sábado, 29 de dezembro de 2012

Sonhar

















Sonhar é descolar da realidade.
É ir à procura de mundos que gostaríamos de ter e que muitas vezes nos estão vedados.
Sonhando demasiado alto, corremos o risco de, quando menos esperamos, nos estatelarmos no chão desamparados.
Então poderemos sofrer um traumatismo.
Não físico mas psicológico.
A desilusão pode tomar conta de nós e deixar-nos tristes, frustrados, revoltados e muitas vezes sem alento.
É bonito sonhar, mas às vezes é mau acordar.

No momento presente, não há margem para sonhos.
Seriam certamente tristes e amargos.

O ano está a terminar.
Será um ano para não esquecer.
Não esquecer os rostos dos responsáveis pelo descalabro a que chegámos.
Dos que levaram à miséria um país.
Dos que promoveram o desemprego e a fome.

Que este ano sirva, pelo menos, para retirar lições para o futuro.
Para aprendermos a viver com o indispensável.

Este ano já passou.
Vem aí outro, que irá ser recebido em festa.
Compreende-se.
É a forma de exorcizar as preocupações e mágoas.
O pior é acordar da ressaca

As ofensas à nossa dignidade de cidadãos são difíceis de perdoar!...

 Boas festas 
.
Abraço.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Leilão
















Não estão agora na moda os leilões?
Não estão a ser uma forma de combater a dívida em que Portugal está atolado?
Não se fazem leilões a torto e a direito com tudo o que é nosso e tem valor?
Com tudo aquilo que nos habituámos a ver como património do nosso país?
Pois bem, penso que será tempo de leiloar, de pôr em saldo, aqueles que até agora têm leiloado.

Tenho de confessar que cada vez que vejo na televisão essas figuras leiloeiras de sorriso ensaiado, de falas mansas a soar a falso, e com laivos de cinismo, fico meio nauseada.
São eles os dos leilões.
Aquele Pedro com a sua Laura de sorriso meio tonto.
O senhor Cavaco com a sua Maria abanadora de cabeça, qual boneco articulado.
O senhor Relvas, o negociante, todo ele reluzente.
Para fazer os cambalachos, tem que se engraxar!
Grande profissional o homem!
E o Gasparzinho?
O da voz arrastada!
E enquanto isso, vai-nos tramando a todos!

Não seria altura de fazer uma limpeza nas quinquilharias sem préstimo?

Aceitam-se licitações.
O pior é que não haverá muito quem os queira!...

Será que os chineses, colombianos, angolanos ou quejandos não estarão interessados?
Que façam propostas.

Se este método não resultar, sempre há os saldos!

Rápido, de preferência.

Abraço.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Escrever é comunicar



VISITAS




Comunicar é uma coisa de que gosto.
Encontrei esta forma de o fazer e satisfaz-me.
Sempre que me surgem ideias, em vez de as arquivar, escrevo-as.
É pena que haja assuntos demasiado delicados.
Esses, sim, tenho de guardá-los só para mim.
São aqueles que arrumo nos confins dum baú trancado a sete chaves e por lá ficarão eternamente.

Hoje, ao abrir o meu blogue, dei-me conta de que passei as sete mil visitas.
Não é que dependa disso para me sentir bem.
A verdade é que me dá um certo prazer.
Gosto de despertar algum interesse e curiosidade.
Sinto-me acompanhada e gosto.
Depois penso que sete mil visitas em dois anos num blogue destes querem dizer alguma coisa.
Venho buscar a estes resultados vontade para continuar.
Fá-lo-ei enquanto me der prazer.

Boas Festas.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Natal de todas as angústias


















Apesar da crise, dizem-nos as televisões que os hotéis estão cheios.
Que nas estradas correm muitos carros.
Que dentro de alguns desses carros, corre muito álcool.
Que a polícia actuou.
E que o consumismo continuou.
Depois, ouvimos também falar do outro natal.

O natal dos simples.

Dos deserdados da sorte.
Dos que esperam ou não, (?) que alguém lhes chegue aos lábios ressequidos pelo frio da noite uma sopa quente que comem sofregamente.
Outros ainda acorrem ás instituições de boa-vontade, que os fazem esquecer por momentos, a falta de meios com que se deparam diariamente.
Nessa noite, há ceia e está quente.

Sempre houve diferenças.
Mas agora são mais visíveis.

