segunda-feira, 26 de maio de 2014

E o lacaio…


 



O dia foi longo, o embate foi ainda maior.
O lacaio aflito correu para a patroa.
«Senhora Lagarde, a coisa não correu bem. E agora?»
Ela, solícita: «Calma, tudo se vai resolver. É só continuares a seguir o trilho. O caminho está aberto, continua bem comportado, não falhes as instruções, não te faltará nada!..»
«Mas…senhora…Lagarde, é que já não gostam de mim, das minhas brincadeiras de masoquista inveterado!...»
«Não penses nisso, dá-lhes que eles aguentam! Tira-lhes a pele, aperta-lhes mais o cinto, manda os velhos à fava, os doentes que se lixem, os jovens que emigrem, que há cá muitos!...»
«Pois é, senhora Lagarde!... Mas…»
«Tem calma, tu és um bom trabalhador, continua a tua tarefa, para nós estás a ser muito útil, vais ser compensado».
«Muito obrigado, senhora Lagarde, é uma patroa muito generosa!»
«Até à próxima, espero ordens!...»
E o lacaio-mor afastou-se a fazer salamaleques, submisso.


Abraço.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Os amigos…





Foi hoje ao percorrer os facebooks de alguns amigos, que esta frase me chamou a atenção.
«AMIGOS NÃO SÃO AQUELES QUE NOS LIMPAM AS LÁGRIMAS, MAS AQUELES QUE NÃO AS FAZEM CAIR».
Fiquei a pensar naquela expressão para mim tão acertada!
É verdade! Quantas vezes aqueles que se dizem nossos amigos são os que nos provocam a lágrima, que com surpresa nos rola pelo rosto.
Ser amigo/a verdadeiro, exige muita generosidade, muita verdade e muita capacidade de digerir.
Talvez alguns pensem que não, mas todos nós somos cheios de defeitos e fraquezas.
Não há os especiais, os que estão acima de qualquer erro. Ninguém é isento!
Se não viremo-nos um pouco para dentro e façamos uma pequena reflexão séria e honesta.
Acharemos de certeza falhas e lacunas.
Depois bastará apenas querermos aperfeiçoar.
Remodelar um pouco a nossa forma de ser e de estar e tentar corrigir o que achámos que está menos bem.
Os bons amigos proporcionam uns aos outros um convívio são e leve, sem aleijar.
Provocar lágrimas é que será mesmo uma atitude condenável!
Não me vou esquecer daquela frase.
«AMIGOS NÃO SÃO AQUELES QUE NOS LIMPAM AS LÁGRIMAS, MAS AQUELES QUE NÃO AS FAZEM CAIR»


Abraço.  

sexta-feira, 16 de maio de 2014

A propósito de Família



Ontem foi o dia da Família.
Embora não tenha o culto dos dias disto e daquilo, hoje apeteceu-me muito falar da minha família.
Desde que me conheço, que sempre tive laços fortes de amizade com os meus.
Toda a minha vida foi assente nos alicerces onde ela foi estruturada.
A família representa para mim a alegria, o bem-estar, o apoio e o equilíbrio.
Sempre que possível com ela partilhei todos os momentos importantes da minha vida.
Foi sempre o meu refúgio e a minha força de todas as horas.
Infelizmente, esse suporte muito cedo estremeceu, abanou e ruiu.
No meio de muitas atribulações, perdi entretanto o contacto que tinha com o outro ramo familiar, que também me tinha sido muito caro.
Devo dizer que me fez muita falta e que me senti quase incompleta, sem essas referências para mim tão necessárias.
Felizmente e para meu sossego e alegria, encontrei no fim de muito tempo (tempo de mais), alguns daqueles a quem noutros tempos estive mais ligada!
Foi um presente inesperado!
A vida e os seus percalços!...
A família para mim é tão importante que quando não a tenho me sinto incompleta.
Hoje em especial, um forte abração para todos os que reencontrei e que estão a fazer com que a minha vida seja ainda mais bonita.  

Abraço.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

«Acabaram-se me os dzêris»






Em todas as aldeias existem personagens que são vítimas de chacota e de um certo deboche.
Sou por natureza mais ou menos boa observadora.
Era junto à minha casa que aos domingos e feriados à tarde se concentrava grande número de pessoas. Era no rés do chão da minha casa que estava instalada a televisão pública que na altura era a coqueluche!...
Grandes e pequenos, viam televisão, conviviam e arranjavam muitas vezes namoricos.
Todos os fins-de-semana vinha ao Casteleiro um rapaz nascido e criado numa quinta dos arredores.
Era um camponês castiço, campónio puro, que pelo menos enquanto criança, fez a sua vida sem conhecer nada do mundo – e nesse mundo, estava incluído o Casteleiro.
 Chegou a idade em que a natureza se encarrega de mudar tudo e o bom do Alberto, não aguentou a pressão dos impulsos.
Todas as semanas rumava ao Casteleiro com ar enamorado, à procura de par.
Andou por ali uns tempos. E não era parvo o mancebo! Deitou o olho a uma rapariga das mais bonitas do grupo, que, de férias da escola, também procurava divertir-se.
 Deu nas vistas aquele ar enlevado!...
Coitado do Alberto. Tomaram-lhe posse do corpo e era demais o que faziam dele.
A moça, essa, divertiu-se à sua custa e à custa da sua inocência. Era um deboche.
Às tantas, ele já não tinha como responder a tanta provocação.
De um modo carinhoso falso, dizia-lhe a moça:
«Então, Albertinho, não fala»?
«Acabaram-se-me os dzêres!...»
O seu ar apaixonado era quase constrangedor!....
Gente jovem.
Naquela altura era a forma de se divertirem.
Sem que daí viesse grande mal ao mundo.

