória cheiros, sons, e saberes tão enriquecedores e tão inesquecíveis.
Hoje, como já me tem acontecido tantas vezes, lembrei-me do ribeiro da minha rua.
Aquele ribeiro corria quase todo o ano.
Uma água cristalina, que marulhava suavemente e escorria terras abaixo ao encontro de outros que encontrasse pelo caminho.
Era muito útil aquele ribeiro.
Fizeram de parte dele uma pequena represa onde foi lavada a roupa de muitas famílias.
Sem máquinas de lavar, era naquela água corrente que se lavava e era num espaço envolvente que se branqueava a roupa, que chegava muitas vezes marcada pelo trabalho duro do campo.    
Dava gosto olhar e cheirar aquelas peças.
Qual lixívia, quais detergentes!
As mãos, a água, o sabão em barra (azul e branco ou cor-de-rosa e branco) – e o sol eram o milagre!...
 E o convívio?
Digno do filme «A aldeia da Roupa Branca».
De línguas afiadas todo o tema servia para nem sequer se darem conta da pesada tarefa.
E as cantigas? Havia sempre uma que as berrava (a cantar, bem alto).
De joelhos, a roupa levava voltas quase intermináveis.
Só quando estava da cor do sol, é que repousava finalmente no fundo dum cesto ou alguidar, de regresso a casa.
O ribeiro da minha rua.
Quantas loucuras, quantas gargalhadas, quantos segredos, tu guardaste.
Era o teatro, eram as tertúlias, eram as conversas de escárnio e maldizer da época passada.
O ribeiro da minha aldeia, no seu eterno marulhar.
Poético, aquele som.

Abraço.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Simbólico, mas…








Aquela manifestação de força ontem em frente ao Parlamento, não pode nem deve ser menosprezada.
Estava ali perante nós, qualquer coisa que impunha respeito.
As forças da ordem, unidas numa demonstração de poder, como já há muito não se via.
Aquelas forças poderiam ter deixado um rasto de tragédia.
Não, não quiseram, foi apenas simbólico, alguém disse.
Reinou o bom senso.
Teria sido muito fácil entrar, pegarem pelos imaculados colarinhos de suas excelências e pregar-lhes o maior susto das suas vidas.
Pouparam-nos à humilhação.
Diferentes deles, que nos humilham a todos, retirando-nos os mínimos e brincando com a nossa dignidade, indiferentes e calculistas.
Ainda não foi desta.
Controlados e conscientes, estes quadros!...
Mas até quando se aguentarão?
A vida está transformada num filme de terror.
O futuro é incerto.
O ordenado não chega para o que é prioritário.

E o que fazem os que nos desgovernam?
O do topo já veio dizer que não cede a pressões, o boneco de gelo!...
Só faltou dizer que não tem dúvidas e raramente se engana!
Fantoche!...

Onde vamos parar?


 Abraço solidário.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Estados de alma



De repente, e sem que nada o fizesse prever, eis que a nossa vida se transforma.
Tudo aquilo de que gostamos e que por rotina fazemos no nosso dia-a-dia se altera.
Um agente exterior intrometido, inoportuno e chato, infiltra-se e toma conta da nossa pacífica e mais ou menos rotineira existência.
O necessário fica por fazer, o que nos dá prazer deixa de dar, e avida fica uma coisa sensaborona não sabendo mais a vida.
Parou tudo.
O vírus, o «bicho» peçonhento, toma conta.
Mete-nos na cama, põe-nos meio anestesiados, e o «bicho», feliz, salta à nossa volta.
Regalado, vê-nos sorumbáticos, febris, sem vontade – e goza, o desgraçado.
Por uns dias, é uma festa para ele.
Ele é quem manda, nós somos apenas os depósitos dos seus «vermes» minúsculos, mas potentes.
É assim que tenho estado.
Possuída por esses seres invisíveis.
Há seis dias que não piso o chão da rua, que não respiro o ar de que tanto gosto. Há seis dias que o sol não me presenteia com a alegria da sua luz.
 Peçonhento, repelente e sádico vírus.
«Vá de retro», que eu já tenho a minha dose.
   