São-nos mostradas vezes sem conta.
Os nossos olhos são testemunhas e às vezes preferiam não ver.
Vemos, lado a lado, a ostentação e a fome.
Os bem apessoados e nutridos a olhar para o umbigo.
E os de expressão vazia e olhar no infinito

Em alguns casos, cada um com a sina que a troika lhes traçou.
Pobres muito pobres.
Ricos muito ricos.
Sociedade desgraçada e madrasta!

Por aqui o nosso natal foi simples.
Normal e modesto.
Baseado nos afectos, no convívio e no recato.
As filhoses estão uma delícia!
O consumismo foi zero.

Só é pena que uma nuvem sombria nos tolde o horizonte.

Nem tudo é perfeito.

Abraço.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Carta aberta ao Pai Natal

















No meu tempo de criança não se falava de Pai Natal.
O menino Jesus era quem tomava conta do imaginário infantil.
Era a ele que me dirigia quando fazia os meus pedidos.
Os tempos evoluíram e o menino ficou meio diluído.
Diluído pelo ruído provocado pelos papéis de embrulho, caixas, caixinhas e caixotes.
E pelo entusiasmo dos adultos, que muitas vezes ficam mais entusiasmados com o desenrolar das prendas do que as próprias crianças.
O imenso consumismo, egoísmo e outras coisas terminadas em ismo, sobrepuseram-se e silenciaram o menino das vestes alvas.
Hoje quem comanda é o Pai Natal.
Por esse motivo, é a ele que me dirijo.
Uma carta pequenina, mas sentida.

Querido Pai Natal,

Sei que és um homem bom.
Que costumas ouvir os pedidos que te fazem.
Também sei que neste momento estás a preparar-te para regressares ao teu país.
Deves estar cansadíssimo.
Também as tuas renas, devem precisar de um pouco de descanso.
Por isso, deixa-me dar-te uma ideia que me surgiu:
Há aqui em Portugal uns animais possantes, que podem dar-te a ti e às tuas renas, um pouco de descanso.
Encontram-se em S. Bento e em Belém.
Substitui as tuas renas por eles.
Deixa-os ficar lá pela Lapónia.
Sempre serão úteis.
Aqui só fazem é estragos.

Obrigada, Pai Natal, até para o ano.

Para todos:

Boas festas.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Chocante















Os Homens devem estar loucos!

Não consigo esquecer os dois bebés lindos, assassinados por uma mãe que só em alta situação de loucura cometeria este acto tresloucado.
Incompreensível e horrendo.
Dois inocentes que não pediram para nascer, atirados para a morte assim com a maior frieza.
Morrendo lentamente.
Premeditadamente assassinados.
No fogo que a própria mãe ateou.

Pergunto-me como é possível dar-se um acontecimento destes, sem que ninguém se aperceba da loucura desta progenitora.
E o pai?
Tanto quanto sei, existe e trabalha.
Se as notícias estão certas, tem também a sua quota-parte de responsabilidade!
Em que vidas andaria ele metido, que não viu a companheira a descambar para o abismo? 
Entregues a ela, estavam duas crianças indefesas!
Esta mãe deve ter dado sinais de alerta!
Só podia estar no limite da descompensação!
Ao pai em primeiro lugar e à família mais próxima em segundo, também devem ser pedidas responsabilidades!
Grande distracção, desinteresse ou simplesmente ignorância!...
Responsável também é a sociedade.
O que fazemos nós para a humanizar?
Para a tornarmos mais sensível e afectuosa?

É claro que é uma atitude que não tem desculpa
Mas esta mãe não está sozinha no barco.

Dá que pensar.

Abraço.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Fora de tempo















É verdade.
Este tempo quente que aí tem estado não me agrada.
Estamos no mês de Dezembro e a temperatura chega aos dezoito graus.
Isto incomoda-me sobremaneira.
Sempre associei o Natal ao frio.
Aos agasalhos, à lareira e muitas vezes ao gelo.
Esta humidade quente reporta-me para os dois natais que passei em Cabinda. 
Onde as filhoses foram feitas com a ventoinha apontada.
E ainda assim, com o suor a escorrer pelo corpo.

Este ano, por aqui, não será preciso ventoinha, mas, com franqueza, a lareira não saberá tão bem.
O aconchego não será tão apreciado.
As filhoses não terão o sabor das filhoses do natal à séria.
Comidas à lareira com chá bem quente.
Por norma, é assim que por aqui termina a noite da consoada.
Quase ouvindo o frio lá fora.

Natal é tempo de frio e não deste calor fora de tempo.

A insensibilidade e a ganância dos Homens são os responsáveis pelo buraco do ozono, que está a provocar estas situações adversas ao planeta.

Vou ter saudades dos natais gelados.

