segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ternuras














Em meados de Maio que passou, tive a surpresa inesperadíssima de encontrar à porta da minha casa dois gatinhos abandonados que com um miado dilacerante, chamaram a minha atenção.
Fechados dentro de um saco de supermercado, suplicavam por socorro.
Fazerem isto… e logo a mim.
Logo a mim é que tinha que acontecer uma situação destas, doida por cães e gatos desde sempre.
Fiquei com o coração em alvoroço sem saber o que fazer.
Não tinham mais de quinze dias.
Mal se punham em pé.
O que fazer com esta crueldade?
Eu que já tinha duas gatas donas absolutas do seu espaço e que já eram uma preocupação cada vez que tinha que me ausentar.
«Se fossem mais pequenos matava-os, mas já abrem os olhos» - disse alguém que se aproximou.
Arrepiei-me e disse: «Vamos tentar uma solução».
Primeira medida: agasalhá-los.
Segunda: correr ao hipermercado mais próximo comprar leite próprio, biberão, e um saco para por água quente.
Tudo isto numa correria, pois a situação era para mim aflitiva.
Cheguei, aqueci o leite, alimentei-os e, com muitos miminhos, tentei transmitir-lhes segurança.
Coloquei-os numa cama muito confortável.
Acalmaram.
O saco da água quente, penso que lhes fez lembrar o calor da mãe.
Era fome, o frio, o desnorte – pobrezinhos!..
E agora?                                    
Ficam na rua na varanda.
Mas está tanto frio.
Que problema para mim aquelas duas criaturas indefesas e ternurentas.
Depois de algumas horas e muita hesitação, diz o meu marido que acabava de entrar: «Não pode ser, já temos duas, é impraticável. Eu já trato disso…».
A morte dos pobrezinhos outra vez em perspectiva.
Quando eu olho para aqueles dois seres indefesos já confortavelmente instalados, e por mais que eu própria também achasse irracional, não consegui aguentar a ideia.
Saí para não assistir à cena, e chorei sozinha.
Quando voltei, a sensibilidade tinha falado mais alto.
Os meus protegidos continuavam no seu novo aconchego, calmos e a recuperar da aventura por que irresponsavelmente os fizeram passar.
Ficaram connosco, e fazem as delícias de todos, com as suas traquinices.
Tratei deles como se fosse a própria mãe, dei-lhes biberão e fiz-lhes a higiene que a mãe lhes faria. Ganharam a amizade e a simpatia de quem, à partida, ofereceu resistência.
Nunca ouvi aqueles dois bebés miar, ou expressar qualquer gesto de desconforto ou mal-estar.
Tiveram um crescimento óptimo e são dois irmãos muito felizes.
Até as gatas os toleram e às vezes entram na brincadeira.
A ternura e a amizade que manifestam um ao outro e a nós são inesgotáveis.
Os humanos deviam seguir-lhes o exemplo.
Abraço.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Caprichos perigosos















Estou neste momento ainda meio boquiaberta com o brutal desfecho da vida do cronista da má-língua Carlos Castro.
Diria eu ao pensar mais calmamente, que ele mesmo cavou a sua própria sepultura.
Ao aliciar jovens musculados e bem parecidos para o mundo da moda, a troco de favores mais que duvidosos e com promessas nem sempre concretizáveis, era mais que evidente que se estava mesmo a pôr a jeito.
As ilusões neste período da vida, não só não têm limites, como não perdoam os falhanços.
Com a sua provecta idade, ao senhor, cego de amor e gula, só lhe faltou um pouco de inteligência.
A idade das fantasias já devia ter passado por ele há muito.
Se queria ser útil, oferecia-se para fazer o papel de avô conselheiro, sei lá.
Bom, mas há outra questão em que tenho pensado.
Que um jovem imaturo, sem experiência de vida, caprichoso, tenha as suas ambições e queira, sem grande trabalho ou esforço, ser uma estrela, subir ao topo, eu que também já tive vinte anos, até posso compreender. Há muitos assim.
Agora que a família os incentive e os inscreva em concursos descartáveis, que apenas servem para angariar audiências e exibir o físico, eu não posso compreender.
Diria eu que o incentivo ao exibicionismo e à cultura exacerbada do físico não será a melhor forma de encaminhar um jovem.
Há valores que ficam diluídos no meio de tanta vaidade.
Penso que aos pais ou a outros responsáveis pela educação dos jovens compete abrir caminhos e mostrar os perigos e não empurrá-los irresponsavelmente para o que pode ser um não-retorno.
Este crime hediondo pode ser assacado a mais que uma pessoa…
Também à vida, talvez!...
Abraço.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sonhos












