terça-feira, 4 de setembro de 2012

Será que há destino?










                                                                                                                                                                             Foto: 
Au 
Revoir, 
Portugal




Anos sessenta.

Era um rapaz normal.
Brincalhão, alegre, amigo.
Um jovem irreverente e que fazia gala disso.
Próximo de ir cumprir o serviço militar, cometeu um deslize que pagou caro.
Ao fazer uma oral foi chumbado.
Aparentemente, o professor que o examinava não gostou do ar malandro.
Não suportou a juventude sarcástica e a sua cara de quem não leva a vida muito a sério.
A coisa correu mal.
Pouco depois, na pauta lia-se o equivalente a:
-Fulano de tal, chumbado.

O jovem não esperava (ou esperaria?).
A raiva foi maior que o bom senso.
Uma espera à porta do liceu e pumba! Pumba, pumba!...
O professor sentiu a violência e a humilhação.
O jovem satisfez os seus instintos primitivos e animalescos.
Não se controlou.
Mais tarde, arrependeu-se.
Um processo em tribunal anunciou:
-Dois anos de cadeia.

Não, isso nunca.

Os passadores para a França viviam dos aflitos.
Pela calada:
-Quanto é?
Decidiu-se.
Em completo segredo e com uma trouxa minúscula disfarçada, começou a aventura marcante e violenta.
Apanharam-no ao lusco-fusco, à saída da aldeia.
Puseram-no na fronteira.
A partir daí, salve-se quem puder.

A pé quase todo o caminho.
Cansaço, fome e sofrimento, muito.
Teve que ser levado em braços pelos companheiros.
Única forma de lá chegar.  
Os seus pés não aguentaram tanta exigência.

Chegado a França, as dificuldades foram múltiplas.
Nunca mais foi o mesmo jovem.
Ficou anos sem poder voltar.
Contactou-me sempre.
Saudades, muitas.
Também muitas asneiras cometidas.
Morreu aos cinquenta e tal anos.
A doença da moda também o venceu.
Deixou um livro como testemunho.

Era meu primo e muito meu amigo.
Nunca esquecerei os bons e também os maus momentos que passámos.
Lembro-me muito de ti e da tua boa disposição.
O destino, se é que existe, traiu-te em toda a linha.

Eras um bom malandro, Balé!...

Abraço.

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