domingo, 30 de setembro de 2012

Indignação











Indignação todos os dias e cada vez mais.
Olha tantos tiros no pé!
Os membros do nosso governo e alguns acólitos devem andar muito nervosos.
Será que as multidões os assustam?
Olha o Passos!
Olha o Portas!
Olha o Macedo!
Olha o senhor Borges!
Tanta sem vergonha é demais.
Ao que se atrevem.
Perderam o juízo!
Cada um no seu trono, a atirar bojardas ao povo!
Um que «venha para cá mais dinheiro em impostos».
Outro que «não concorda com o que já assinou».
Mais outro que «as cigarras são demais em Portugal».
Como se ainda fosse pouco, vem de lá o senhor Borges a chamar ignorantes aos empresários!
Que falta de educação e vergonha.
Então é assim que agradecem a quem os elegeu?

Que eram uma corja de magarefes sem estofo nem preparação política para estar à frente de um país, já não havia dúvida.
Que eram uns grosseiros, arrogantes e soberbos... aí já e demais.

Esta gente metida a gente de bem, ficou nua perante o país indignado.
Perdeu a face.
É preciso pô-los perante si próprios.

Rá, ré, ri, ró rua!...

Abraço.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A cigarra e a formiga






Esta era uma das fábulas que eu uma vez por outra, contava às minhas crianças no infantário.
Por acaso nunca lhe achei grande piada.
É uma fábula moralista, que pode levar a pensar que a vida deve constar só de trabalho.
Que tudo o que seja divertimento é negativo.

Está patente a distinção entre umas e outras.
As cigarras, rotuladas de preguiçosas e as formigas, as que nunca param, são as salvadoras da pátria.
Nunca nutri grande simpatia por fábulas ou histórias deste género.

Nunca esperei foi ver um ministro do nosso governo fazer referência a esta fábula num discurso seu!
Pensei:
- Olha, pelo menos por esta vez, está a ver bem.
Somos todos um grande grupo de formiguinhas, que esteve demasiado envolvido com o trabalho e distraído a ouvir o canto das cigarras, que têm vivido à nossa custa!
Pelos vistos o cântico tem sido mesmo de embalar!
De tal modo que nos adormeceu.
O ministro, estava a dizer bem.
É preciso espantar as cigarras.
Não temos que andar a sustentar parasitas.

Só o que o que ele disse foi o contrário: que somos todos umas cigarras e ele e mais meia dúzia são as formigas.
Aí mostra quem é e estraga tudo.

Abraço.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Moeda de ouro





Há um ditado que diz:
«Ninguém é moeda de ouro que agrade a todos».

Verdadeiro, este ditado.
Vê-se na prática, no dia-a-dia.
Para uns poderemos ser uns deuses, para outros sermos uns diabinhos.

Maneiras diferentes de ver.
De interpretar, de sentir.
É direito que assiste a qualquer um, gostar ou não dos outros.
Só é mau quando esse gostar ou não é fruto de um julgamento leviano e sem critério.
Sem o verdadeiro conhecimento de quem, ou do que estamos a julgar.
Quando somos parciais e não procuramos primeiro o conhecimento.

Vêem-se muito julgamentos apressados.
De actuações destas, podem resultar situações desagradáveis e inclusive comprometedoras de futuros. 

A futilidade, a leveza e falta de formação cívica na apreciação que se faz de alguém podem ser um veículo para deitar por terra qualquer um.

É pena.
Se voltarmos a moeda ao contrário, talvez encontremos algo positivo, quem sabe?

Abraço.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Outono





Cinzento por natureza.
Triste para alguns.
Acolhedor para outros.
Convida à reflexão e ao recolhimento.
Às vezes somos levados ao passado.
O encontro nem sempre é pacífico.
As lembranças nem todas são agradáveis.
Neste caso, é espreitar o céu.
Reparar na luz característica desta época.
Ver as nuvens cinzentas que escondem um sol que ora espreita, ora se esconde como que envergonhado.
Reparar nas plantas que tentam resistir e se erguem felizes, exibindo a ainda beleza que lhes resta.
Ouvir os pássaros, que voam de galho em galho.
No seu piar algo lamurioso, parecem despedir-se dos dias quentes e de fartura.
Desviemos a nossa atenção para as coisas boas da vida.
Para a beleza das flores, que apesar das primeiras chuvas, continuam lindas.
Ocupemos o espírito com tarefas que nos satisfaçam.