Sonhei.
Sonhei que o mundo estava em paz.
Que tudo era belo.
Que ninguém estava triste.
Que cada um de nós «era» todos.
Que o mundo irradiava luz, de todas as cores.
Que o rosto das pessoas transparecia felicidade.
Que a alegria era a palavra de ordem.
Que caminhávamos lado a lado, de mãos dadas.
Que sorríamos sem sombras.
Que falávamos com ternura.
Que amávamos sem trocas.
Sonhei que sonhava.
Ao acordar, ofuscada pela luz interior, fui á janela.
Tudo me pareceu igual.
Mas qualquer coisa se impunha.
Ah!
O sol.
Depois de uma longa ausência, apresentava-se radioso no céu azul.
O mundo continuava.
Gente que grita.
Carros que aceleram.
Mas o sol, esse, estava acolhedor, radioso e anteviam-se dias melhores.
É bom sonhar assim, positivo.
Como dizia o poeta:
«O sonho comanda a vida».
Abraço.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Plásticas, plásticas, plásticas.















Estamos na era das plásticas.
É o que está a dar.
São plásticas a tudo e mais alguma coisa.
Os cirurgiões da moda, esses, não devem sentir a crise.
Agrada-me muito que a ciência e a técnica avancem e estejam ao alcance de todos, no que respeita à saúde. Que sirvam para reparar danos que, há anos atrás, seriam irreparáveis.
Que corrijam sempre que necessário, pequenos ou grandes defeitos físicos que impedem as pessoas de serem felizes e úteis, quando o defeito é mesmo sério.
Quem dera isso estivesse ao alcance de todos.
Mas daí a ir para uma plástica porque o nariz é maior ou menor, porque o rabo não está no sítio desejado, porque as maminhas são pequenas, ou porque os lábios não são delineados a gosto etc.
Meu Deus, quanta insatisfação, quanta vaidade, quanta frivolidade...
Como se o resultado do nosso trabalho, onde investimos tantas energias, não tivesse mais para onde ir.
Como se o nosso país não estivesse em crise.
Com se não houvesse gente com fome e sem emprego.
Como se estes gastos não fossem um insulto à pobreza que por aí prolifera.
É ignorando estes problemas que a nossa televisão generalista, se permite dar voz a pessoas que até são operadas em directo, porque querem ficar eternamente perfeitas.
Até se esquecem de que a idade não perdoa e as cirurgias também têm prazo.
E o mais grave é que aliciam outras.
Só que se «esquecem» de dizer que os serviços delas são troca por troca.
Promovem os serviços, mas não pagam nada por eles, só o nome e a imagem.
Os incautos, que transpiram para ganhar o seu sustento e o dos filhos, vão caindo mas sem benesses, são incógnitos.  
E muitas vezes, por falta de cultura e apenas olhando para a forma física, para ser olhado(a) na rua, para ser alvo das atenções, para ser como os famosos.
Lá vem mais uma dose de prestações que, provavelmente, irão ensarilhar uns largos meses da vida que normalmente já não é fácil.
É caso para dizer: vaidade a quanto obrigas...
Santa paciência.
Abraço.     

