terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A morte saiu à rua





















É triste a morte!
É triste a partida de alguém que amamos!
É triste ver apagar um sorriso que irradia luz!
É trite ver saír de cena, quem ainda não tinha terminado o seu papel!
É triste ver o pano caír e interromper o acto que decorre!
Neste caso o acto de viver!
E como a vida era amada!
Está a ser doloroso assistir a este final!
Imagino o Sabugal hoje mais escuro.
Imagino o Côa a engrossar o seu caudal, com as lágrimas de quem a vê partir.
O Castelo, esse, vejo-o inclinado perante a grandeza da sua alma!
Partiste, mas ficarás no nosso coração para sempre, amiga!

sábado, 27 de dezembro de 2014

Estórias









Palavras leva-as o vento!...
Não, não era isso que eu queria dizer.
O vento leva é algumas penas, as que são leves!...
As palavras ditas, essas, caem muitas vezes é em saco roto!

Esta lenga-lenga toda para quê?...
Estava aqui a lembrar-me que, enquanto jovem, assisti muitas vezes à saída de pessoas da minha aldeia, à procura de melhores dias!
Ficavam por lá algum tempo na cidade grande e algumas, quando voltavam, vinham cheias de «mania»!
Dizia quem as ouvia que eram umas peneirentas e que... « vê lá! Até já vem a falar «cioso»!... Já nem conhece ninguém e nem sabe o nome dos garranchos, a que andou agarrada tanto tempo!»
E nem as pessoas as entendiam. Dizia-se que falavam caro, com palavras de sete e quinhentos...  
Uma vez, lembro-me que uma «ciosa» tipo tátá de lata, se dirigiu a um homem já casado, mas de estatura muito pequena que estava sentado no meio de um grupo e perguntou agarrando lhe o queixo.«Quem é este miúdo»!
Perante a estupefacção dos presentes que a elucidaram embaraçados,  disse muito afectada «Ai! E eu a chamar miúdo a um homem casado»!
Ficou tudo mais ou menos siderado e ficou também uma estória para contar e um rótulo na criatura!
Também havia aqueles/ aquelas, que esqueceram o passado e as dificuldades. Ficaram a meio caminho do plástico de baixa qualidade!

Abraço.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Neste entretanto...






Estamos então na altura de fazer o bem!
De enchermos os cofres do senhor Belmiro, de meter o ordenado (quem o tem) em equipamentos informáticos topo de gama, de dar desgaste  aos cartões passando-os nas máquinas até fazerem faísca!
Calcorrear sem destino, nem tino, as estradas do país e esturrar as notas nas bombas de gasolina.
Dar um ar de caridadezinha aqui e ali para que não se diga que ficamos com a consciência intranquila!
Passar ao lado dos que precisam depressa e sem olhar muito, não nos vão impressionar e caiamos na tentação de oferecer ajuda!...
E viva a vidinha, que é para se viver, pois ela é curta, coitada!
Esta época natalícia é uma riqueza!
Toda agente se cumprimenta, ainda que durante o ano se ignorem!
Tão amigos que nós somos!
Tão generosos e bem comportados!
É um regalo a distribuir amor!
Um regabofe de «amizade»!...
É engraçada esta forma de amar o próximo!


Bom Ano!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Natal genuíno






























O Natal também pode ser simplicidade com momentos de higiene mental!
Pode ser uma forma de estar com os que mais precisam, pelo menos em pensamento.
Pode ser genuíno e simples.

Está a ser isso o meu Natal.
Sem adereços e sem fugas.
 
Da lareira com filhoses, para a Natureza em estado puro.
Do aconchego para o ar gélido, mas saboroso do Cabo Espichel

É bom este estar natural e tranquilo!
 
Abraço para todos!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Poesia





Transcrevo:


HAJA NATAL..

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
- Está bem, eu sei!
- E as garrafas de vinho?
- Já vão a caminho!
- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
- Não sei, não sei...
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!

João Coelho dos Santos
in Lágrima do Mar - 1996
Agradeço à Lidinha, minha prima, o envio 

Boas Festas!










Desejo a todos umas festas cheias de coisas boas e muitos afectos! 