No meu caso, escrevo.
Vou ao ginásio.
Ocupo-me com actividades manuais que me dão muito prazer.
Divirto-me com o resultado final.
Evito momentos vazios.

Este é talvez o segredo para me sentir leve e com vontade de me afirmar como pessoa activa todos os dias.
De me sentir interveniente e dinâmica.
É assim que tento passar por esses encontros mais tortuosos.
Mostrando a mim própria que há mais para alem do choradinho e do pessimismo.
Será assim, até que as capacidades físicas e psíquicas me deixarem.
Depois…depois o futuro dirá.
Até lá, é não deixar os acontecimentos vergarem-nos.

Dias de Outono.
Dias de recolhimento.
Dias de calma saborosa e boa.
Dias em que apetece deixarmo-nos embalar no berço gigante que é o Universo.

Abraço.  

domingo, 23 de setembro de 2012

O sótão de hoje



















Há já algum tempo, falei aqui com muita saudade e ternura, do sótão que me serviu de casinha das bonecas na minha meninice.
Também referi de como lá fui feliz.
Pela vida fora, continuei a manter o mesmo gosto por esses espaços.
Os sótãos, não sei explicar muito bem porquê, atraem-me.
Talvez pelo aconchego, pelo intimismo, pela maior proximidade das estrelas?

Por ironia do destino e no fim de muitos anos, vim parar a uma casa que tem um.
Fiquei encantada.
Os quartos de dormir foram instalados lá.
Foi uma sensação de regresso ao passado.
O sótão da minha infância está sempre presente.

Apeteceu-me hoje escrever sobre este assunto, porque acordei de madrugada ao som de uma valente trovoada, acompanhada de chuva e vento.
Num sótão sente-se ainda com mais força o temporal.
Mas como somos racionais, também sabemos que é mais o que parece do que o que é.
Contudo, às vezes a coisa impressiona!

Soube-me muito bem no aconchego do edredão, voltar às sensações da minha vida de menina.   
O ribombar dos trovões, as sacudidelas do vento e fustigação da chuva nas telhas, fizeram-me voar no tempo ainda com mais saudade.

Sou sonhadora por natureza.
Peço desculpa a quem não aprecia.

Abraço.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Animais de companhia


Matilde
Zacarias
Bianca
Simão e Tobias 
Simão e Jasmim

Quando se decide ter um ou mais animais de estimação, tem de se ter a certeza de que se gosta mesmo de animais e que estamos dispostos a abdicar de algumas coisa em favor dos mesmos.

O que acontece é que nem sempre é assim.
Muitas vezes levam-se para casa animais por impulso, outras porque as crianças os querem.
De atitudes destas resultam depois animais infelizes, animais acorrentados, animais abandonados.
Só vale a pena tê-los, quando estamos dispostos a aceitar os hipotéticos incómodos que eles dão e aceitar sem enfado os encargos que passamos a ter.

Eu já tive vários.
Entre eles um cão e uma cadela.
Neste momento tenho só gatos. 
São cinco.
Pode parecer um exagero.
Até eu acho um pouco isso.
Tudo começou com duas gatinhas.
Mas a Bianquinha morreu aqui atropelada.

Agora, tenho então os cinco.
Mas devo dizer que três deles me apareceram à porta abandonados.
Primeiro, dois, dentro de um saco fechado.
Não tinham mais de três semanas.
Criei-os a biberão.

Depois, outro. Um ano depois.
Apareceu-me desorientado e a pedir socorro.
Largaram-no quase de certeza, aqui na rua onde moro.

Só dois foram por iniciativa minha.

São óptimos companheiros.
Organizam-se entre eles e nós nem damos por eles.
Divertem-se uns com os outros e agora está a acontecer uma coisa engraçadíssima: o pequenino, chegado há quinze dias, está a ser protegido pelo mandão cá de casa que é o Simão.
Assumiu-o como filho e trata-o como se fosse a mãe.
Como já fizera com o Tobias...