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Imagem












A nossa imagem, assim, à priori, vista pelos outros, pode sugerir juízos de valor errados.
Normalmente, o que nos fica do primeiro contacto, nem sempre corresponde à verdade.
Uma pessoa pode apresentar-se vestida de uma forma despreocupada, brincando com tudo e nada, parecendo fútil e com pouco conteúdo, e ser um ser humano com capacidade de trabalho, honesto e empreendedor.
Ou, o outro lado da moeda, apresentar-se vestida formalmente, sisuda, sem hipótese de confianças, e revelar-se afinal um autêntico canastrão na vida e no trato, com ausência de criatividade, e uma nulidade profissional e familiar.
Donde se conclui, que a imagem mostra o que se parece mas nem sempre mostra o que se é.
A precipitação não é boa conselheira.
Os nossos olhos são muitas vezes gulosos, e não deixam o cérebro funcionar.
Agradam-se do que está fora e nem se dão ao trabalho de equacionar o que se passará lá dentro.
São estas apreciações levianas que nos fazem, muitas vezes, tirar conclusões erradas e,
logo nos primeiros contactos, marcar negativamente uma pessoa.
Daí aquela velha máxima: vêem-se caras e não se vêem corações.
Abraço.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Eleições















Chegou finalmente o dia D.
Disciplinadamente, lá fomos mais uma vez cumprir o dever de cidadãos conscientes e livres.
Nesta manhã gélida de Janeiro, os trinta quilómetros que nos separam da nossa mesa de voto significaram a troca do aconchego pela confusão da proximidade da urna onde iríamos depositar o nosso testemunho.
Surpresa! Em tantos anos, era a primeira vez que se aglomerava tanta gente para votar.
Ficou a interrogação: o que quer isto dizer?
Será mais do mesmo?
Será que se avizinha alguma mudança?
Será o reforço do poder instalado?
Será que o nosso povo é masoquista?
Será que as chicotadas que tem levado sabem-lhe a pouco?
Será, será, será……
Se calhar… o nosso povo tomou consciência e pensou que a abstenção não é solução.
Que abstendo-se fica sem legitimidade para contestar.
Que abstendo-se é o mesmo que dizer que não dá por nada.
Que podem malhar à vontade.
Que se está marimbando para o que fazem com os impostos que arrecadam à conta dele.
Que ele é quem paga a maior factura.
Fiquemo-nos por aqui, mas muito mais haveria para dizer.
Aguardemos.
Abraço.

P.S. - Já estão aí as primeiras projecções.
É mais do mesmo.
É pena.

sábado, 22 de janeiro de 2011

O meu espaço













A Rota da Memória foi um espaço criado por mim para nele registar aquilo que vou observando, que vou sentindo, e que me pareça oportuno.
É um espaço intimista onde também me permito partilhar com quem me lê situações que, por vezes, ao longo da vida, estiveram trancadas a sete chaves, nos arquivos da minha memória e que, provavelmente, por lá ficariam não fosse esta oportunidade.
Digamos que, em parte, é uma espécie de catarse, que ajuda a limpar alguns resíduos
que, parecendo que não, nos deixam mais leves e livres de fantasmas.
Fantasmas que, quer queiramos quer não, nos perseguem e nos deixam melancólicos, tristonhos e a sentir que algo nos falta.
Hoje, aqui ao redor da lareira, neste dia sisudo e frio, e numa fracção de segundos, pensei nas minhas raízes que já há muito não existem, e pensei que era preciso telefonar para saber como estavam.
O meu subconsciente delirou! De vez em quando prega-me estas partidas.
Quando as raízes são profundas, e parecem quietas, inactivas, de repente há um momento em que se agitam e nos abanam como que a quererem dizer-nos que acordemos, que já tivemos um passado e que parece que foi ontem e tudo não passou de um sonho mau.
Claro que é coisa de segundos, a vida já nos calejou quanto baste, para aguentarmos estes momentos que não são assim tão raros.
É para isto que este espaço serve.
Parecendo que não, a partilha alivia.
Votem bem amanhã, eu ainda estou a reflectir.
Abraço.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As eleições das nossas dúvidas