Abraço.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Não dá para acreditar



Hoje, ao espreitar os facebooks, passei pelo da aldeia da Moita-Sabugal, como aliás faço quase todos os dias
Sou do Casteleiro, a quatro quilómetros dessa aldeia e, para lá disso, tenho lá metade das minhas origens, de que me orgulho muito.
Os meus avós, meu pai, os meus tios nasceram lá e uma parte significativa dos meus primos também.
 Bom, calmamente, deparei-me com uma música metida por um seguidor, de que por acaso gostei e ouvi.
Surpresa das surpresas, logo a seguir dei com uma advertência de alguém que deverá ser um dos responsáveis da página, dizendo que iria retirar a música por não dizer respeito à Moita.
Não acredito.
Como assim?
Que imposição é essa?
O senhor deve estar a ver mal!
Será por ser um fado inovador e arejado de Pedro Moutinho em parceria com a jovem Mayra Andrade?
Qualquer coisa bafienta seria aceite?
Francamente.
Tanta tacanhez junta, vinda de uma pessoa que, segundo quer fazer crer, teria mais obrigações, é demais.
Atenção, Moita Jardim, terra de boa gente!
A Moita também merece qualidade.
Quero continuar a orgulhar-me de parte das minhas origens!

O leitor poderá ajuizar: vou deixar-lhe aqui o fado em causa.


Abraço.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Presentes da Natureza



Nesta altura do ano, a Natureza transforma-se.
O sol brilha, o ar fica mais fresco e as cores são rainhas.
Sabe bem receber o ar fresco e leve na cara.
Sabe bem ver os raios de sol estenderem-se sobre os campos húmidos, acariciando a terra. É bom ver como respiram vida e soltam do seu ventre, o que durante o verão guardaram ciosos.
Depois, paremos um pouco.
O «dégradé» de cores que se nos apresenta é de uma beleza extrema.
Do verde ao amarelo, passando pelo tijolo e pelo castanho, temos à nossa frente uma tela que faz inveja ao maior dos criativos da cor.
A Serra da Arrábida é um dos sítios ideais para regalar os olhos.
Aí, sim, o «dégradé» acentua-se e quase emociona.
Os vários tons que já referi são recebidos pelo oceano que os absorve e os transforma em tons de azul luxuriante.   
 Pelo menos a Natureza que nos mime com tudo o que tem de verdadeiro.
  

Abraço.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O céu na aldeia



A imensidão que nos cobre oferece-nos um mundo de magia.
Dependendo do tempo, são imensas as imagens que nos oferece o espaço aéreo.
 Apenas precisamos de tempo e sensibilidade para observar.
É bonito darmo-nos conta dos traços únicos, inéditos, exclusivos, às vezes meio abstratos, que as nuvens desenham no céu.
A aldeia é um sítio privilegiado para essa observação.
Sem poluição, temos à nossa frente um mundo de fantasia.
É bom, de vez em quando, virarmos a nossa atenção para o belo com que nos presenteia a natureza.
Se for possível, aproveitar momentos de silêncio e algum intimismo.
Deixar a imaginação fluir e saborear.
Poderá parecer imaginação excessiva, delírio, loucura… o que quisermos.
Mas não, não é.
Há arte no céu que nos cobre.
Uma arte natural e sem retoques finais.
Apenas arte.
Assim, em estado puro e único.