Para quem gosta, ficam algumas poses engraçadas.
Penso até que servirão para alguns humanos pensarem um pouco.

Abraço.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Velho


 


Quanto a mim, esta palavra velho é sempre utilizada em sentido pejorativo.
Seja referente a pessoas ou coisas.
Quando se trata de pessoas, então, é angustiante ouvir e ver.
Nesta nossa civilização pelo menos é assim.
O idoso, a partir de certa altura, entra numa espécie de restos, de lixo vivo.
Sem valor, sem passado e sem história que interesse a alguém.
A sua história de vida fica quase sempre entalada na sua garganta e no seu coração.
A mágoa por se sentirem arrumados e sem interesse está estampada no seu rosto.
A tristeza, o desânimo e o esquecimento atiram com eles para um mundo dorido e de silêncios.
Toda a sua experiência e saber são desperdiçados, em vez de servir de ensinamento para os mais jovens.
Tenho o maior respeito pelos idosos e pelas suas histórias.
Revolta-me a falta de respeito e de amizade que constato, por parte não só das famílias, mas também das autoridades do nosso país.
Chocou-me ouvir alguém dizer, há uns tempos, que «os velhos, a partir de uma certa idade, deviam ir andando e dar o lugar aos mais jovens».
Mentalidades frias, sem afectos e desprovidas de fraternidade.
Não quero que esta seja uma sociedade de mentecaptos gelados e sem sentimentos.

Abraço.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Lusco-fusco




Não sei bem porquê, mas o lusco-fusco é para mim um momento meio misterioso.
O sol esconde-se, a lua espreita e a noite aparece bem devagarinho, como que para não assustar os que não gostam dela.
É nesse momento que para mim a luz tem um tom enigmático mas bonito.
O céu começa a fechar o sorriso sorrateiramente e acaba numa sisudez, que só desaparece com o alvorecer do dia seguinte.
Enquanto isso, a actividade diminui e nos meios rurais ouve-se o silêncio.

Sabe bem este ambiente que passa de bulicioso a deliciosamente intimista.
Este recato também é preciso.
Não só para retemperar forças, com também para reflectir.
Dar descanso ao físico e dar prioridade ao diálogo e convívio familiar.
Aproveitar os momentos de mais calma para fazer o que precisa de maior concentração.
Depois, aproveitar a noite para libertar «stress».
Arrecadar força para continuar.

O dia seguinte tem de ser recebido de cabeça fresca e leve.
Os raios solares merecem ser recebidos de sorriso aberto.
Aí, o tom da luz não deixa dúvidas.
É claro e sem reservas.
É preciso desfrutá-lo.

Ainda assim, o lusco-fusco continua misterioso.

Abraço.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Finalmente




Finalmente, depois de tanto levar e calar, o Povo saiu á rua.
Não aguentou a postura ligeira de Passos.
Caiu-lhe mal a frieza e a indiferença com que ele anunciou mais medidas de austeridade.
Não gostou de o ver logo de seguida, a correr feliz e descontraído, a assistir ao concerto de Paulo de Carvalho.
Não gostou do entusiasmo com que cantou a célebre canção «Nini dos meus quinze anos».
A sua esposa irradiava felicidade.

Foi demais.
O povo estava ainda aturdido.
Não tinha ainda digerido tanta insensibilidade.
Tamanho afastamento do povo.
As medidas brutais engendradas a frio nos gabinetes foram transmitidas sem o mínimo cuidado, sem a mínima sensibilidade.

A indignação veio para a rua.
Aliviou a revolta.
Lavou a alma.
Gritou o seu desagrado contra os políticos impreparados e mentirosos.

As ruas estiveram prenhes de gente indignada.
Foi o grito da revolta e o pedido de socorro.
Aquele mar de gente descontente finalmente disse o que sentia.
Foi o Povo, o povo a sério, sem manipulações de ordem nenhuma, que saiu e deixou a marca da sua revolta.

Será que algum dos governantes se tocou?  
Não creio.
Mas penso que isto foi só o início.
Aguardemos.

Abraço.

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Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

Se quiser ouvir, clique aqui e depois clicar na imagem do concerto. 

sábado, 15 de setembro de 2012

Voando





Hoje apetecia-me...