Abraço.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Sensibilidades















Por muito difícil que seja o momento por que estamos a passar, é inevitável não sentir que o Natal está por aí.
Ao contrário dos outros anos, são poucas as casas que se encontram decoradas com motivos natalícios.
Contudo é quase impossível não sentir o cheirinho.
A mim toca-me sobremaneira a música alusiva à época.
São melodias suaves, tranquilas, que mexem comigo e me levam sempre de «viagem».
.
Em português seria: 
Noite feliz, noite feliz / Ó Senhor, Deus de amor / 
Pobrezinho nasceu em Belém / Eis na lapa Jesus, nosso bem 
Dorme em paz, ó Jesus / Dorme em paz, ó Jesus...
.
Nestas alturas, percorro a minha vida desde criança.
Visito em pensamento todos os locais onde a tradição se consumou.
Sinto de uma forma especial, ainda que à distância, os sítios, os cheiros e o calor humano que então se vivia.
Então não havia estas músicas a tocar por todo o lado.
Apenas se ouviam na igreja os cânticos religiosos que já me fascinavam.
Talvez por isso tenha dentro de mim o gosto por elas.
Sinto-as com qualquer coisa de misterioso.

Revejo-me no local onde nasci, de uma forma quase real.
Quase sinto o calor da lareira e as vozes das pessoas que me eram queridas.
Saudosismo, dirão alguns.
Não.
É apenas um sentimento forte de pertença.
São as minhas raízes a não quererem que eu me solte completamente.
Foi uma herança boa, de que não deixam que me separe.
Apesar de às vezes ser um pouco doloroso, também me trazem de volta momentos únicos.
Todas as tradições que lá vivi fizeram de mim a pessoa que sou.
Afectiva, sensível e solidária.
Até parece um auto-elogio.
Não é.
São apenas três adjectivos, que têm, desde sempre, dificultado a minha existência.

Abraço.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Natal, Natal, Natal










Créditos 
Foto
Cláudio Sá



Será que alguém consciente terá este ano um verdadeiro espírito natalício?
Ainda haverá disposição para fazer de conta que estamos todos muito felizes?
Será que com os tostões contados no bolso, ainda dará para correr os centros comerciais
à procura de prendinhas inúteis em sacos coloridos?
Só fazendo de conta se conseguirá passar por este Natal sem alguma apreensão.
Apreensão e mágoa.
Não se pode passar por uma tradição tão forte, ignorando o estado caótico em que nos encontramos.
Há muita gente sem emprego.
Uma sopa quente não estará ao alcance de muita gente.
Não podemos, de consciência tranquila, ter a nossa mesa cheia, quando tanta gente vive numa angústia sem precedentes.

O Natal é a festa da família.
A verdade é que a família em grande maioria está triste.
Está sem esperança e com muito medo do futuro.
O Natal, por muito tradicional que seja, não traz de volta a estabilidade perdida.
Pelo contrário.
Esta época traz ainda mais nostalgia, tristeza e saudades do que perdemos.

Resta-nos o afecto e a amizade.
Será a melhor prenda que podemos oferecer.

Abraço.  

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Desespero













Nada que não fosse previsível.
Direi que está a ultrapassar o que já se fazia adivinhar.
Com a austeridade imposta, há muita gente com dificuldades económicas.
Famílias em desespero, jovens à deriva, crianças com fome!
E os direitos do Homem?
O direito à saúde, à habitação, à educação?

Crianças com fome?
Pensei que esse problema fosse só um problema do Terceiro Mundo!
Um problema que tem indignado tanta gente.
Só aí se vêem crianças desnutridas de olhos esbugalhados, de espanto e de fome!
Só aí se vêem mães sem sorriso e com uma expressão de impotência no rosto, envelhecido pelo sofrimento.

Fome no meu país, neste país que lutou para ser livre?
Nunca pus a hipótese de ver situação tão vexatória para o Homem.

Não é justo.
É até indigno, direi eu!
Ninguém tem o direito de levar um país à fome.
Muito menos as suas crianças.

Que ao menos a escola encare com dignidade e firmeza este problema e lute contra ele.
Só alguém débil e insensível pode privar de comer um ser inocente.
Depois disto, o que virá mais?
Estamos a bater no fundo!...

Abraço.   

