sábado, 25 de fevereiro de 2012

O despertador ecológico

















Há um galo meu vizinho, que tem a tarefa de despertar todos os dias à mesma hora.
Hoje acordei com o seu cantar calmo e «responsável».
Sem estar munido de nenhum mecanismo electrónico, ele não falha.
Desempenha aquela que considera a sua tarefa, sem falhas.
Canta com convicção e em vez de nos aborrecer com o seu cantar, quase nos faz um convite a continuar o sono.
No absoluto silêncio da madrugada lá um pouco mais afastado, outro som que há muito não se fazia ouvir.
O mar.
Depois de longo silêncio e de excessiva calma, eis que se volta a fazer ouvir.
E… pum! Na areia que provavelmente já tinha saudades do seu bater amigo.

No aconchego do meu quarto, arrecado a calma que estes sons me transmitem.
Oiço-os e registo-os, como se de uma cantiga de embalar se tratasse.
Ao acordar, já a manhã vai alta.
O sol já aquece a terra que durante a noite gelou.
O galo galanteia as galinhas, suas companheiras de capoeira.
E o mar, o mar continua a sua «luta» com a areia.
    
Ser acordada por estes sons naturais, é mais um privilégio com que a vida me presenteou.

Abraço.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Nós e os outros
















Nós e os outros somos o Mundo.
Precisamos uns dos outros mais do que pensamos.
Nós conhecemo-nos, sabemos quem somos.
E os outros?
Será que correspondem às nossas expectativas?
Será que correspondemos às expectativas deles?
É claro que nem sempre.
As relações nem sempre são lineares.
Há desilusões, há mal entendidos e muitas vezes há também egoísmo.
Nem sempre é fácil compreender o outro.
Nem sempre é fácil estar disponível para o outro.
E como às vezes precisávamos!
Vivemos muitas vezes na ilusão de que quem nos rodeia e se diz nosso amigo, é o nosso porto de abrigo.
É o nosso ombro, o nosso refúgio.
O que acontece é que as desilusões acontecem.
Os que se dizem amigos não são tanto assim.
A teoria anda muito longe da prática.
Aí começa a selecção.
Há que separar o trigo do joio.
Há que fazer a triagem.
Dói ás vezes.
As desilusões deixam marcas que magoam.
A verdade é que relações de faz de conta são relações mentirosas e não servem.

É pena que só depois de amadurecermos e termos sofrido muitas desilusões
cheguemos à conclusão de que nem tudo o que parece é.

É bom ter amigos com quem se pode contar incondicionalmente.
Aquele que não falham, haja o que houver.

Abraço.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Os Vampiros















Vinte e cinco anos é muito tempo.
É tempo demais e a saudade do nosso grande Zeca Afonso é igualmente grande.

Zeca Afonso.

O cantor, o trovador, o poeta.
O poeta cantor da liberdade.
Aquele que, com as suas letras, despertou consciências e pôs muita gente a pensar.
Ultrapassou os cânones e, com coragem, chamou «as vacas» pelos nomes.
Alertou, escandalizou e denunciou.
Esteve sempre debaixo da mira da censura.
Sem medo.
O que mais me espanta é que as letras das suas músicas estão hoje infelizmente actuais.
Grande retrocesso.
Os vampiros estão novamente presentes.

Zeca Afonso tinha razão.

«Eles comem tudo.
Eles comem tudo.
Eles comem tudo.
E não deixam nada…»

Se continuarmos assim, qualquer dia não há nada para comer!...
Os vampiros estão instalados e «lambuzam-se».

Sou uma fã incondicional do Zeca e das suas baladas.
São um fenómeno de sensibilidade, de realismo e beleza.

Se quiser ouvir «Os vampiros», clique aqui.

Que saudades!
Vinte e cinco anos é muito tempo!...

Abraço

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A tradição também viaja





Muitos dos habitantes de Lisboa e arredores são gente que nasceu e cresceu na província.
Logo no início muitas vezes é difícil a adaptação.
É o sítio, são as pessoas, os costumes.
Enfim, é um corte radical.
É uma adaptação quantas vezes sofrida.
O desenraizamento a que somos sujeitos provoca algumas «feridas» que só com o tempo vão passando.
A necessidade obriga!..
Uma coisa é certa.
As tradições do nosso «berço» acompanham-nos.
Ficam connosco.
Às vezes só na memória.
Ás vezes lembradas com alguma saudade.
Outras, quando temos oportunidade, revivemo-las.
Recriamos todo o cenário, ainda que fora do tal «berço».
Este carnaval foi prova disso, pelo menos no que me diz respeito.
Uma reunião de familiares e amigos foi o pretexto para, à volta da lareira, saborear as iguarias do Entrudo.
Foi bom aquele convívio.
Aquele grupo estava em sintonia.
Todos recordámos tempos de então e saboreámos aquele cozido com todos os condimentos da nossa infância.
E que sabores!...
Um dia que fez esquecer um pouco a crise e as «pieguices» que andam para aí!...
É bom ter raízes e estar ligada a elas.