Mais uma vez se aproximam a alta velocidade as eleições de todas as dúvidas.
Depois de duas semanas a aguentar, mais uma vez, aqueles senhores que só falam, só falam, chega o dia de irmos todos «com a cabeça entre as orelhas», cumprir o dever.
É a primeira vez que dou comigo sem uma perspectiva clara do que vou fazer.
Foi isto que os políticos de uma maneira geral, fizeram de nós. Desconfiados e descrentes.
No meio de grandes ou pequenos aglomerados, anda o povo que até está a precisar de se divertir e tem ali um pretexto.
Gritam de bocas abertas até não dar mais, de olhos a saltar das órbitas, desfiando frases que acham apropriadas para o momento.
Que pobres figuras, muitos deles! Na sua ignorância e simplicidade, deixam imagens bem marcantes do que é este pobre Portugal á beira-mar plantado.
Os políticos, esses, vão distribuindo sorrisos e aceitam com algum pudor os beijos e os abraços que, com entusiasmo e alguma esperança, o povo lhes dá.
E vão-se aproveitando, é a hora da sedução, a hora da pescaria…
Alguns (o próximo PR e seus apaniguados) procuram aqui a garantia de mais uns anos ao leme deste barco cheio de rombos e buracos, feitos por eles próprios.
Apesar da tragicomédia, cá no fundo, no fundo, é bom termos conseguido o direito de votar, é preciso fazê-lo, sim, e fazê-lo em consciência.
Até domingo, toca a decidir.
Abraço.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Os adultos e as crianças



Estamos numa época em que toda a gente, queira ou não, possa ou não, tem o seu tempo ocupado com a profissão e os afazeres diários inadiáveis.
Porque assim é, o dia é grande e sem espaço para grandes paragens. Veja-se a hora de almoço: o estilo come em pé (uma sopa), virado para a parede, é em grande maioria o que se pratica.
O que resulta disto?
Gente apressada, mal-humorada e sem paciência para ninguém nem para si próprio.
Quem é que paga esta factura quase sempre?
As crianças, claro.
Não pediram para nascer e são vítimas desta vida alucinante.
Logo pela manhã, entregues a amas, avós e outros familiares, ou depositadas nos infantários e escolas – e na sua grande maioria, só recolhidas onze ou doze horas após.
Digamos que um regime destes é duro para qualquer das partes.
Isto pode ainda ser mais grave se a criança, por motivos de sobre-ocupação dos pais,
tiver de passar a semana toda nos avós.
O que isto representa é um défice de atenção, afecto e diálogo que é necessário nestas idades, entre pais e filhos.
Resultado: pais ausentes, frustrados e insatisfeitos por sentirem que o seu papel de pais está a falhar.
Para colmatar esta situação, quando têm as crianças com eles, tentam compensá-las da forma menos correcta: aguentam-lhes todas as birras, não são firmes quando é preciso sê-lo, compram-nos com guloseimas e brinquedos desnecessários, que eles num ataque de má educação, partem e atiram ao chão desinteressados.
São estas crianças que mais tarde se revoltam contra os pais e avós e os ignoram na velhice nos hospitais e lares.
Faltam os laços afectivos, a presença e a atenção que só os pais podem dar.
Para isso faltam as condições.
Abraço.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Angola, ainda a propósito de liberdade