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Disparar




Esta simples palavra, disparar, pode levar-me muito longe.
A um sítio bem distante, e a um som que tenho bem gravado.
Guardado numa gaveta da minha memória.
Essa gaveta não está, e não é por acaso, arrumada no fundo de nenhum baú escondido.
Está bem à mão.
A minha memória recorda-mo com frequência.
De repente, lá estou eu a dez mil quilómetros de distância.
Lá, em Buco Zau, Cabinda, durante a guerra colonial.
Nas colunas militares para o mato, fazia-se fogo de reconhecimento nos sítios considerados mais perigosos.
Fogo de rajada e de morteiro.
Eu ouvia em casa.
Acreditam?
Tá… tá…tá…Pum! Pum!

Disparar:

Também posso ouvi-la bem perto.
Dentro de mim.
Sempre que o meu coração se solta e insiste em bater depressa.

Disparar!...

Leis, cortes, imposições.
Essas não são rajadas sonoras.
Fazem tá…tá…tá…Pum!
Mas em silêncio, levando ao desalento.

Disparar!...

Abraço.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Os cuscos e a cusquice






















Nesta vida pouco preenchida de satisfação pessoal, profissional e intelectual, muitas vezes, para tentarmos fugir de nós mesmos, olhamos para o lado e observamos a vida de uns e de outros.
Não a conhecemos por dentro, mas opinamos.
Damos palpites.
Sempre foi e será assim.
É que, enquanto fazemos isso, não pensamos na nossa.
Não nos encaramos.
Não somos obrigados a rir da nossa falta de verdade.
Parecemos ratos que se esgueiram pelas frinchas mais estreitas!...

Ver o argueiro no olho do vizinho é muito conveniente.
Ver a tranca que temos no nosso, isso não!
É bem melhor escondermo-nos atrás da nossa conveniente e oportuna miopia.
A lavar a casaca dos outros é que somos peritos!
Enquanto isso, deixamos a nossa cheia de nódoas.
Nódoas que não queremos ver.
Que escondemos por vergonha dos outros e de nós próprios.
O apêndice chamado língua que faz parte do todo que é o nosso corpo, faz muitas vezes o pior dos papéis.
Esfregona suja e descabelada.

A falta de verdade e respeito connosco e com os outros, às vezes, é constrangedora.

Constatar este facto também.

Como diz o ditado:
- Só sabe o que vai no convento, quem lá está dentro.

É feio ser língua de trapo.

Abraço.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Todos diferentes



Ao analisarmos algumas atitudes com que nos deparamos no dia-a-dia, chegamos à conclusão de que, embora sejamos todos iguais na concepção, somos todos diferentes na maneira de agir e de pensar.
É claro que nem poderia ser de outra maneira.
Ou então seríamos uma sociedade de gente toda muito aprumadinha.
Clones uns dos outros, caminhando em fila indiana.
Quanto a mim, na diferença é que está a piada.

Só que às vezes a natureza prega partidas.

Somos feitos de uma massa que, à partida, é muito difícil de moldar.
Não há maneira de encaixar na forma da vida.
Por muito que tente trabalhar-se, fica sempre empenada e sem conseguir adaptar-se.
Acontece isso mais com os insatisfeitos.
Com os que não se aceitam.
Com os que não gostam de si.

Estou a lembrar-me concretamente da actriz Alexandra Lencastre.
Fiquei chocada ao deparar com a sua cara, numa revista de fim-de-semana.
Mais uma plástica.
E que plástica!
Tirou-lhe a expressão.
Não é ela, é uma outra que não ela.

Pena, pena, pena.
Era uma mulher bonita.
Mas lá está.
Nunca se aceitou.

Não aceitou a idade que, sem apelo nem agravo, chega sempre.

Não entendeu que as rugas são a nossa vida.
Fazem parte do caminho que trilhámos.

Agora aí está.

No mínimo, perturbador.

Abraço.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Jasmim





Chama-se assim, o meu gato mais jovem.
Tem cinco meses.
Se a traquinice fosse música, ele seria uma orquestra.
Tira a paciência ao mais manso dos seus amigos gatos.
Mais velhos, receberam-no bem.
Fizeram dele o boneco de brincar.
Bom, mas ele abusa!
Tanto, que todos já decidiram investir na sua educação.
Está já a ser educado para que perceba que tem de ser mais comedido.
Não importunar a privacidade dos amigos é uma das regras.
Ele insiste e, de vez em quando, leva.
Apesar de tudo acho que já surtiu algum efeito.

Depois de muitas tropelias, cansado, procura um sítio fofo para descansar.
A foto que ilustra este texto mostra um desses momentos de relaxe total.
O dia chuvoso e cinzento de ontem passou-o de pernas ao alto.
Numa posição, direi, no mínimo, estranha.
Habilidade de acrobata não lhe falta!