Obrigada, amigos, pelo afecto.

Abraço.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

E fez-se carnaval





Somos um povo de brandos costumes.
Avessos a confrontos.
Somos de paz e gostaríamos de poder estar sempre bem com todos.
Só por isso é que aguentamos tudo o que nos impõem sem barafustar.
Como se nada nos afectasse.
Como se não nos saísse do corpo e às vezes da alma.
Como se a situação em que nos puseram não fosse uma carga que pesa mesmo.
Contudo, depois de muito torturados, às vezes reagimos.

Esta retirada de mais uma regalia que foi o carnaval, mexeu
com o povo.
Não gostamos de perder e esta perda foi mais uma e foi a gota de água.     
De uma maneira geral as pessoas disseram não!...
O feriado a que há já tantos anos temos direito, foi mais uma vez um dia de diversão e descarga de «stresses» acumulados.
A tradição cumpriu-se.
Foi festejado e com piadas muito a propósito da situação que nos criaram.
O ridículo saiu à rua.
O assunto andou de boca em boca com ironia e alguma piada.
É assim.
Quem semeia ventos colhe tempestades!...
E já agora, o bom vinho também azeda!...     

É melhor um pouco mais de respeito pelas pessoas e pela cultura do povo.

Parabéns aos responsáveis que com coragem, colaboraram.
Até para o ano.

Abraço.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O coração manda?













Há atitudes que só conseguimos ter se o coração que nos habita for bem conduzido.

Acontece algumas vezes nós querermos dar um passo, e alguma coisa nos trava.
Parece que bloqueamos à volta de ideias e de atitudes, que muitas vezes nem sequer nos fazem felizes.
Muitas vezes a cegueira é tanta, que nem nos damos conta de que bloqueámos.
Encostamo-nos à sombra dos nossos orgulhos e paramos aí.
Porque será que nos comportamos assim?
Desinteresse?
Insensibilidade?
Orgulho de mais?
O resultado de culturas deformadas que recebemos e a que não soubemos dar a volta?
Ou apenas porque os nossos corações estão empedernidos e desprovidos do sentimento bonito que é o afecto?
Todos sabemos que o coração é um dos órgãos importantes que nos comanda.
Em termos afectivos, todos também deveríamos ter a noção de que é preciso não o deixar ultrapassar as barreiras impeditivas de sermos felizes.
Um coração cheio de raivas e orgulho fica de certeza azedo e velho mais depressa.
Um coração sem afectos é um coração estéril e frio.

É preciso evoluirmos para um futuro mais leve.
Menos complicado, sem maquiavelismos à mistura.
É preciso caminharmos sem pedras a aleijar-nos os pés.
E dar os passos que são às vezes difíceis de dar.
Deitar fora os obstáculos que nos impeçam de viver em paz.

É uma utopia?

Fica como reflexão minha apenas.

Abraço.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Já tinha saudades
















Estive uns tempos sem visitar o Oceano, meu vizinho.
Tenho tomado outras direcções, que me têm sabido igualmente muito bem.
Senti-me bem ao revê-lo.
Lá continuava ele qual bacia hidráulica em forma gigante.
Manso e tranquilo.
O stress não tem passado por ali.
Ao vê-lo, não pude deixar de pensar no célebre poema de Pessoa:

«Ó mar salgado, quanto do teu sal.
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar»!

Lágrimas!
Também as minhas já algumas vezes ajudaram a engrossar aquele enorme caudal!
É um bom sítio para aliviar o coração e lavar a alma.
Carregam-se baterias e arrecadam-se mais energias.
Aquele ambiente é sempre acolhedor, mas agora no Inverno torna-se ainda mais especial.
Aquele espaço.
Aquele silêncio.
Aquela convivência solitária.
É o melhor sítio para reflectir e muitas vezes tornar mais leve a vida.
Gosto daquele ambiente.
Pena, que os que como eu apreciam, não possam usufruir mais vezes.

