Tive uns pais que, felizmente, me deram a oportunidade de,
desde muito pequena, viajar e conhecer outros pontos do País para além da
pequena aldeia em que vivíamos.
Isso, para a época, penso que foi uma oportunidade que não
estava ao alcance de muitos.
Uma das muitas saídas foi á feira de S. Tiago, na Covilhã.
Uma feira já na altura muito frequentada
Tinha por volta de cinco, seis anos.
Lembro-me perfeitamente, como se não tivesse passado muito
tempo.
O que vi deixou-me deslumbrada.
Então os brinquedos!...
É claro que ainda eram brinquedos artesanais e sem os
artefactos e a sofisticação de agora.
Lindos e, para qualquer criança, apetecíveis.
Hoje, todos aqueles brinquedos são considerados uma
verdadeira relíquia.
Depois de me terem satisfeito a curiosidade e de termos dado
voltas e voltas à feira, lembro-me que o meu pai disse:
- Já escolheste o brinquedo que queres?
Eu respondi de imediato:
- Quero um realejo!
Espanto geral.
Esta minha resposta não era de modo nenhum a esperada.
- Realejo é para rapazes, escolhe outra coisa.
Lembro-me que insisti, mas não demovi o meu pai.
- Quero um realejo!
O meu pai considerava-se muito homem e não queria acreditar
no que ouvia.
- Não, escolhe outra coisa.
O desgosto foi grande e chorei.
Chorei imenso.
Ou um realejo, ou uma bola.
Depois de fazer rir toda a gente, o coração derretido de meu
pai rendeu-se.
Que vontade é que ele não fazia à sua menina?
Lá fui eu para casa com os dois objectos que fizeram de mim
a menina mais feliz do mundo.
Fazia ferrôm… ferrôm… o dia todo.
A bola era para os intervalos com as amigas.
Devo dizer que mais tarde, e como forma de brincarem comigo,
me ofereceram como prenda de anos, um pequeno realejo que conservo ainda.
Achei imensa graça.
Mais tarde, já adolescente, quis aprender a tocar acordeão.
- Nunca! - disse o meu pai - As meninas decentes não têm
essas profissões!
Dessa vez foi ele que venceu.
Ainda hoje sinto uma certa frustração…
Outros tempos, outras mentalidades.
Abraço.
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