Qual crise, qual quê?
A ele passa-lhe à distância.
Os donos que se amanhem!

Vida de gato com sorte!

Abraço.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Quando a chuva cai











Hoje está um dia daqueles de que eu gosto mesmo.
Sem alarido, pé ante pé, a chuva cai de mansinho.
Como se andasse a brincar, tem-se mostrado e fugido.
Como se fosse um jogo.
Tem espreitado e desaparecido.
De repente, como quem não quer a coisa, decidiu-se.
Cai persistente e calma.
Sem incomodar, mas caindo.
Fazendo lembrar que o Outono tem destas coisas.
Ora frio, ora sol, ora sua excelência a chuva.
Chuva e sol.
Dois agentes indispensáveis à vida.

Para quem pode, sabe bem observar a Natureza.
Como ela se defende e se protege.
Como se despe e se renova.
A chuva ajuda.
Limpa a terra dos pólenes, das bactérias dos micróbios instalados durante os meses do verão.
A chuva.
O chuveiro gigante e abrangente.  
Aquela que impregna de humidade a terra sequiosa.
É agradável vê-la através da vidraça.
A penumbra reporta-nos à noite que está próxima.
Diria que a cama da noite se estende e prepara o descanso do guerreiro.
É bom o silêncio.

Abraço. 


Dois anos

















Como o tempo corre.

Estou consigo, leitor e amigo, há dois anos.
Nunca pensei que conseguisse ir tão longe.
Nunca pensei que me entusiasmasse assim.
Nunca pensei que me fizesse tão bem.
Nunca pensei que, nestes dois anos, tanta gente se interessasse pelo que escrevo.
Apenas curiosidade?
Algum apreço?
Seja o que for.

Sei que este é um blogue sem as características habituais.
É um blogue que me serve como se de um amigo se tratasse.
Em que eu debito o que sinto.
Os meus momentos bons e menos bons.
A minha opinião sobre o que me toca mais.
O que me dá alegria ou o que me indigna.
Às vezes bem-humorada, outras nem tanto.

Apesar disso, tenho sentido que despertei alguma curiosidade.
Sei que sou lida e também que haveria quem gostasse de comentar e encetar diálogo.
Só que a intenção não foi essa logo à partida.
Foi apenas a de criar um local de partilha, um local que me servisse de ombro amigo
Invisível, mas que eu sinto e me acalenta.

Este pequeno blogue, tem sido como que uma terapia.
Uma terapia que faço com gosto e com empenho.
Irei continuar sempre que me apetecer e ache oportuno.
Este blogue não me impõe tempos, nem qualquer espécie de obrigação.
É um blogue de entretenimento e ocupação dos meus tempos livres.
É um blogue que me ajuda a manter o cérebro activo e produtivo.
O cérebro.
Todos sabemos que é preciso ocupá-lo para que não fique preguiçoso.
Depois, tudo o que não é utilizado, um dia torna-se lixo.

Vou tentar não o ser enquanto puder.

Um abraço.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Imaginário


















Desde sempre, ouvimos dos nossos pais estórias dum mundo imaginário e fantástico.
Lembro-me que me deliciava com elas e pedia sempre mais.
Ainda hoje as guardo e algumas já foram passadas a outros, que igualmente as saborearam.
Vem isto a propósito do Natal, que se vai aproximando devagar.
Também porque era no inverno que o tempo era mais propício ao recolhimento e às reuniões de família.
À lareira, essas estórias tinham ainda um sabor mais intenso.
Com o aproximar da época festiva do Natal, a estória do Menino Jesus era contada de uma forma respeitosa e empolgante.
A fuga de seus pais para o protegerem da ordem do rei Herodes, o «mau», levou a que nascesse numa cabana que acolhia um burro e uma vaca.
Que, num gesto solidário, o aqueceram com o seu bafo quente, naquela noite gélida 
de Dezembro.
A manjedoura terá sido a sua primeira cama.

Aquele cenário de pobreza e despojamento era impressionante para uma criança digerir.
Toda aquela época era vivida num mundo imaginário de criatividade infantil.
Diria até que se prolongou por largos anos este delírio saudável que alimentou as nossas fantasias juvenis.

Qual não foi o meu espanto, quando há bem poucos dias, o Papa actual veio lesto desfazer esta fantasia.

«O presépio não teve vaca nem burro», disse.

Este Papa, altamente culto e intelectual, não precisava de privar deste sonho bonito tanta gente miúda e até graúda!
O que é que ganhou com isso?

Pelo menos devia ser-nos reservado o direito à fantasia e ao sonho!

Abraço.