Levantar voo e ir ao encontro das nuvens.
Deitar-me numa e deixar-me conduzir.

Seria uma viagem única e cheia de misticismo.
Seria uma fuga ao caos e à trapalhada que se vive por cá.
   
Seria uma fuga à insensibilidade.
Ao egoísmo.
Ao oportunismo.
Às dificuldades múltiplas.

Seria a paz.
Seria uma viagem ao infinito.

Ficaria por lá?
Ou regressaria cheia de novidades boas?
Dum mundo diferente.
De um mundo melhor.

Sem guerra, sem raivas, sem ódios.
Sem tricas e mais tricas.
Sem invejas.
Um mundo onde houvesse trabalho para todos.
Educação.
Um mundo onde não houvesse distinção de cor ou raça.
Um mundo onde os afectos e o respeito prevalecessem.

Impossível um mundo ideal, eu sei.
Mas…sonhar não é proibido!...

Abraço.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Gélido






Não foi só o Professor Marcelo Rebelo de Sousa que ficou gélido com a comunicação do senhor Passos ao país.
No recato dos seus aposentos e com os seus, teve mais umas ideias.
Não aguentou e veio a correr partilhá-las.
Como se não fosse suficiente, à noite, no Facebook, reforçou e prometeu mais, qual sádico no seu papel de prepotente.

Também nós ficámos petrificados e sem fala.

Como?
Estamos todos espremidos e sem mais furos no cinto e ainda vem aí mais?
Vergonhoso.
O pior é que vamos ouvindo, resmungando uns para os outros e ficamo-nos por aí.
Revoltados, acabrunhados, sem entusiasmo pelo que fazemos e como zumbis à espera de levar mais.
Acomodados e sem esperança.

Voltámos a dar de caras com um Portugal acorrentado e sem expressão.
Calado que nem um rato assustado.
O que nos aconteceu ao longo destas últimas décadas?
Acomodámo-nos.
Deixámo-nos anestesiar com tantas facilidades que nos deram, para conseguirmos o que queríamos.
Deslumbrados, deixámos de pensar.
Perdemos a capacidade de reflectir e escolher o caminho mais sensato.
Fomos pelo mais fácil e colorido, embarcámos num barco sem rumo.
Os oportunistas, os que tomaram as rédeas do país, organizaram tudo como lhes aprouve.
Tudo a seu favor e dos seus.
Portugal tem sofrido de um assalto continuado.
Os cofres estão limpos.
Os bolsos dos escroques cheios.
Até quando?
Como se irá resolver esta situação de tamanha gravidade?
Quem acode aos aflitos e desprotegidos?     

Dá que pensar.

Abraço.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A língua






















A língua: tantas formas de a referir.
Há para todos os gostos.

Língua viperina.
Língua comprida.
Língua suja.
Língua afiada.
Língua de trapos!...

Isso, pela negativa.
Mas há mais.

Estes e outros epítetos, são usados para catalogar as línguas, dependendo de como as utilizamos.
As que se descontrolam e dizem tudo como os malucos.
As que dizem palavras apenas e só para magoar.
As que se dedicam a sujar a imagem dos outros.
As que inventam e caluniam.

Por tudo isto, as línguas às vezes são catalogadas assim.

É pena, as línguas não deveriam ser mal utilizadas.
Deveriam cumprir a função digna para que foram criadas.
Infelizmente há muita gente que utiliza mal o que tem.
Neste caso, não aguentam o privilégio de ter uma língua.

Felizmente, também há línguas que são bem utilizadas.
Línguas e teclas...

Abraço.  

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A vida também passa por aqui






















Hoje apeteceu-me fazer um bocadinho de inveja a quem gosta destas iguarias.
São bolos de azeite e foram feitos em forno de lenha.
Neste momento em que escrevo ainda estão quentinhos.
E não, não é só o aspecto.
O sabor é de estalo!...
É o que faz, viver no campo e ter à disposição o forno e os amigos donos do forno.
Ah! É verdade.
E foram feitos por mim.
A habilidade de preparar o forno à temperatura ideal, essa foi do dono do mesmo.

