quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O frio



Cheira a frio lá fora.
O vento vindo não se sabe de onde assobia ameaçador.
A natureza verga-se perante a crueza da temperatura.
Os pássaros, ainda há pouco com tantos piu-pius…, recolheram-se e fizeram silêncio.
Os gatos fazem rom-rom… enquanto se enroscam e se entregam aos prazeres e ao conforto do calor.
Até os cães emudeceram.
Procuram o soalheiro, talvez armazenem calor para o rigor da noite.
E que rigorosa deve ser!
A natureza ameaça ser implacável.
Um pouco mais distante, ouve-se o mar.
O mais forte, o que domina.
O que não tem frio.
O que é indiferente aos gelos e aos ventos.
Ele aguenta, o gigante.
Sempre que precisa, procura as rochas e abraça-as.
Abraça-as com os seus braços grandes de todo poderoso.
Também ele tem os seus momentos de ternura.

E os sem-abrigo?
Para esses os braços do Mundo são curtos!...
O frio!
O que faz falta para queimar os micróbios, mas…alguns escapam!...


Abraço. 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A verdade




Há quem pense que a verdade é sua propriedade.
Então na «internet» vê-se cada cromo.
Mas, pensemos melhor.
Alguém será dono da verdade?
Alguém terá o direito de impedir outros de terem os seus pontos de vista sobre seja o que for?
Alguém se sentirá tão sabichão que não admita a discussão e o diálogo, ainda que discorde?
Alguém terá o direito de pôr em causa a seriedade e a boa intenção de quem nem sequer conhece?
Penso que haverá aqui um equívoco.
A verdade de uns poderá não ser a verdade de outros.
Manda o bom senso que, perante várias opiniões, se respeitem todas e que, ou se dê mais uma ou então se guardem os apoios para serem dados em privado.
Pôr em causa a palavra dos outros, apelidá-los de mentirosos ainda que indirectamente, não me parece de gente bem formada e generosa.

Cultivem-se, gentes.
A conversar é que a gente se entende.


Abraço. 

sábado, 23 de novembro de 2013

O ribeiro da minha rua



Gosto de ter memórias.
Gosto de constatar que tive um ontem que me deu imenso.
Desde alegrias a vivências cheias de conteúdo afectivo e até às aprendizagens em directo.
Tudo isso tem preenchido e completado a pessoa que sou.
De vez em quando, recordo lugares e factos que me foram tão familiares!
Que me deixaram na memória cheiros, sons, e saberes tão enriquecedores e tão inesquecíveis.
Hoje, como já me tem acontecido tantas vezes, lembrei-me do ribeiro da minha rua.
Aquele ribeiro corria quase todo o ano.
Uma água cristalina, que marulhava suavemente e escorria terras abaixo ao encontro de outros que encontrasse pelo caminho.
Era muito útil aquele ribeiro.
Fizeram de parte dele uma pequena represa onde foi lavada a roupa de muitas famílias.
Sem máquinas de lavar, era naquela água corrente que se lavava e era num espaço envolvente que se branqueava a roupa, que chegava muitas vezes marcada pelo trabalho duro do campo.    
Dava gosto olhar e cheirar aquelas peças.
Qual lixívia, quais detergentes!
As mãos, a água, o sabão em barra (azul e branco ou cor-de-rosa e branco) – e o sol eram o milagre!...
 E o convívio?
Digno do filme «A aldeia da Roupa Branca».
De línguas afiadas todo o tema servia para nem sequer se darem conta da pesada tarefa.
E as cantigas? Havia sempre uma que as berrava (a cantar, bem alto).
De joelhos, a roupa levava voltas quase intermináveis.
Só quando estava da cor do sol, é que repousava finalmente no fundo dum cesto ou alguidar, de regresso a casa.
O ribeiro da minha rua.
Quantas loucuras, quantas gargalhadas, quantos segredos, tu guardaste.
Era o teatro, eram as tertúlias, eram as conversas de escárnio e maldizer da época passada.
O ribeiro da minha aldeia, no seu eterno marulhar.
Poético, aquele som.