Abraço.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A importância da Rádio












Ontem, foi o Dia Mundial da Rádio.

Há muito tempo, nos anos cinquenta sessenta, o rádio era um objecto de luxo.
Muito pouca gente tinha acesso a esse bem.
Na minha aldeia haveria meia dúzia, se tanto.
Era uma companhia, um divertimento e uma fonte de informação.
Em minha casa havia um aparelho desses.
Era através dele que o meu pai, às tantas da noite, ouvia com o som baixinho no recato da sua casa, a Rádio Moscovo.
Nessa altura era proibido ouvi-la.
Falava de assuntos que em Portugal eram tabu absoluto.
Esclarecia e mostrava caminhos.
Era uma rádio clandestina e por isso era ouvida quase em segredo.
Não esquecer que nessa altura, cá, se vivia no mais profundo obscurantismo.
Era a época da ditadura.
As notícias que passavam na nossa rádio eram filtradas e censuradas.
Só «saía» o que o governo vigente autorizava.
Por isso os que podiam tentavam, por aí, penetrar nos assuntos que lhes eram vedados.
Era muito difícil apanhar a frequência, só se conseguia por volta das onze, meia-noite ou mais.

Lembro-me que, na nossa rádio, passavam música todo o dia.
Havia aqueles programas de discos pedidos e era sempre a sair.
«Posso pedir um disco»?

Transmitiam também rádio-novelas.
Nessa altura (tal como agora na nossa televisão), tinham lugar de destaque na programação.
Passavam por volta das duas da tarde.
A essa hora, o som do rádio era posto no limite, para a que as vizinhas pudessem
seguir o enredo.
Lembro-me que eram rádio-novelas patrocinadas pelo detergente Tide.
Eram chamadas as novelas «da» Tide.
Tinham imensos os folhetins e toda a gente aguardava ansiosamente pelo próximo.
Às vezes era de cortar à faca.
Quando as cenas aqueciam, tudo chorava e dava palpites sobre o que achavam que deveria acontecer.

O rádio era realmente uma companhia e um meio de divertimento.

Havia também um programa que era feito em directo por um grupo de actores, que se chamavam os Companheiros da Alegria.
A essa hora, toda a gente ria com as piadas quase inocentes que diziam.

As músicas que passavam davam muitas vezes para um ou outro bailarico.
Punha-se o rádio na janela.
Na rua, os jovens faziam a «festa».
Com a chegada da televisão, a rádio ficou um pouco mais na sombra.
Tirou-lhe um pouco a importância que tinha então.
No entanto, nunca foi dispensada.
Pelo contrário, ainda hoje é um meio de contacto, diversão e informação.

Hoje, felizmente, não há censura (?).
E os conteúdos já podem ser outros.

Era assim nos tempos do obscurantismo.

Abraço.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Ainda o Carnaval















Como disse no texto anterior, na minha aldeia de há muitos anos atrás, brincava-se ao carnaval de uma forma genuína e espontânea.
Era tradição, não podia passar despercebida.
Brincava-se muito, mas duma maneira tranquila e alegre.
As figuras de proa eram dois irmãos, homens do campo.
Travestiam-se de mulheres, enfeitavam os burritos com as quinquilharias mais estapafúrdias que encontravam e, cheios de confiança no sucesso, começavam o passeio carnavalesco pela aldeia.
Com as suas figuras grotescas e munidos de um papel que fingiam ler, diziam os maiores disparates.
Só de vê-los as gargalhadas estalavam.
Quando começavam com a lengalenga, então era como se estivéssemos a assistir a uma revista com todos os condimentos, mas caseira.
Eram seguidos pelas crianças da aldeia e iam parando aqui e ali para se exibirem.
Os adultos também eram contagiados e a animação subia de tom.
As tascas eram paragem obrigatória.
Era preciso molhar a garganta e reforçar a imaginação.
Essas investidas ao copo, traduziam-se em alegre bebedeira no fim do dia.
Era preciso que alguém os ajudasse a descer do animal e a caminhada até casa era feita em desequilíbrio de um lado ao outro da rua, com as paredes a ampará-los.
As mulheres recebiam-nos em casa sem rancor.
Elas sabiam que um dia não são dias.
A alegria e a animação que transmitiam davam para perdoar os exageros da bebida.
A cama era o porto seguro que os recebia para um bom e merecido descanso.
Para o ano, eles lá estariam disponíveis para mais uma saga.     