Fui uma daquelas que pagaram com juros parte da factura da guerra em Angola.
Casada há pouco tempo, vi o marido ser arrancado (arrancado é mesmo o termo) ao curso de direito na Faculdade em Lisboa.
Depois de cumprir três meses de recruta em Mafra, mais uma caterva deles em Lamego nos Rangers, recebi a notícia mais temida.
Destacado para Angola.
Partida a oito de Agosto de mil novecentos e setenta e dois.
Apesar de ser mais que provável, a notícia caiu que nem bomba.
E agora?
A pergunta ficou no ar, alucinando o pensamento dos dois.
A resposta foi imediata.
Vamos os dois, se a ele era imposto aquele sacrifício de loucos, dois teríamos mais força para o enfrentar.
Ainda que para isso tivesse que deixar em lágrimas a mãe viúva há pouco tempo, o que me doeu muito fundo.
Passados três meses após a dolorosa, quase desumana partida dele, lá vou eu cheia de coragem e saudades imensas!
Não fazia ideia do que ia encontrar. Só sabia que havia muito calor. Fui preparada para isso.
Logo ao desembarcar em Luanda, depois de nove horas de viagem no Jumbo setecentos e sete da TAP, tive o primeiro impacto: fui recebida por uma lufada de ar quente carregado de humidade, que me deixou ensopada de suor, que nunca mais me largaria.
Depois de matar as saudades… «e agora o que se segue»?
Mais hora e meia em avião «regional» até Cabinda.
Nesta cidade havia de ter de ficar um mês – a cento e vinte quilómetros do quartel do marido, porque a casa que foi feita de propósito para ficar com ele dois anos ainda não estava pronta.
Que desilusão logo para começar!
Foi um longo e entediante mês, aquele.
Estava rodeada de mordomias mas não tinha o que mais desejava, havia dias desesperantes.
Finalmente o dia mais desejado. A expectativa era grande.
A casa onde iria morar por dois anos, tinha os mínimos, foi com entusiasmo que a preparei para, durante dois anos, vivermos o mais confortavelmente possível.
Cada dia que passava era motivo de espanto. O que via enternecia-me, entristecia-me e revoltava-me.
Aquele povo estava mesmo dominado e humilhado, com fome e submisso.
As barrigas das crianças, que andavam com os olhos grandes no infinito, cheios de fome, marcaram-me para sempre.
Só quem vivia em festas permanentes no quartel é que se sentiria feliz e sem obrigações para com aquelas pessoas. Sentimos a necessidade de tomar conhecimento, de fazer alguma coisa, e penso que fizemos, demos um pequeno contributo.
Aquele batalhão, que conheci de muito perto, deixou a sua marca, fez a diferença.
Só por isso valeu o pesado sacrifício.
Até os bombardeamentos ao quartel, os ataques às colunas militares, embora com esforço, se vão esquecendo. Mas muito penosa e lentamente.
Angola: mais de dez anos de guerra sem honra nem glória.
Depois do 25 de Abril, voltámos em liberdade.
Abraço.    

sábado, 15 de janeiro de 2011

Liberdade















Ser livre.
Quem nasceu cinco ou seis anos antes ou depois do vinte e cinco de Abril, não imagina (ainda que lhe façam o relato) como era não ter liberdade.
Não podermos dispor de nós como seres pensantes e autónomos.
Sermos impedidos de expressar as nossas opiniões sobre qualquer assunto que fosse contrário ao regime vigente.
Sermos obrigados a aceitar uma guerra colonial com a qual não concordávamos.
Sermos obrigados a largar uma vida que então estava a começar e entregarmo-nos aos senhores da guerra.
Ficarmos assim durante três ou quatro anos longe de tudo e de todos (não havia os meios de comunicação que há hoje).
Sempre na dúvida infernal sobre se voltaríamos ou não.
Quantos voltavam numa caixa de pinho!...
Sentirmos que não éramos donos de nós, que não tínhamos identidade.
Sermos completamente manietados. 
Sentirmo-nos humilhados ao termos que cumprir «missões» de guerra sem sentido!..
E muito mais haveria para dizer, mas penso que já dá para entender a situação vivida ao longo de dez ou doze longos anos.
Ser livre é isto, agora.
Dizermos ou escrevermos, com respeito pelos outros, o que nos vai na alma.
Podermos ocupar o nosso espaço no mundo insignificante em que vivemos, sem as tais peias e amarras.
A liberdade custou muito, muito caro.
Não havia necessidade!!!... 
Abraço.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Que desperdício!!!...