Abraço.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Simbólico, mas…








Aquela manifestação de força ontem em frente ao Parlamento, não pode nem deve ser menosprezada.
Estava ali perante nós, qualquer coisa que impunha respeito.
As forças da ordem, unidas numa demonstração de poder, como já há muito não se via.
Aquelas forças poderiam ter deixado um rasto de tragédia.
Não, não quiseram, foi apenas simbólico, alguém disse.
Reinou o bom senso.
Teria sido muito fácil entrar, pegarem pelos imaculados colarinhos de suas excelências e pregar-lhes o maior susto das suas vidas.
Pouparam-nos à humilhação.
Diferentes deles, que nos humilham a todos, retirando-nos os mínimos e brincando com a nossa dignidade, indiferentes e calculistas.
Ainda não foi desta.
Controlados e conscientes, estes quadros!...
Mas até quando se aguentarão?
A vida está transformada num filme de terror.
O futuro é incerto.
O ordenado não chega para o que é prioritário.

E o que fazem os que nos desgovernam?
O do topo já veio dizer que não cede a pressões, o boneco de gelo!...
Só faltou dizer que não tem dúvidas e raramente se engana!
Fantoche!...

Onde vamos parar?


 Abraço solidário.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Estados de alma



De repente, e sem que nada o fizesse prever, eis que a nossa vida se transforma.
Tudo aquilo de que gostamos e que por rotina fazemos no nosso dia-a-dia se altera.
Um agente exterior intrometido, inoportuno e chato, infiltra-se e toma conta da nossa pacífica e mais ou menos rotineira existência.
O necessário fica por fazer, o que nos dá prazer deixa de dar, e avida fica uma coisa sensaborona não sabendo mais a vida.
Parou tudo.
O vírus, o «bicho» peçonhento, toma conta.
Mete-nos na cama, põe-nos meio anestesiados, e o «bicho», feliz, salta à nossa volta.
Regalado, vê-nos sorumbáticos, febris, sem vontade – e goza, o desgraçado.
Por uns dias, é uma festa para ele.
Ele é quem manda, nós somos apenas os depósitos dos seus «vermes» minúsculos, mas potentes.
É assim que tenho estado.
Possuída por esses seres invisíveis.
Há seis dias que não piso o chão da rua, que não respiro o ar de que tanto gosto. Há seis dias que o sol não me presenteia com a alegria da sua luz.
 Peçonhento, repelente e sádico vírus.
«Vá de retro», que eu já tenho a minha dose.
   

Abraço.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Não dá para acreditar



Hoje, ao espreitar os facebooks, passei pelo da aldeia da Moita-Sabugal, como aliás faço quase todos os dias
Sou do Casteleiro, a quatro quilómetros dessa aldeia e, para lá disso, tenho lá metade das minhas origens, de que me orgulho muito.
Os meus avós, meu pai, os meus tios nasceram lá e uma parte significativa dos meus primos também.
 Bom, calmamente, deparei-me com uma música metida por um seguidor, de que por acaso gostei e ouvi.
Surpresa das surpresas, logo a seguir dei com uma advertência de alguém que deverá ser um dos responsáveis da página, dizendo que iria retirar a música por não dizer respeito à Moita.
Não acredito.
Como assim?
Que imposição é essa?
O senhor deve estar a ver mal!
Será por ser um fado inovador e arejado de Pedro Moutinho em parceria com a jovem Mayra Andrade?
Qualquer coisa bafienta seria aceite?
Francamente.
Tanta tacanhez junta, vinda de uma pessoa que, segundo quer fazer crer, teria mais obrigações, é demais.
Atenção, Moita Jardim, terra de boa gente!
A Moita também merece qualidade.
Quero continuar a orgulhar-me de parte das minhas origens!