Abraço.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Mais uma relíquia
























Há objectos e coisas que nos mantêm ligados ao passado e às pessoas para sempre.
Por exemplo, a casa da minha avó materna e a chave da sua porta!
Era uma casa grande e, segundo a inscrição esculpida na parede, é de mil setecentos e sessenta e sete.
Era uma casa de lavradores, que para a época se podiam classificar como abastados.
Uma casa ampla, onde foram criados os sete filhos da minha avó (apesar de ela dizer quando já demente, que não tinha filhos e que quando morresse ainda levava o «raminho da palma»! Coisa que provocava risos inofensivos em todos!).
Era uma casa de trabalho, mas também de convívios e muitos, muitos afectos.
Numa das varandas, a que dava para as traseiras e virada a Sul, era normal, nos degraus já meio esconsos e gastos pelo tempo e pelo uso, nós, os netos, fazermos deles o sofá mais confortável e deixarmos acontecer grandes e saudáveis convívios, e troca de saberes.
Era lá que se liam às escondidas (pelo menos eu por ser ainda muito jovem e em casa o regime ser apertado),livros que então eram proibidos, como o Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio. Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Dostoievski etc...
Era um dos sítios onde se partilhavam cumplicidades.
Tinha uma vista privilegiada, era rodeada de campo e serras e um sol que a envolvia até se esconder!
Tinha em frente e quase a tocar-lhe tal era a proximidade, a Torre da Igreja.
O sino, dolente mas forte, batia as horas anunciando a todos que era tempo para executar esta ou aquela tarefa, única forma de situar as pessoas no tempo.
A casa da minha avó tinha uma porta grande e forte, por isso mesmo precisava igualmente de uma chave grande, forte e pesada.   
Aquela porta, que se abriu e fechou durante três ou quatro gerações, acusou o desgaste e teve de ser substituída.
A chave, essa peça de museu, que me foi confiada muitas vezes e que eu admirava, iria certamente ser atirada para o esquecimento, qual objecto sem préstimo.
Custou-me imaginar uma relíquia ser abandonada e pedi para ficar com ela.
Tenho-a  comigo há muitos anos!
Esta chave, sem valor material,tem para mim um grande valor afectivo.
É um elo forte que me liga ao meu passado e me leva a fazer voos rasantes e apaziguadores, da saudade que às vezes se instala!  Não me abrirá mais a porta da minha avó, mas abre-me de certeza a porta das minhas memórias e dos meus afectos.

Abraço.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Brincar ao faz de conta





Durante trinta e três anos, brinquei a sério ao faz de conta no Infantário onde trabalhei!
Era o meu trabalho e deu-me muito, muito prazer desempenhá-lo o melhor que sabia!
Adorei entrar no mundo imaginário das crianças e tentar seguir com elas, as suas fantasias cheias de criatividade,imaginação,tanta entrega e magia!
Foi bom demais, descer ao nivel daqueles seres puros e verdadeiros e de uma exigência boa!
Descer ao seu nível, falar a sua linguagem, interpretá-la  e ajudar no seu desenvolvimento, foi enriquecedor e uma grande aprendizagem!
Tenho saudades desses tempos e do contacto aconchegante e verdadeiro das crianças.
Nesta época de Natal, lembro-me sempre da azáfama e do entusiasmo que era a preparação da festinha e principalmente do brilho nos olhos de cada um!
 Bons tempos vividos com intensidade e muito gosto pelo que se fazia.
Desejo a todos umas festas felizes e com muita verdade no coração!


Abraço.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Eco sem som



Um eco enorme surdo e mudo, tomou conta dos gnomos que, tranquilos, viviam a sua vida  naquela pequena clareira do grande bosque!
Um eco que, embora sem som, foi profundo e ensurdecedor.
Quebrou o ritmo e a rotina daquele sítio mágico que era habitado por aqueles seres pequenos, calmos e indefesos.
Pareceu vir das profundezas, das catacumbas, desativadas há longos, longos anos!
Pareceu que o tempo recuou e mostrou a falta de educação do homem daquele tempo!
Grosseiro, intimidatório e autoritário!
A voz, aos urros ameaçava.
Apontava o dedo e dizia:
-Eu! Eu! Eu!...
Vocês? Sem préstimo, causadores de todas as desgraças!
Nós!...Nós!...!Nós!...
Nós é que somos bons, o mundo seria bem melhor só connosco!
Lá longe, bem ao longe, ouviam- se aplausos e berraria de apoio!
Os seres pequenos ficaram incrédulos e sem compreender aquela mensagem tão tonitroante!
Decidiram remeter-se ao silêncio!
Deixaram passar a cólera daquele ser primitivo e só depois de reflectirem continuaram a sua vida calma e à margem das atitudes pouco dignas daquela voz primitiva!

Foi uma espécie de conto!...
Abraço.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Dezembro e o Natal

 



Chegou o mês mais desejado do ano!
O mês da família, das filhós e dos excessos!...
O mês do êxodo das grandes cidades para as origens.
Programam-se as viagens, entopem-se os carros com pessoas e bagagens, e contam-se os dias!
Resmas de caixas e caixinhas levam dentro o que pretende ser, e em alguns casos será, um gesto de amizade e ou de ternura!
Noutros casos serão apenas gestos de faz de conta, que de amizade e afecto terão pouco!
Está assim, quanto a mim, adulterado o Natal!
Não aprecio muito esta época que se mascarou de consumista!!
Consumismo exagerado, ligações humanas e de solidariedade nulas.
Gostava mais quando o Natal tinha magia, e a tradição ainda se praticava nas aldeias e nas famílias!
Aquele que eu e os da minha geração vivemos tão intensamente!
O genuíno, o intimista, o do abra;o quente e das filhós feitas à lareira, com cânticos a acompanhar.
Aquele, sim, era o verdadeiro Natal. Sem pretensões, sem novo  riquismo, simples e quente por dentro.
O gelo ficava lá fora.
Nos corações acontecia Natal!
Esse Natal ainda hoje me acompanha e recordo com alguma nostalgia!
Não havia gestos frios, prendas para cumprir o protocolo, nem beijinhos de circunstância, sem tocar sequer a face.
Esta nova forma de Natal plastificado, deu lugar ao afastamento entre as pessoas e à frieza das relações.
A nossa cultura não passa por Ele!

Abraço.