Desperdício.
É o sentimento que me assalta quando olho para a televisão, e vejo distribuídos pelos vários canais profissionais com valor, alguns deles com provas dadas, a servir de entertainers, nos períodos mortos do dia, isto é: das nove à uma e das duas às dezassete, dezoito... Não é que considere estes períodos menores, mas penso também que para os preencher haverá outros menos credenciados, que seriam igualmente capazes de desempenhar essas tarefas e que ficariam felizes se lhes dessem oportunidade de mostrar trabalho, com tanto desemprego!
Estes seniores que estão ao serviço deveriam estar a ser úteis noutras vertentes, para as quais estão certamente preparados.
E há tantos assuntos que precisavam de ser abordados e escalpelizados!
Assuntos que contribuiriam, de certeza, para esclarecer e educar o nosso povo que, por vezes, se mostra tão inseguro nos seus conhecimentos.
Em vez de levarem ao estúdio profissionais especializados só quando algo acontece que merece ser comentado e esclarecido, deviam entregar-lhes pequenos programas temáticos e assim cultivar o espectador e dar-lhe cultura e saber.
Dou comigo a pensar.
Será que estes profissionais se sentem realizados com os programazinhos que lhes estão confiados? Será que ficam deslumbrados com o mediatismo, o dinheiro, os luxos com que são «bajulados»?
Será que não sentem falta de nada?
Será que não se sentem diminuídos nos seus conhecimentos?
E a afirmação e a realização da sua qualidade como profissionais e pessoas, onde fica?
Não acredito que não sintam um amargo de boca, quando param para pensar!
Será que param?
O deus Dinheiro e as luzes da ribalta são efémeros.
Num ápice, adeus vida de ostentação e fama.
As estrelas também se apagam.    
Abraço. 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Educação














Educar é uma tarefa da maior importância. É a forma de transmitir noções e conhecimentos éticos, morais e valores humanos, que ajudem o educando a direccionar-se na vida, que o ajudem a reflectir na sua própria identidade.
Educar é também partilhar. Partilhar saberes e experiências.
Mas não nos fiquemos por aqui. Seria demasiado fácil e redutor.
Educação é entrega, é quase abdicarmos de nós em favor dos outros, é saber dizer e saber ouvir.
É uma tarefa nobre e complexa, exigente mesmo.
Exige preparação.
Mas exige também abertura, disponibilidade e informação actualizada - que é isso que falta hoje a boa parte das pessoas que têm o dever de educar.
Se não, vejamos: os pais que são os primeiros a quem é pedida responsabilidade, têm horários preenchidíssimos e à maior parte deles não foi dada qualquer espécie de apoio ou preparação que lhes desperte a necessidade de saber como educar correctamente.
A alguns professores (educadores), quanto a mim, de há um tempo a esta parte, também lhes falta «alma» para esta função.
Na preparação, dá a ideia de que por vezes lhes foi facilitada de tal maneira a vidinha que, com meia dúzia de pesquisas na internet e umas idas às aulas, aí temos mais um docente, mesmo que sem preparação firme, apenas pronto para «tomar conta» de mais umas vítimas para a posteridade.
A qualidade não abunda.
Sobressai a incapacidade de manter sequer a disciplina nas salas de aula e de se impor como educador.
Pergunto-me: onde ficaram as tão necessárias noções reais de psicologia, de sociologia, de civismo?
Onde ficou a auto-confiança para, sem agressividade e com prazer e entusiasmo, conduzir um grupo a bom porto?
O que vai ser dos meninos de hoje e homens de amanhã?
Não é com displicência, facilitismo e deixa-andar, que se colhem bons frutos!...
Educar é uma tarefa difícil mesmo!!!...
Abraço. 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Marcas