Diziam-me eles há pouco que o sítio onde vivem é o cantinho da fraternidade.
Eu concordo.
A vida ainda não é só egoísmo.
Ainda se encontram pessoas generosas e amigas, sem pedirem nada em troca.
Apenas e só amizade.
Sem quezílias.
Até dá para cometer um pecadilho destes de vez em quando.
A crise fica arquivada por momentos.

Ui!
E as calorias?
Devem ser upa!…upa!
Amanhã têm que ficar no ginásio.

Tenho pena que não possam provar.

Bem-haja à vida e aos amigos.

Abraço.

Já agora, oiçam aqui a Violeta Parra.






Cão mistério?


















Era o meu primeiro dia de férias.
O mar, de águas azuis e calmas, convidava a entrar.
Havia pé até bem longe e entrei sem perigo.
Afastei-me um pouco mais do que o costume.
Estava a saber-me bem retemperar forças.
Libertar o stress.
Ao olhar a margem, vi dirigir-se a mim um cão de grande porte.
Um cão lindo.
Pude ver que era um Labrador preto que nadava decidido em direcção a mim.
Pelo luzidio, lencinho vermelho ao pescoço, vaidoso e com um objectivo.
Achei piada e chamei-o com um gesto.
Ia ter companhia.
Espanto.
O Labrador preto, de lencinho vermelho ao pescoço, foi ter comigo, sim, mas brincadeira foi o que ele não quis.
Na sua perspectiva eu estaria em perigo e ele sentia o dever de me ajudar.
Deitou-me as mandíbulas fortes ao braço e puxou decidido.
Sem diálogo.
Tive que obedecer.
Sentia o meu braço apertadíssimo, mas era de aguentar, pronto.
Só me largou já na areia.
Ofegante, olhou para mim satisfeito.
Missão cumprida.
Olhei o meu braço dorido e a começar a inchar.
Tive que sair da praia a correr.
Havia que tratar do caso.
Não vi jeito dos donos por ali.
Tive-o por companhia até ao meu carro.
Arranquei e ainda me acompanhou por momentos.
Até me perder de vista.
Ao outro dia, voltei.
Procurei-o, mas nada.

Um cão mistério?
Um cão «nadador salvador»?

Um cão com um sentido de dever maior que muitos humanos.

Tive pena de não o voltar a encontrar.

Abraço.

domingo, 9 de setembro de 2012

Despedidas






Ao longo da vida, tenho passado por despedidas várias, algumas dolorosas de mais.
Talvez por isso, ainda hoje não gosto delas.
Despedir-me de alguém ou de algo, significa sempre separação.
E isso não me agrada.
Até o simples facto de sair de casa por alguns dias me incomoda.
Aprecio a estabilidade.
E essa só a sinto, mesmo, é no meu canto.

Bom, tudo isto para dizer que o Verão se está a escapulir.
Os dias estão bem mais curtos.
O bulício das férias já não o é.
O Outono espreita.

Outono.
A estação tristonha.
A do cair da folha.
Do ar mais fresco.
Do casaco para prevenir!
Do sol envergonhado.
E da chuva - quem sabe?

Não partilho da opinião de que o Outono é triste.
Nem esta despedida me incomoda.
Apesar de no Verão me divertir muito lá fora no meu espaço.
Apesar de poder usufruir da praia, estou com saudades do frio.
E do quente da lareira.
Gosto muito do Outono e das suas cores quentes.
Gosto do mar encapelado a enfrentar o Mundo.
Gosto de o observar a lutar com todas as suas forças.
Depois, há a lareira.
A sua chama fascina-me.
Gosto de ronronar a olhar para ela, e dar largas à minha imaginação!...

O fogo.
A primeira e importante invenção do Homem.

Domina-me mesmo!...

Adeus, Verão.
Bem-vindo, Outono.

Abraço.

sábado, 8 de setembro de 2012

A vida não é só tristezas





Nos dois últimos textos, narrei factos da minha vida que me marcaram muito.
Tinha-os arquivado.
Penso até que nunca os tinha recordado assim, tão fortemente.
É claro que foi com emoção que os descrevi.
Os protagonistas mereceram esta pequena homenagem.
De formas diferentes, marcaram os dois a minha infância pela sua amizade e generosidade.
Estou numa fase em que me apetece passear pelo passado.
Enfrentar o que me magoou e me deixou triste.
E exorcizar o que magoa é uma boa terapia.
É preciso falar das coisas sem reticências.
Faz-me bem escrever.

