quinta-feira, 30 de junho de 2011

Noite de medo












A minha mãe era uma mulher bondosa, paciente e carinhosa.
Tinha comigo uma relação forte e de grande ternura.
À noite, sobretudo no inverno, ela «prendia-me» com as histórias que me contava.
Ela conhecia a sua filha e a atenção que lhe mereciam as estórias.
Algumas romanceadas, outras reais.
É o caso desta que vou contar.
Numa noite escura e fria de inverno rigoroso e agreste, a minha mãe recém-casada, com o meu pai a seu lado ao serão, são surpreendidos por um som que quebra o silêncio que cobria a pequena aldeia.
Um som de gritos de grande aflição.
Meu pai, homem destemido, saiu à rua para tentar perceber o que se passava.
Apercebeu-se de que, ainda muito afastado da aldeia, um homem pedia ajuda.
Decidiu ir ao encontro dele.
Minha mãe terá ficado em casa, preocupada e com medo do desconhecido!...
No fim de algum tempo, ainda bastante pelo que ouvi, o meu pai regressa satisfeito por ter sido útil.

Resumindo:
O homem que gritava por socorro era um sapateiro da aldeia de nome Álvaro Abreu.
Regressava de um mercado, onde fora vender o seu próprio produto.
Montado numa mula e com a mercadoria num alforge (tempos do demo), era «escoltado» há imenso tempo, por um casal de lobos esfomeados que precisavam de refeição.
Em pânico, ia-se defendendo com um pau que costumava trazer sempre consigo.
Valeu-lhe a lanterna de petróleo que meu pai levou com ele, já que a sua luz afugentou os dois potenciais inimigos.
O homem, ao sentir que alguém se aproximava, acho que respirou de alívio.
A luz da lanterna assustou os bichos que fugiram campo dentro.
A vítima, por acaso amigo de meu pai, acho que lhe ficou eternamente grato.
O pânico foi grande.
Dois lobos esfomeados podem realmente ser perigosos e atacar um ser humano, ainda por cima no silêncio da noite.
Aqui está uma estória de solidariedade e de coragem.
Sempre vi no meu pai o meu herói, mas a partir daí passei a olhá-lo ainda com mais admiração.
Era assim que em minha casa se convivia.
Foi assim que eu aprendi a gostar de ouvir os mais velhos.
As suas estórias enriqueceram-me muito.
São recordações que fazem parte da minha história de vida.
Onde estiverem, obrigada pela ternura e paciência.

Abraço.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

As estórias que me encantavam
















Sempre adorei estórias.
Principalmente estórias fantásticas, apesar de algumas terem um fundo de verdade.
Á noite no inverno à lareira que crepitava envolta em silêncio e com o vento soprando lá fora, as estórias tinham um sabor diferente, ainda mais misterioso.
A minha mãe contava-me episódios que me deixavam encantada, curiosa e com todos os sentidos em alerta.
Lembro-me da saga do João Brandão.
Um ladrão que liderava uma quadrilha e percorria o país a roubar aos ricos para depois (dizia ele) distribuir pelos mais necessitados.
Um dia, o João Brandão e os seus homens sentiram-se perseguidos, e tiveram que se esconder vários dias e noites num pinhal junto de Penamacor.
Uma noite, ouviram ao longe o trote de dois cavalos.
Puseram-se em guarda. Saltaram para o meio da estrada e disseram: «Parem».
Para espanto geral, já todos se conheciam.
O João Brandão tinha na sua frente um fidalgo que, para proteger os seus bens, o acoitava a ele e ao bando sempre que eles pediam ajuda.
O ricaço não queria acreditar quando o João Brandão lhe ordena.
«Queremos dinheiro».
«Ó João, tu fazes-me isto? A mim que sempre te recebi e alimentei?»
«Senhor Pina, o senhor está demasiado confiante. Isto é para o senhor saber, que os seus bens só estão guardados enquanto eu e os meus homens, quisermos. Não confie demais».
O senhor Pina, que era acompanhado de um criado e levava dois cavalos com alforges cheios de moedas que serviriam para pagar aos seus assalariados, que viviam nos arredores, pegou em várias mãos cheias e distribuiu por todos.
Depois de servido, disse:
«Pode seguir. Pense que estará sempre nas nossas mãos».
«Está bem João, passa lá em casa terás o que precisares».
Era um grande «profissional» o João Brandão.
Tinha uma estratégia que não falhava!...
No fim de uma estória destas, escusado será dizer que o meu sono fugia e, ao deslocar-me, olhava aterrada para todos os lados a ver quando me aparecia o terror do João Brandão.
Eram noites complicadas e de imaginação efervescente.