As minhas homenagens, aos irmãos Balbino.
Palhaços pobres, afáveis e genuínos

Abraço.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Carnaval e a tradição












Hoje vou falar do carnaval, mas do carnaval simples e ingénuo de há muitos anos, quando eu ainda era menina.

Nesse tempo em que fiz a Escola Primária, havia no carnaval uma tradição que fazia as delícias das crianças.
Essa tradição chamava-se «O Testamento do Galo».
Era simples, mas exigia por parte das crianças alguma movimentação.
Tratava-se de quê?
Comprar um galo que seria oferecido nesse dia ao professor da terra.
Para isso era preciso que as crianças arranjassem dinheiro (para o comprar).
Quando faltava mais ou menos um mês para o dia, as crianças encarregadas da tarefa corriam toda a povoação, metendo o nariz em tudo o que tinha galináceos.
Observavam e tentavam encontrar o maior, o mais bonito, o mais gordo e vistoso galo.
Depois de encontrado o que mais agradava, passava-se ao «negócio» propriamente dito.
Se tudo corresse de feição, pagava-se logo. E o animal ficava à guarda da vendedora até chegar o dia.
Logo que chegasse, todas as crianças vestiam as suas melhores roupas e iam buscar o galaró.
Com serpentinas de todas as cores, enfeitavam-no.
Pegando nele ao colo, ora umas ora outras, começava a «procissão».
Era chegado o momento mais importante e desejado.
Ler o Testamento do Galo.
Era uma cantilena muito engraçada.
Uma forma de mostrar a toda a gente as últimas vontades do «condenado».
Sim, porque, na pior das hipóteses, o animal ia dar uma bela canja em casa da pessoa a quem era oferecido.
Então era um desfiar de lamúrias e brejeirices que punha toda a gente a rir.
Até as meninas solteiras, os velhinhos mais velhinhos eram sujeitos a chacota…
No testamento, o galo oferecia todas as partes do seu corpo.
Sem escapar nenhuma.
Era lido em voz alta, nos sítios principais da aldeia.
Só no fim de todas as crianças terem brilhado a ler de uma forma exímia todo o conteúdo do pequeno fascículo, é que se ia finalmente entregar o galo.
Claro que era recebido com agrado.
Íamos para casa felizes, com a tarefa cumprida e as mãos com alguns rebuçaditos…

Era um dia para não esquecer mais.

Esta era uma das tradições, mas havia mais.

Sei que na minha aldeia estão a recuperá-la

Nem todos pensam da mesma maneira!... Veja-se o Primeir-Ministro.

Abraço.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Pieguices














É isso, portugueses!
Então?
Onde está essa garra?
Chorões, lamechas, piegas?
Onde está a coragem dos nossos navegantes?
Do nosso aviador Gago Coutinho?
Onde está a força dos nossos emigrantes que sofreram no corpo o desenraizamento e o racismo de quem os recebeu?
Onde andam os nossos soldados que deram o corpo às balas, numa guerra fratricida durante tantos anos?
Onde andam os trabalhadores que todos os dias penam à procura de trabalho e não o encontram?
Onde andam todos?
E os que aguentam com toda a dignidade a fome?
E os que dormem na rua?
É aflitivo pensar que ficou tudo piegas, queixinhas mole, e pedinchão…
Razão tem o nosso primeiro.
Ele, sim, todo punhos de renda, mas um trabalhador à séria.
E ordens?
É um perito a dá-las.
Tradições?
Lixo!
A cultura?
Não está à discussão!...
O que «bebemos» nos nossos antepassados já era!...

O nosso primeiro tem toda a razão.
Abaixo as velharias.

As troikas, os rankings, os FMIs e outros palavrões modernos, é que estão a dar.
Vá lá, vá lá, deixemo-nos de carnavaladas e vamos ao trabalho.

Ó gentinha!...

Abraço.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

«Carnavalices»











Tão giro!
Não há carnaval para ninguém este ano.

-Onde é que eu já ouvi isto?
Ah! já me lembro!
Foi ao nosso ex Primeiro-ministro Cavaco Silva.