Isso mesmo: marcas.
Não de automóveis, de electrodomésticos ou de toda a panóplia de objectos para o mundo virtual e outros, que se adquirem e por vezes ficam por aí, a ocupar espaço e pó.
Marcas mesmo, físicas ou psicológicas, que nos gravam o corpo ou a alma.
Que nos deixam eufóricos, ou que nos tombam e deixam mergulhados no mais profundo desespero.
Todos as temos com maior ou menor profundidade.
Às vezes basta um olhar, um gesto, uma atitude ou um sorriso, um acontecimento, para que em nós seja gravada a tal marca.
Essa mesma, a que faz a diferença, a que transportamos connosco e recordamos para sempre.
Muitas vezes, as psicológicas doem, sangram, embora se consigam camuflar.
As físicas, essas, vêem-se, ficam expostas, exigem menos requisitos. 
Aconteceram.
«Ah! o que é que lhe aconteceu»?
Está ali, não há dúvidas.
É assim a vida, uma marca permanente.
Não estão lançadas no mercado estas marcas, mas também não é preciso: têm muita saída.
São marcas brancas.
Abraço.

domingo, 9 de janeiro de 2011

A mentira














Aqui há muitos anos atrás, dava comigo a pensar como o nosso país era tão pequeno e tão atrasado!
Havia muita ignorância, falta de recursos, falta de apoios a nível escolar, de saúde, e tudo o que fazia falta para ter uma vida mais ou menos digna.
Por tudo isto, houve uma onda de emigração que todos conhecemos e que deixou as nossas aldeias do interior desertas de homens jovens, que largaram a família e foram à procura de melhores condições.
Chegavam-nos notícias vindas de países distantes, os chamados países «socialistas»,
que a mim e a outros inocentes como eu, deixavam encantados e com pena de não podermos usufruir daquele desenvolvimento que englobava saúde, ensino, educação,
e desenvolvimento a todos os níveis.
Era preciso trabalhar para conseguir um país assim! E foi para isso que se iniciaram movimentos que, julgávamos nós, nos abririam as portas para um futuro melhor.
Bom, andámos iludidos, muitos de nós, durante tempo de mais!...
O encanto quebrou-se.
E para culminar, aparecem-nos os emigrantes vindos de leste.
Onde está o bem-estar e as condições desses países? A educação, a cultura tão apregoadas?
Soube há dias de fonte segura que, tal como no tempo da escravatura, ainda há quem castigue os filhos amarrados a um tronco, e com (imaginem) pauladas com um ferro, chibatadas e outras coisas assim dignificantes para um ser humano educado e culto.
Para não falar da civilização arcaica e ignorante onde a mulher tem a última palavra, se é que a tem. Onde elas são sovadas por maridos bêbados e trogloditas. Situações destas só no Portugal atrasado do século dezanove!...
Não é possível, estou verdadeiramente enraivecida com a fraude.
Esconder o que precisava de ter sido denunciado, não foi correcto.
Ou será que lá só mostravam o que estava preparado para a propaganda?
Grande mentira!...          
Abraço.

sábado, 8 de janeiro de 2011

O inverno











Este inverno parece ter vindo para ficar.
Anda furioso, vociferando e lançando raiva a torto e a direito.
Soltou o vento que uiva, a chuva que fustiga a torto e a direito os telhados e as janelas das nossas casas, que põe os rios a transbordar, os muros a desabar, e as nuvens que se rebelam e soltam trovoadas…
As árvores inclinam-se respeitosas, e as aves desaparecem acoitando-se receosas à espera de melhores dias.
Porque será que anda tão zangado o inverno?
Será que é a crise? Mas ele não paga impostos, não está no desemprego, não tem contas para pagar, não vai ao super mercado…
Se calhar é de indignação! Talvez porque não gosta da situação política do país, talvez porque anda raivoso com o que se passa debaixo das suas barbas de ancião: políticos em guerra, fraudes, negociatas, roubos descarados, corruptos «lavados», «reciclados» e postos em lugares de destaque.
Indignado talvez com tanta falta de civismo e de respeito.
Tem razão o inverno.
É preciso mudar, talvez fosse tudo bem diferente!...
Abraço.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O pensamento