Arrumei estes factos, como já o fiz com outros.
Dei-me bem.

Isto não quer dizer que os esqueça. Isso não é possível.
Só foram retirados do sótão, limpos do pó e rearumados.

Mas a vida não são só maus momentos.

Aprecio muito os bons.
Adoro uma boa gargalhada.
E agradeço muito à vida o que tenho recebido.

Vale a pena viver.

Abraço.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

E a aldeia entristeceu





De boas famílias.
Lavrador médio.
Honesto.
Trabalhador e respeitado por todos.
Pode dizer-se que era um homem de bem.
Só que nem todos são do mesmo calibre.

Numa quinta pertencente à família desde sempre, um dos herdeiros vendeu uma tira de terreno a um qualquer intruso.
Foi avisado de que, ao comprá-la, compraria uma guerra.
Ainda assim, atreveu-se.
Houve troca de palavras de aviso.
Azedas.
Quando se mexe em terrenos, nas aldeias era (e ainda é?) assim.
Guerra pela certa.
O novo dono não terá gostado do que ouviu.
Poucos dias depois, tragédia na aldeia.
Dois tiros de zagalote tiraram a vida ao meu tio Joaquim.
Indignação geral.
Houve quem visse.
Uma testemunha fraca, com medo.
Um pastor que, por acaso, regressava com o seu rebanho, já noite.
A família sofreu.
Os amigos enfureceram-se.
A Judiciaria não teve dúvidas, mas como provar?
Processo arquivado.
Pouco tempo depois, o assassino morreu num acidente de moto numa curva da aldeia.

Vingança de um dos amigos da vítima, dizia-se à boca pequena.
Tudo é possível.
A revolta foi grande.

Foi um episódio meio misterioso.
Só falado em surdina.

Perdeu-se um homem com H grande.

Partiu muito jovem o meu tio Joaquim!...

Abraço

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O relógio

















Dlam, dlam, dlam…
E assim sucessivamente vida fora.
Lá longe, o ruído de um motor diluído pela distância.
Um barco no mar talvez.
Pescadores a fazerem-se à vida?
Os carros, poucos, também de vez em quando marcam presença.
Até eles hoje, passam lentos e quase silenciosos.
Aqui no canto onde moro, a natureza fala.
Um canto pequeno e florescente.
Colorido e cheiroso.
Os meus gatos espraiam-se ao sol, ronronando.
Como que embalados pelo odor que paira no ar.
É bonita a natureza.
Pura, bela e natural.

É bom poder usufruir dela.
Assim, sem artificialismos.

Por mim, quero continuar assim sensível.
Ainda que não agrade a todos.

Entretanto, o relógio continua.
Dlam, dlam, dlam…

Está na hora do ginásio.
Vou tratar de mim.

Abraço.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Será que há destino?










                                                                                                                                                                             Foto: 
Au 
Revoir, 
Portugal




Anos sessenta.

Era um rapaz normal.
Brincalhão, alegre, amigo.
Um jovem irreverente e que fazia gala disso.
Próximo de ir cumprir o serviço militar, cometeu um deslize que pagou caro.
Ao fazer uma oral foi chumbado.
Aparentemente, o professor que o examinava não gostou do ar malandro.
Não suportou a juventude sarcástica e a sua cara de quem não leva a vida muito a sério.
A coisa correu mal.
Pouco depois, na pauta lia-se o equivalente a:
-Fulano de tal, chumbado.

O jovem não esperava (ou esperaria?).
A raiva foi maior que o bom senso.
Uma espera à porta do liceu e pumba! Pumba, pumba!...
O professor sentiu a violência e a humilhação.
O jovem satisfez os seus instintos primitivos e animalescos.
Não se controlou.
Mais tarde, arrependeu-se.
Um processo em tribunal anunciou:
-Dois anos de cadeia.

Não, isso nunca.