Como todos certamente nos lembramos, aqui há uns anos ele também decidiu retirar do mapa o alegre e bem-disposto carnaval.
Porque será esta embirração?
Será que os senhores apessoados que nos governam são tão taciturnos assim?
Não gostam que a gente brinque um pouco?
Se calhar acham que brincadeiras assim brejeiras, não dão prestígio ao país.
Sei lá, como é uma festa do povinho, devem achar que é coisa sem interesse!
Ou que o povo não merece festa?
Que raio de coisa esta.
Mas trata-se de uma tradição de sempre.
Mas o sr. Passos veio dizer que não devemos ficar agarrados a «velhas tradições».
Porquê? Podemos saber? Será que as tradições não fazem parte da cultura de um povo?
Será que este senhor primeiro-ministro não teve passado?
Não teve ontem?

Tem-me feito pensar…

Esperem lá.
Acho que descobri.
Eles devem achar que as palhaçadas são exclusivas e que só eles é que têm o direito de exercer!...

Se for assim, até têm uma certa razão, têm desempenhado bem o seu papel!.

Ai…ai…temos que ser nós a fazer o nosso próprio carnaval.
 
Abraço.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O fogo














Sempre, desde pequena, fui atraída pelo fogo da lareira.
Lembro-me de que até nas brincadeiras de rua com as minhas amigas, às vezes e à revelia dos pais, as mais velhas acendiam um pequeno lume, à volta do qual brincávamos e recriávamos cenas que provavelmente observávamos em casa.
Podendo parecer um gesto perigoso, na altura não seria tanto assim.
Era tudo muito pacífico e tranquilo.
Pelo menos as amigas que me rodeavam.
Havia sempre uma líder a quem os pais nos confiavam.
Isto tudo para falar do meu fascínio pelo fogo da lareira.
Talvez porque cresci e vivi durante bastante tempo à volta desse fogo de lareira.
Talvez porque em seu redor eu bebi muito do que sou hoje.
Talvez porque me devolve o que deixei para trás.
Talvez…
Talvez porque me identifico com a tranquilidade serena daquela chama.
Às vezes dou comigo sentada no chão a olhá-la fixamente e sou encaminhada para tempos que me deixam feliz e agradecida.
Pode parecer saudosismo.
Se calhar até é.
Mas é um saudosismo saudável.
Daquele que aquece e aconchega, tal como a chama da lareira.
Daquele que me devolve a serenidade e a paz que ao longo da vida sempre tenho procurado.

É bom não ser muito exigente com a vida!...

Abraço. 

sábado, 4 de fevereiro de 2012

É bom ter afinidades












Às vezes é bom recordar.
Ao longo das nossas vidas, são imensos os acontecimentos por que passamos e que observamos.
Alguns ficam connosco para sempre.
Outros, os menos importantes, são deitados fora porque o cérebro se recusa a registá-los.
Gosto, de quando em vez, de passar em revista algumas lembranças.
Sobretudo se estiver numa companhia agradável e com quem tenha afinidades.
Aí, começa a «retroescavadora» do cérebro a funcionar.
Percorre os recantos mais escondidos e traz à memória os arquivos que há tempos e tempos eram intocados.
É ver então os acontecimentos passados a saltarem para o diálogo, em catadupa.
Muitas vezes são pretexto para a gargalhada, outras para a saudade e outras para a emoção.
Há ainda os que nos fazem abrir a boca de espanto!...
-Olha! Já não me lembrava disso!...

Pretextos para dialogar.
Para comunicar.
Estar em sintonia.
Sentir que alguém com quem nos identificamos tem prazer em partilhar as recordações.

Os diálogos de convívio são sempre saudáveis.
Convívio apenas.
Sem interesse de coisa nenhuma.
Apenas contacto.
Tão importante nesta sociedade em que o isolamento é rei.
É saudável conduzir a vida nesta direcção.

Por mim, farei os possíveis.

Abraço.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Que griso!...













Lá fora o frio gelava.
Apesar disso, era preciso apanhar um pouco de ar puro.
Sim, porque aqui o ar ainda é puro.
Fui refrescar um pouco as ideias e, olha, para variar dei comigo na praia.
Lá, não havia ninguém no exterior.
Pudera, o tempo não convidava.
Ainda assim dei uma pequena volta.
Respirei o iodo e observei as envolventes.
O mar calmo beijava as areias que tinham como companhia umas poucas e tristonhas gaivotas.
O tempo não lhes era favorável.
O som sibilante do vento fazia-se ouvir fino e cortante.
O silêncio, hoje, «ouvia-se» mais.
Dava até para ouvir as águas do pequeno riacho que cantarolavam, ao escorrerem dos campos prenhes de água.
Um ambiente bucólico que me agrada muito.
Não fora o frio, ficaria a desfrutar por mais uns momentos.
O nariz gelava.
As pernas eram trespassadas pelo ar que, à beira-mar, é sempre mais fresco.
O mais aconselhável era voltar para casa.
Os pulmões já estavam com o oxigénio renovado.
O meu «ninho» quente esperava-me.
Este computador, como sempre, ajudou-me a partilhar mais um momento de calma e de tranquilidade.