Era bom ouvir as estórias, mas difíceis de digerir.

Abraço.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O meu tio Narciso















É este o tio a quem me referi, no meu texto anterior.
Era um tio especial.
Um tio rebelde, boémio, mas um tio ao mesmo tempo engraçado e de uma utilidade sem par, para todos os que viviam naquela aldeia pacata e arredores deste canto da Cova da Beira.
Para lá dos copos que adorava, e do jogo da sueca em que era perito, exerceu sempre a profissão de barbeiro.
Em paralelo, praticava com mestria «medicina» sempre que era solicitado.
E como era solicitado!...
Não tinha qualquer preparação para o fazer, mas a verdade é que se mostrou um expert na matéria.
Não só as pessoas da aldeia o «consultavam», mas toda agente das redondezas recorria ao seu saber.
Logo de manhã, ou até altas horas da noite, lá se levantava ele, às vezes acabado de deitar, outras ainda nem sequer se tinha deitado.
Nunca se negou a cumprir «o seu dever». Fosse doença geral ou dor de dentes, ajudava a todos.
Não cobrava nada a ninguém, agradeciam-lhe com géneros.
Era um tio disponível e parecia que nascera para cumprir aquela missão.
Ajudar os desfavorecidos principalmente.
Deslocava-se a pé às aldeias vizinhas, e andava quilómetros sem se cansar.
Bastava um telefonema par o comércio mais conhecido.
«Receitava» os medicamentos num bocadito de papel já amarfalhado apanhado ali em qualquer sítio.
Acompanhava os doentes ao médico.
Mas havia um que até dizia: «Vão ao Narciso».
Nas farmácias ali à volta conheciam a letra dele e as «receitas» e aviavam os medicamentos sem hesitar.
Chegava a casa muitas vezes bebido, mas contente pelo «dever» cumprido.
Comia a correr, não sem antes perguntar à minha tia ainda ao fundo das escadas: «Ó Zabeli! O que é que se come»?
Se a ementa não lhe agradava, dizia: «Come-o tu» - isto com sotaque de Alfaiates (na raia de Espanha), que nunca perdeu...
Mas nada de agressividade, era um parodiante.
Comia e lá ia ele para o grupo da sueca, onde ficava horas sem fim.
Diziam que era um malabarista, de vez em quando já o apanhavam a fazer «renúncias».
Levava o jogo muito a sério e zangava-se quando a coisa não corria como ele achava que era correcta.
Adoeceu.
Nem por isso deixou de ser útil.
O copito ficou para trás.
Notavam-se-lhe, nos olhitos já pequenos, a tristeza e a saudade do que passara.
Os cuidados e o mimo – não eram o suficiente.
Ele estava talhado para servir os outros e viver a vida.
Ainda que às vezes não fosse da maneira mais convencional.
Quando ele faltou, toda a gente sentiu muito a sua falta.

Eu, quando era pequena, tinha-lhe um medo de morrer.
Era ele que me dava as injecções quando tinha anginas.
Mais tarde gostei muito dele. Para lá de me divertir imenso, fornecia-me toda a literatura que me estava vedada.
Era um homem que lia.
Não só o Prontuário Terapêutico (na altura com outro nome que não lembro), sempre ao alcance da mão para tirar qualquer dúvida - mas toda a literatura dos clássicos.   

Onde estiveres, tio Narciso, «João Semana» da minha aldeia e arredores, a minha amizade.