Pensar. 
É o que fazemos todos os dias.
O pensamento é um companheiro permanente. É amigo, ou inimigo: depende da situação e da atitude.
Tem asas, umas asas enormes, que voam velozes para destinos desconhecidos, imaginários, inacessíveis e longínquos.
Leva-nos até às raízes mais profundas.
Desenterra lembranças. Fura como minhoca, caminhos já há muito desertos e abandonados, que há muito não nos habitavam.  
Deixa-nos felizes, optimistas, tristes ou angustiados.
É a pensar que nós mostramos se somos grandes ou pequenos. Às vezes o homem tem pensamentos obscuros que fazem dele um ser diminuto e insignificante.
Pensando, somos críticos, delirantes, racionais, incoerentes, criativos, etc….
É a pensar que planeamos acções que nos deixam orgulhosos, ou infelizes, envergonhados até.
É a pensar que nos organizamos, que planeamos, que projectamos e nos distinguimos dos seres irracionais.
A faculdade de pensar é única. É ela que nos guia e nos ajuda a traçar a vida que segue
à nossa frente.
«Não há machado que corte a raiz ao pensamento!...».
Abraço.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A crise existe?













A palavra crise já nos fere os ouvidos. Crise, preços que sobem, ordenados que descem,
Impostos que queimam, bens essenciais para muitos inacessíveis, compromissos inadiáveis sem poderem ser cumpridos, enfim, um sem-fim de situações problemáticas que deixam sem sono muito boa gente e gente muito boa.
A questão é esta: se existe mesmo crise e está à vista que sim, porque é que os centros comerciais se enchem com pessoas que saem com sacos a abarrotar, porque é que continua a haver filas intermináveis de trânsito não só nos fins-de-semana e pontes, mas todos os dias, porque é que os hotéis esgotam, porque é que os carros desaparecem dos stands?
Dá que pensar.
Com todos estes hábitos arreigados e com a tão apregoada crise, o que virá a seguir?
Quem sairá a perder?
Às vezes é o estômago que vai encolhendo!...
Porquê esta ânsia de ter, de ser, de fazer mais do que se pode?     
Será a necessidade de ombrear? Será o prazer de caminhar no fio da navalha?
Para muita gente nada há de mais importante do que manter a «pose», essa que, segundo as suas cabeças bem pensantes, os eleva à categoria social que ambicionam, ainda que para isso, tenham que sacrificar o essencial.
Santa ignorância!...
Abraço. 

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Saúde












A saúde é um bem prioritário na nossa vida. Durante a passagem de ano deve ter sido, sem margem para dúvida, a palavra que mais se ouviu. Diz-se muita coisa. Frases feitas, de circunstância, mas esta é a chave, é a mais repetida e toda a gente aprova acenando em concordância.
Pois é: saúde.
Sem ela a vida fica sem sentido, sem objectivos, o olhar fica parado e triste e tudo é pardo e sem brilho.
Não há dinheiro, posição social ou poder, que preencha aquela lacuna de tamanha importância.
O mundo que até então nos parecia um jardim florido, transforma-se num local onde abundam folhas murchas e pétalas sem vida.
Então se a saúde é tão importante assim para sermos felizes, porque não a tratamos melhor?
Sim, porque há doenças que somos nós que inconscientemente provocamos, às vezes quase como que num desafio atrevido, provocador.
E como?
Ao exagerarmos nas quantidades de alimentos que ingerimos, na pouca variedade dos mesmos, no que bebemos, nos açúcares, nas gorduras, nas noites perdidas quando podiam ser aproveitadas, no fumo que inalamos, etc.…
Isto para não falar de males maiores que proliferam em abundância por aí.
E se ponderássemos um pouco e preveníssemos males maiores?
Era bom que a nossa consciência funcionasse nesta direcção.
Já agora, SAÚDE!
Abraço