Abraço.

domingo, 11 de maio de 2014

Manual de instruções?







É isso. A vida deveria ter manual de instruções?
Tudo ali delineado, organizado, muito bem explicadinho?
«Deixa cá espreitar o que há para fazer hoje e como»!
Na verdade, tudo seria bem mais fácil, mais seguro e bem menos stressante.
Diminuiriam as neuroses, o stress, as preocupações e as surpresas desagradáveis não teriam lugar.
Diminuiria a ansiedade e a vida não sofreria abanões que às vezes têm o efeito de um tsunami.
Mas… a ser assim, onde ficaria o encanto?
As facilidades, a falta de engenho, a papinha toda feita não seriam um tédio?
Uma coisa seria certa. Evitar-se-iam muitos erros, muitas decepções e muitas desilusões.
Evitavam-se muitos passos em falso, muitas atitudes menos correctas e muitos caminhos ínvios.
Apesar de tudo, a vida tem que ser vivida e desbravada por cada um. Tem que ser programada com o esforço de todos e com o entusiasmo que, esse sim, preenche e compensa!        
O bom senso e a imaginação têm um papel preponderante e tenaz.
Então, manual de instruções para quê?

Abraço.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Sinfonia no silêncio



Gosto muito de ouvir boa música.
Também gosto muito de ouvir o silêncio.
Neste momento optei pelo silêncio.
Sabe bem parar, repousar das tarefas normais do dia-a-dia e ouvir os sons que me chegam da Natureza.
Com a Primavera já instalada, os pássaros fazem pela vida e apoderaram-se da minha árvore de estimação aqui do quintal.
Todos em uníssono, soltam pius…pius…, que se transformam numa música ritmada, com notas ora estridentes e em coro, ora baixas, como se de uma melodia calma se tratasse.
As rolas, ronceiras e repetitivas, fazem trru…trru… , anunciando que estão prontas para a festa do acasalamento.
O cão da vizinha rosna, quando o incomodam na sua longa sesta, onde vai buscar as energias perdidas durante a noite enquanto os donos dormem.
As galinhas cacarejam e o galo diz com o seu vozeirão, que quem manda na capoeira é ele.
O ventinho mole sibila moderadamente por de cima das árvores, que agitam as folhas incomodadas, preguiçosas e dolentes.
Eu, à falta de outro tema, escuto, saboreando a variedade, e vou escrevendo e descrevendo, a realidade que me envolve.
Desta minha atitude, não virá mal ao Mundo!...
A ideia é ocupar-me.
Ocupar o cérebro e partilhar, com os que me lerem, este ambiente bucólico e despoluído, em que ainda vou tendo o privilégio de viver.
Gosto da sinfonia de sons que me envolve!
Gosto muito do silêncio que deixa que eu a oiça, à sinfonia.
Depois, este espaço virtual que venho utilizando também serve para mostrar o outro eu que há em mim.
Obrigada, mãe Natureza!...
Abraço.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

O reencontro

 Pedra da Mua, Cabo Espichel


Não escrevo há já uma semana.
De vez em quando falta a vontade, a motivação - o que dizer: outros interesses!..
Neste caso foram quase e só mesmo outros interesses.
A Primavera instalou-se, os passeios são apelativos e a Natureza convida.
Os olhos ainda com o reflexo da chama da lareira, estavam precisados de paisagens abertas, de ar puro e morno, dos sons únicos desta época, dos cheiros das plantas em flor, da maresia misturada com eucalipto e pinho!...
Enfim, digamos que é o apelo da Mãe Natureza e de toda a sua beleza.
O físico agradece mais esta variedade de movimento. O cérebro fica mais oleado e os neurónios mais arejados.
Depois, aconteceu ainda outra variedade mais ou menos inesperada.
Ultimamente tenho vindo a ser surpreendida com factos e encontros que me têm dado muito prazer e inundado de luz o espírito.
O pensamento e a memória têm sido ocupados por contactos e recordações que, durante muito tempo, estiveram arquivados e quase selados, por os achar tão afastados e «incapazes» de os reencontrar!
Afinal, há certas etapas da nossa vida que nem qualquer imbecil sádico comanda.
Essas pertencem-nos e é com elas que aguentamos outras, bem precisadas de serem ignoradas!      
Penso que tudo isto tem contribuído para esta paragem nos meus habituais «devaneios», aqui, com quem os aprecia.
Voltarei, sempre que me aprouver!


Abraço.