Abraço.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Retalhos de uma vida










A vida é feita de episódios.
Uns bons, outros maus, outros assim-assim.
Já vivi o suficiente para guardar na minha memória alguns deles.
Uns marcaram-me pela positiva, outros, antes pelo contrário.
Já referi aqui no meu espaço alguns, apenas alguns, que me arrasaram.
Que marcaram fundo a minha personalidade.
Contudo, nem tudo é pesado e duro.
Há também momentos de que me recordo que merecem referência pela positiva.
Guardo na minha memória situações muito divertidas.
Em algumas, cheguei a participar. Doutras, apenas tomei conhecimento através de relatos feitos com muita piada.
A minha meninice foi passada junto da família.
Minha avó, a quem chamava carinhosamente de madrinha.
Minhas tias, por quem sempre tive uma amizade muito forte.
Passei junto delas momentos muito agradáveis e de alegria genuína.
Alguns deles hilariantes.
Na minha aldeia, só por volta dos anos setenta houve abastecimento público de água.
Foram abertas grandes valas em toda a volta.
Um tio meu, que era noctívago e gostava muito de um copinho, regressava sempre a casa fora de horas.
A minha tia (mulher dele), bondosa, paciente, lembrou-se de o poupar a uma valente queda.
Como o largo onde moravam era pouco iluminado, pôs à janela um candeeiro a petróleo.
Achou que assim ele veria a vala mesmo em frente.
Só que o copito era dos bons mesmo.
O meu tio em vez de olhar para o chão, ficou embasbacado a olhar para a luz…
«Porque será que aquilo está ali na janela»?
Pumba!
Lá vai ele para dentro da vala.
Ficou lá a chamar pela «Zabeli» até que ela, coitada, acordou do seu sono acostumado a ser perturbado por situações destas e outras parecidas.
Penso que foi um episódio digno de ser registado.
Ela, frágil e com poucas forças, a tentar ajudá-lo.         
O que era ainda mais engraçado era no outro dia, ela a contar o episódio na sua intimidade familiar, com um humor refinado e uma resignação de admirar.
Para a minha tia Isabel o meu apreço e a minha saudade amiga.
Que saudades!

Abraço.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

As palavras












A palavra é a forma utilizada por quase todos nós para dialogarmos.
É através dela que se trocam ideias, que se coordenam sectores, organizam grupos, decidem negócios, transmitem conhecimentos.
É também através dela que educamos, nos organizamos em família e na sociedade.
Quanto a mim, é uma arma que nos foi confiada.
Todos, ao usá-la, devíamos ter essa consciência e fazer um uso digno e correcto desse instrumento tão poderoso.
Veja-se o caso dos políticos.
Deviam ter a noção de que, uma vez fora da boca, ela já está a fazer os seus efeitos.
Pode deixar marcas positivas que nos enaltecem, que nos fazem sentir pessoas dignas e credíveis, ou marcas que manchem o carácter e mostrem o lado escondido.
Podem ser uma influência para quem nos ouve.
Podem ser o nosso cartão de visita.
Com todo este peso, cabe-nos pensá-la bem e geri-la ainda melhor.
Tudo depende de nós.
Da nossa preparação como cidadãos, do nosso bom senso e de como gerimos o nosso pensamento e emoções.
O que acontece é que nem todos são habilidosos na manipulação da mesma.
Vemos que nem todos têm preparação cultural para a utilizar como ela merece.
Muitas vezes não a conseguimos transmitir de forma que nos compreendam e nem sempre somos suficientemente polidos a usá-la.
E o que acontece é que o discurso sai de forma menos correcta.
Não agarra, não convence.
Analisar, ponderar e dialogar com sabedoria são passos muito importantes e indispensáveis.
A palavra é uma arma poderosa e cabe-nos a todos saber como utilizá-la.
A palavra é digna do nosso respeito.
Tratemo-la como merece.
Sejamos dignos
Como diz o ditado.
«Tenham tento na língua»!...
Não é propriamente uma esfregona.

Abraço.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O vento











Por norma, não gosto do vento.
Acho-o incómodo, desconfortável e irritante.
Apesar disso, sei que é necessário e faz falta para propagar os pólenes e as sementes e até para limpar impurezas da Natureza.
Estes são os meus conhecimentos reduzidos, reconheço.
Bom, isto para dizer que, apesar disso, há duas situações em que o aprecio.
Hoje, dia de vento – o tal desagradável – , decidimos dar um passeio pinhal dentro.
Foi um passeio tranquilo, e nada de vento.
Quer dizer: ele estava lá, mas apenas se ouvia.
E que bom que foi ouvi-lo.
Por cima de um vasto pinhal e no meio do silêncio total, o som que se ouvia era calmo, doce e tranquilizante.
Bbbbuuuuu…bbbbbuuuuu…bbbbuuuuu…bbbbbuuuuu…
Quase nos levava em imaginação, para um sítio fora do universo.
Que bom que foi.
Também a nós nos ajudou a limpar alguma impureza que teimasse em entrar.
Outra situação em que gosto de o ouvir, é quando, no inverno, de noite, ruge e estamos no conforto da nossa casa sem ter que o apanhar assim, intruso, abusador, a incomodar-nos.
Como se pode ver, também o vento tem o seu lado positivo, apesar de poucos simpatizarem com ele.
Seja como for e sempre que for necessário… olha, que venha o vento.