São compensações que me reconfortam sempre.

Abraço. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O realejo dos meus encantos













Tive uns pais que, felizmente, me deram a oportunidade de, desde muito pequena, viajar e conhecer outros pontos do País para além da pequena aldeia em que vivíamos.
Isso, para a época, penso que foi uma oportunidade que não estava ao alcance de muitos.
Uma das muitas saídas foi á feira de S. Tiago, na Covilhã.
Uma feira já na altura muito frequentada

Tinha por volta de cinco, seis anos.
Lembro-me perfeitamente, como se não tivesse passado muito tempo.
O que vi deixou-me deslumbrada.
Então os brinquedos!...
É claro que ainda eram brinquedos artesanais e sem os artefactos e a sofisticação de agora.
Lindos e, para qualquer criança, apetecíveis.
Hoje, todos aqueles brinquedos são considerados uma verdadeira relíquia.
Depois de me terem satisfeito a curiosidade e de termos dado voltas e voltas à feira, lembro-me que o meu pai disse:
- Já escolheste o brinquedo que queres?
Eu respondi de imediato:
- Quero um realejo!
Espanto geral.
Esta minha resposta não era de modo nenhum a esperada.

- Realejo é para rapazes, escolhe outra coisa.
Lembro-me que insisti, mas não demovi o meu pai.
- Quero um realejo!

O meu pai considerava-se muito homem e não queria acreditar no que ouvia.
- Não, escolhe outra coisa.

O desgosto foi grande e chorei.
Chorei imenso.
Ou um realejo, ou uma bola.

Depois de fazer rir toda a gente, o coração derretido de meu pai rendeu-se.
Que vontade é que ele não fazia à sua menina?
Lá fui eu para casa com os dois objectos que fizeram de mim a menina mais feliz do mundo.
Fazia ferrôm… ferrôm… o dia todo.
A bola era para os intervalos com as amigas.
Devo dizer que mais tarde, e como forma de brincarem comigo, me ofereceram como prenda de anos, um pequeno realejo que conservo ainda.
Achei imensa graça.

Mais tarde, já adolescente, quis aprender a tocar acordeão.
- Nunca! - disse o meu pai - As meninas decentes não têm essas profissões!
Dessa vez foi ele que venceu.
Ainda hoje sinto uma certa frustração…

Outros tempos, outras mentalidades.

Abraço.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A vida e os humores














A vida não está para amar.
Isto é: não convida muito a grandes demonstrações de alegria.
Mesmo fazendo esforço, há uma enorme sombra.
O futuro não se apresenta risonho.
A insegurança tomou conta das vidas dos que vivem apenas do seu trabalho.
Dos que para terem uma existência digna não se serviram nunca, de esquemas menos claros.
Aqueles líricos que confiaram.
Aqueles ingénuos que nunca imaginaram que o seu trabalho honesto de uma vida não seria o suficiente para terem um fim tranquilo e igualmente digno.
Dói pensar nisto.
Dói pensar em como há tanta desigualdade e tantas diferenças.
Em como sendo todos feitos da mesma matéria, sejamos sujeitos a situações tão diferentes e humilhantes.
Está a ser difícil acreditar.
Acreditar nos Homens que nos governam, nas Instituições que nos deveriam servir
e, ao fim e ao cabo, num mundo de diferenças tão fortemente instaladas.
Porquê esta sociedade de poderes instalados e de gente tão egoísta interesseira e cruel?
Apesar de tudo, estamos sempre à espera de que, um dia, tudo seja diferente.
A esperança é como que uma tábua de salvação a que nos agarramos, neste mar revolto e tempestuoso em que nos encontramos.
Só os tubarões e os senhores do dinheiro se sentirão bem.
Quais vampiros que sugam o sangue das suas vítimas.

Devem comemorar com orgias de comidas, bebidas e outras, a situação que criaram e lhes está de feição.

Que lhes faça bom proveito

Ainda assim, prefiro não fazer parte desse grupo.
E, lá está: talvez um dia a vida se torne menos desigual!...

Abraço.