segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A ribeira da minha infância






Era ainda manhã fresca.
O cesto rústico, enchia-se com todos os pertences para as duas refeições do dia.
Em grupo, rumava-se à ribeira.
O dia seria passado ali, no campo.
Ainda não se dizia «Vamos fazer um pique-nique».
Dizia-se apenas «Vamos passar o dia».
E que dias que se passavam naquele local frondoso e fresco.
As mães lavavam a roupa e nós chapinhávamos.

Depois de uma caminhada de mais ou menos vinte minutos em amena cavaqueira, eis que chegávamos.
A descida até à ribeira era feita apressadamente, como que com medo de já não a encontrar.
Aquele recanto fresco, e onde o silêncio se impunha, era muito acolhedor.
Era debaixo da ponte em abóbada que nos instalávamos.
Fazia eco se falássemos mais alto.
O silêncio quase doía.
Havia paz ali.

Entre amieiros frondosos e as margens forradas de calhaus, a ribeira conduzia as suas águas cristalinas, que serviam também para regar os campos sequiosos.
Nós, os mais jovens, fazíamos as nossas traquinices.
Entre elas pescávamos peixinhos e rãs, que posteriormente, fritávamos numa frigideira levada para o efeito.

Brincadeiras também não faltavam.
E banhos.
Acompanhados de escorregadelas nas pedras escorregadias, de limos de tantos anos!
Termino com uma quase anedota de uma idosa muito idosa que uma vez nos observou,
quando tomávamos banho de perna ao leu.

Assim, tal e qual: 
«Deus ma mim livrara que eu pujesse auga no mê corpo»!...

Outros tempos, outras mentalidades.

Mais verdadeiras e afectuosas de certeza…

Abraço.

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