Abraço.  

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A felicidade existe?














Felicidade o que é?
Uma ilusão?
Uma utopia?
Uma miragem?
Ou apenas um desejo?
Felicidade será atingir algo que desejamos muito?
Ou apenas cumprir com empenho o nosso dever?
Felicidade é um sentimento avassalador e tranquilizante.
É paz.
É a consciência limpa.
É o cérebro ao serviço do bem.
É estar bem connosco próprios.
É transmitir aos outros a necessidade de serem felizes.
É desejar que os corações do mundo se limpem de rancor.
É gritar que os ódios são empecilho para a paz no mundo.
É imaginar o mundo sem guerra.
Felicidade é tudo e nada.
É um estado de espírito...

Felicidade é já ali.
Inatingível!...

Abraço.

terça-feira, 21 de junho de 2011

O Verão começa hoje












Hoje, primeiro dia de verão, é também o dia maior do ano.
O solstício do Verão.
Começa bem.
O sol irrompeu forte e quente e promete novidades em termos de temperatura.
As férias estão aí, e finalmente um merecido descanso com elas.
Incomodam-me as crianças que logo que as escolas fechem, ficam à deriva, entregues a elas próprias e sem orientação.
A maior parte tem por companhia apenas as máquinas «virtuais», que, sendo usadas em demasia e sem controlo, podem ser muito perigosas.
Não só para a saúde (dependências etc.), como também para a sua própria segurança (aliciamentos…) e equilíbrio como pessoas.
O que fazer então?
Não é fácil neste contexto actual da organização da sociedade.
Aos pais, neste caso, não se pode exigir grande coisa.
O trabalho chama-os, a vida não perdoa.
Alguns nem férias têm.
Os avós, na maior parte, não têm controlo sobre as crianças.
A rebeldia da infância e da adolescência não é fácil de aquietar.
Então durante as férias que são longas, lá ficam a crescer mais um pouco sozinhas.
É aí que o futuro delas pode correr riscos.
As iniciações em maus hábitos e certas vidas menos próprias podem ter as portas mais franqueadas.
O que fazer então?
Uma pergunta de resposta difícil.
Enquanto alguém de direito pensa nisso (?), os que puderem só têm que aproveitar este tempo magnífico para retemperar forças para o ano que aí vem, e se adivinha difícil e cheio de medidas duras.
Sobretudo para os mais desprotegidos.

Abraço.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Naquele canto











Não.
Não é um canto dos Lusíadas.
Coisa mais simples.
Mais terrena e igualmente bonita.
Ao descer aquela ladeira íngreme, não se pode imaginar o que lá em baixo, bem juntinho ao mar, se vai encontrar.
É uma descida longa, mas tem a rodeá-la uma beleza natural que vale a pena observar com atenção e cuidadosamente.
As rochas que nos acompanham ao longo do trajecto, oferecem-nos para regalo do olhar verdadeiras figuras que na nossa imaginação se transformam em figuras esculpidas com grande sabedoria e paciência.
A minúcia do que nos parecem favos de mel impressiona pela perfeição.
Enquanto que de um dos lados temos as rochas, do outro ergue-se um monte cortado a pique, cheio de uma vegetação tipo savana, cerrada e agreste.
De lá irrompem de quando em vez, com um porte erecto, pinheiros que teimam em impor a sua presença diferente de tudo o resto.
Chegados ao destino deparamos com um canto íntimo, de água verde escura coberta de algas.
Uma praia deserta, com pedras redondas e brancas.
A areia é mínima.
Só com boa vontade se estendem duas, três toalhas.
O cheiro a maresia é mais forte que do que o normal de outras praias que conheço por aqui e já são algumas.
É o descanso do guerreiro.
Vinte minutos de contemplação, é o suficiente para regressarmos deliciados e com os olhos repletos de beleza.
Foi dura aquela subida.
Dura mas compensadora.
Para lá do exercício, traz-se nos olhos e no coração a beleza da natureza completamente virgem.
Portugal está cheio de cantos que vale a pena visitar.