Os passadores para a França viviam dos aflitos.
Pela calada:
-Quanto é?
Decidiu-se.
Em completo segredo e com uma trouxa minúscula disfarçada, começou a aventura marcante e violenta.
Apanharam-no ao lusco-fusco, à saída da aldeia.
Puseram-no na fronteira.
A partir daí, salve-se quem puder.

A pé quase todo o caminho.
Cansaço, fome e sofrimento, muito.
Teve que ser levado em braços pelos companheiros.
Única forma de lá chegar.  
Os seus pés não aguentaram tanta exigência.

Chegado a França, as dificuldades foram múltiplas.
Nunca mais foi o mesmo jovem.
Ficou anos sem poder voltar.
Contactou-me sempre.
Saudades, muitas.
Também muitas asneiras cometidas.
Morreu aos cinquenta e tal anos.
A doença da moda também o venceu.
Deixou um livro como testemunho.

Era meu primo e muito meu amigo.
Nunca esquecerei os bons e também os maus momentos que passámos.
Lembro-me muito de ti e da tua boa disposição.
O destino, se é que existe, traiu-te em toda a linha.

Eras um bom malandro, Balé!...

Abraço.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A ribeira da minha infância






Era ainda manhã fresca.
O cesto rústico, enchia-se com todos os pertences para as duas refeições do dia.
Em grupo, rumava-se à ribeira.
O dia seria passado ali, no campo.
Ainda não se dizia «Vamos fazer um pique-nique».
Dizia-se apenas «Vamos passar o dia».
E que dias que se passavam naquele local frondoso e fresco.
As mães lavavam a roupa e nós chapinhávamos.

Depois de uma caminhada de mais ou menos vinte minutos em amena cavaqueira, eis que chegávamos.
A descida até à ribeira era feita apressadamente, como que com medo de já não a encontrar.
Aquele recanto fresco, e onde o silêncio se impunha, era muito acolhedor.
Era debaixo da ponte em abóbada que nos instalávamos.
Fazia eco se falássemos mais alto.
O silêncio quase doía.
Havia paz ali.

Entre amieiros frondosos e as margens forradas de calhaus, a ribeira conduzia as suas águas cristalinas, que serviam também para regar os campos sequiosos.
Nós, os mais jovens, fazíamos as nossas traquinices.
Entre elas pescávamos peixinhos e rãs, que posteriormente, fritávamos numa frigideira levada para o efeito.

Brincadeiras também não faltavam.
E banhos.
Acompanhados de escorregadelas nas pedras escorregadias, de limos de tantos anos!
Termino com uma quase anedota de uma idosa muito idosa que uma vez nos observou,
quando tomávamos banho de perna ao leu.

Assim, tal e qual: 
«Deus ma mim livrara que eu pujesse auga no mê corpo»!...

Outros tempos, outras mentalidades.

Mais verdadeiras e afectuosas de certeza…

Abraço.

domingo, 2 de setembro de 2012

Gratidão


















Quando penso na situação do nosso país onde as dificuldades são muitas, dá para ver que as pessoas se fecham, se afastam do convívio com os outros e cada vez o isolamento entre si é maior.
Logo, a falta de convivência torna-as mais egoístas e egocêntricas.
Não se entendem entre si e as relações azedam não se sabendo muitas vezes o porquê.
O que eu noto é que estamos perante uma sociedade fechada e sem capacidade de diálogo.
Quando se tem a sorte de encontrar alguém de bem, com quem possamos partilhar os nossos tempos de lazer, podemos dizer que somos gente de sorte.
Felizmente, ainda há gente dessa.
Gente simples, honesta e generosa.
Que é amiga sem qualquer interesse.
Que ajuda só porque gosta de o fazer.
Que tem prazer em conviver e dialogar.
Que tem prazer em se entregar a uma amizade.
Não é fácil encontrar-se hoje gente com estas características.
No contexto existente, o que temos na frente é um mundo frio e insensível.
Diria até desumanizado.

No que a mim diz respeito, considero-me uma pessoa com sorte.
Encontrei um bocadinho de mundo que não tem nada a ver com aquele que em cima referi.
É um mundo onde se interage, se dialoga e se convive com prazer.

Nem sempre a vida nos é madrasta.
 
Abraço.