O leitor poderá ajuizar: vou deixar-lhe aqui o fado em causa.


Abraço.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Presentes da Natureza



Nesta altura do ano, a Natureza transforma-se.
O sol brilha, o ar fica mais fresco e as cores são rainhas.
Sabe bem receber o ar fresco e leve na cara.
Sabe bem ver os raios de sol estenderem-se sobre os campos húmidos, acariciando a terra. É bom ver como respiram vida e soltam do seu ventre, o que durante o verão guardaram ciosos.
Depois, paremos um pouco.
O «dégradé» de cores que se nos apresenta é de uma beleza extrema.
Do verde ao amarelo, passando pelo tijolo e pelo castanho, temos à nossa frente uma tela que faz inveja ao maior dos criativos da cor.
A Serra da Arrábida é um dos sítios ideais para regalar os olhos.
Aí, sim, o «dégradé» acentua-se e quase emociona.
Os vários tons que já referi são recebidos pelo oceano que os absorve e os transforma em tons de azul luxuriante.   
 Pelo menos a Natureza que nos mime com tudo o que tem de verdadeiro.
  

Abraço.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O céu na aldeia



A imensidão que nos cobre oferece-nos um mundo de magia.
Dependendo do tempo, são imensas as imagens que nos oferece o espaço aéreo.
 Apenas precisamos de tempo e sensibilidade para observar.
É bonito darmo-nos conta dos traços únicos, inéditos, exclusivos, às vezes meio abstratos, que as nuvens desenham no céu.
A aldeia é um sítio privilegiado para essa observação.
Sem poluição, temos à nossa frente um mundo de fantasia.
É bom, de vez em quando, virarmos a nossa atenção para o belo com que nos presenteia a natureza.
Se for possível, aproveitar momentos de silêncio e algum intimismo.
Deixar a imaginação fluir e saborear.
Poderá parecer imaginação excessiva, delírio, loucura… o que quisermos.
Mas não, não é.
Há arte no céu que nos cobre.
Uma arte natural e sem retoques finais.
Apenas arte.
Assim, em estado puro e único.


Abraço.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O magusto



O tempo era de frio intenso.
Ainda que o sol aparecesse, era gelado o ar.
Trespassava a pele envolvida por agasalhos (os que os tinham...).
Naqueles tempos tão distantes, o outono não brincava, era rigoroso mesmo.
As aulas estavam no seu auge e o trabalho era a sério.
A escola das meninas era um pouco fora de portas.
Fosse qual fosse a temperatura, lá íamos, pequenas e franzinas, a iniciarmo-nos no saber.
Apesar da seriedade das tarefas escolares, as tradições não só não eram esquecidas, como
eram preservadas com alegria.
Era chegada a hora do magusto anual das escolas.   
Algures dentro das instalações, um cesto de verga larga aguardava os punhados pequenos mas grandes na intenção, das castanhas levadas pelas crianças, que ansiosamente aguardavam esse dia.
Era fora da aldeia que se fazia o magusto e era uma atividade lúdica que mexia com todos.
Pequenos e grandes.
No dia combinado, todos em grande algazarra (uma algazarra muito saudável), lá iniciávamos a caminhada.
A proximidade de um pinhal era o local certo.
As castanhas eram assadas no chão e a caruma era o combustível usado.
Uma camada de caruma e as castanhas espalhadas em cima, com mais uma camada de caruma alta.
Fósforo aceso – e começava a brincadeira tão esperada.
O fogo era meio caminho andado.
A euforia apoderava-se de todos.
Crianças controladas, as castanhas iam sendo distribuídas conforme se iam assando.
Não faltavam brincadeiras e mãos e caras enfarruscadas.
Com os coraçõezitos a pular de alegria,
Vivia-se um dia que ficava na memória, como pode ser constatado neste texto.
 O sabor, esse, nunca mais me passou pelo palato.
As tradições e as vivências são a nossa história de vida.


Abraço.