Abraço.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O magusto



O tempo era de frio intenso.
Ainda que o sol aparecesse, era gelado o ar.
Trespassava a pele envolvida por agasalhos (os que os tinham...).
Naqueles tempos tão distantes, o outono não brincava, era rigoroso mesmo.
As aulas estavam no seu auge e o trabalho era a sério.
A escola das meninas era um pouco fora de portas.
Fosse qual fosse a temperatura, lá íamos, pequenas e franzinas, a iniciarmo-nos no saber.
Apesar da seriedade das tarefas escolares, as tradições não só não eram esquecidas, como
eram preservadas com alegria.
Era chegada a hora do magusto anual das escolas.   
Algures dentro das instalações, um cesto de verga larga aguardava os punhados pequenos mas grandes na intenção, das castanhas levadas pelas crianças, que ansiosamente aguardavam esse dia.
Era fora da aldeia que se fazia o magusto e era uma atividade lúdica que mexia com todos.
Pequenos e grandes.
No dia combinado, todos em grande algazarra (uma algazarra muito saudável), lá iniciávamos a caminhada.
A proximidade de um pinhal era o local certo.
As castanhas eram assadas no chão e a caruma era o combustível usado.
Uma camada de caruma e as castanhas espalhadas em cima, com mais uma camada de caruma alta.
Fósforo aceso – e começava a brincadeira tão esperada.
O fogo era meio caminho andado.
A euforia apoderava-se de todos.
Crianças controladas, as castanhas iam sendo distribuídas conforme se iam assando.
Não faltavam brincadeiras e mãos e caras enfarruscadas.
Com os coraçõezitos a pular de alegria,
Vivia-se um dia que ficava na memória, como pode ser constatado neste texto.
 O sabor, esse, nunca mais me passou pelo palato.
As tradições e as vivências são a nossa história de vida.


Abraço.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O dia do Aniversário das Almas



A aldeia estava quieta.
Apenas os sons normais e domésticos do dia-a-dia.
Um automóvel ou outro.
Um carro de vacas que passava a chiar, um burrito que trauteava, um porco que grunhia!...
E o cão, que na sua missão de guarda, tentava fazer-se ouvir.
Báu, báu, báu…

De repente um som sobressaía.
O sino da igreja dolente, tocava a finados.
Começava aí um marulhar de sons meio abafados, que impunham respeito.
Era o toque para o início da cerimónia anual.
A aldeia em peso deslocava-se até à igreja e ocupava o seu lugar.
Aquele espaço ficava repleto.
A cor predominante era o preto.
Os semblantes carregados seguiam os preparativos para a cerimónia.
No meio da igreja, um esquife simbolizava a morte dos entes queridos.
Um grupo de sacerdotes (talvez oito) também de preto, ora sentados ora em pé, rezavam, cantando, em latim.
Era longa, triste e dolorosa a cerimónia.
Seguia-se a missa composta de um sermão, feito por aquele que era considerado o melhor orador.
Esse orador era esforçado.
Dirigia-se ao púlpito (um lugar nobre da igreja) e falava dos que já tinham partido.
Com uma voz inflamada, falava dos mortos e ia apontando o dedo para este e aquele, na perspectiva de que todos já tinham sido atingidos.
Ouvia-se um fru-fru de roupas e corpos que se mexiam, sons abafados de choros contidos.
O orador, vermelho do esforço, tentava melhorar a sua prestação, repetindo e dirigindo-se aos que visivelmente estavam mais emocionados.
Aconteciam lágrimas, muitas, soluços mais ou menos contidos e tristezas engolidas.
Era uma cerimónia recheada de emoções exploradas.
Tétrico.

É assim que hoje e a esta distância eu rotulo o que a igreja, na sua ingenuidade (?), fazia em prol dos nossos entes queridos.
Na sequência disto, acontecia um retrocesso no luto que para muitos já tinha sido feito: voltavam as dores da morte dos entes queridos.
O dia acabava bem mais triste do que tinha começado.
O cheiro enjoativo a velas permanecia por algum tempo.

O revolver de lembranças e tristezas deixava a aldeia num silêncio que doía.

Os nossos mortos estão sempre connosco.
Será que seriam necessárias cerimónias tão tenebrosas?
Que descansem em paz.

Abraço.