Abraço. 

domingo, 19 de junho de 2011

Hospitalidade















Portugal sempre teve fama de ser um país hospitaleiro.
As pessoas na sua maioria são afectuosas, simpáticas, generosas, abrem com gosto as suas portas e franqueiam a entrada.
Não sei se nos tempos que correm ser hospitaleiro será tão positivo assim.
Nunca se sabe se quem nos bate (toca) à porta será pessoa que nos visita por bem ou se terá outras intenções que desconhecemos.
Os tempos mudaram!...
As boas qualidades, o civismo e o carácter, têm-se alterado de geração para geração.
Os tempos modernos não investem na educação, nas boas maneiras e no respeito pelos outros como investiam antes.
Tudo, nesse aspecto, é agora muito menos cuidado.
Nos tempos idos lembro-me bem, toda a gente se respeitava muito.
Então com os mais velhos, lidava-se quase com reverência.
Era tanto assim que, em muitas famílias, os filhos nem sequer tinham à-vontade para falarem olhos nos olhos com os pais, o que era um exagero.
Agora é outro exagero, para pior.
Na sua maioria, as relações são descuidadas e desrespeitosas.
Os excessos de má criação notam-se em cada gesto, em cada atitude.
Para alguns, qual respeito, qual hospitalidade?
Corremos o risco de sermos surpreendidos com atitudes que nunca na vida imaginámos
que alguém tivesse a ousadia de ter connosco.
Corremos o risco de visitar alguém que estimamos com a melhor das intenções, e sermos recebidos com atitudes mal-educadas, sem qualquer espécie de afecto, e inclusive barrados á porta.
Qual gente inoportuna e indesejada.
Acontecem situações destas no Portugal da Europa, no século vinte e um.
Mais grave.
Estas atitudes vêm de gente que teria obrigação de conhecer os princípios da educação e do relacionamento entre pessoas.
Pode-se calar isto?
«Vemos ouvimos e lemos não podemos ignorar».
Que bom seria investir mais no civismo, e não tanto nas tecnologias.
Mais hospitalidade.
Mais educação.
Mais afecto por favor.

Abraço.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Eu comigo mesma















Eu, pessoa, ser humano, tenho como toda a gente, qualidades e defeitos.
Dou comigo com frequência a olhar-me por dentro.
«Virada do avesso» a analisar-me e a fazer a minha auto-crítica.
Sou até um pouco exigente comigo.
Encontro algumas coisas que me agradam mais, outras menos.
Como não me acho uma pessoa fora do comum, não fico muito preocupada.
Apenas penso que terei que melhorar este ou aquele aspecto.
O erro é próprio do ser humano.
Já não acho próprio não o reconhecer e ou não o admitir.
Sei reconhecê-lo e admiti-lo.
Não me custa pedir desculpa.
O meu orgulho e formação falam mais alto.
A minha dignidade assim o exige.
Não me custa nada dar a mão à palmatória quando erro.
Fico melhor depois de o fazer.
Não concebo a minha vida sem reflexão e atitude.
Ficar em cima do salto e fingir que sou a maior não é comigo.
Gosto de andar de bem comigo.
Sentir que a consciência não me pesa.
É claro que tenho o meu feitio e cometo os meus erros.
Mas…quem atira a primeira pedra?
Pior é quem pensa que tem sempre razão e, de nariz emproado, se arrasta pela vida qual bicho bravo e inculto.
Cadê as bases da educação?
 É pena.

Abraço

Paragem necessária












Nem sempre a vida é tão linear assim.
Esta paragem do meu blogue impôs-se.
Foi necessária e útil.
Há situações que merecem a nossa atenção exclusiva.
Ficamos com a sensação do dever bem cumprido.
Sentimo-nos bem connosco próprios.
Sentimos que fomos úteis e gostámos de ser.
É claro que tive saudades.
Mas foi necessário.
A tarefa que tive em mãos exigiu tempo inteiro.
Este blogue já faz parte de mim.
Partilhar o que me vai na alma é uma necessidade minha.
Fico mais leve, mais «limpa» e sinto-me sempre acompanhada.
Ao mesmo tempo, digo-o sem rebuço, até um pouco lisonjeada.
Notei que apesar da ausência, me procuraram, sem desistirem de mim.
Que bom que me leiam.
Ainda que não concordem sempre comigo.
Espero poder continuar a comunicar e de uma forma simples e muito sincera como sempre tento fazer.
Passar para estas páginas virtuais, o que nem sempre tenho oportunidade ou condições de fazer pessoalmente.

Abraço.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A pesca












Quem vive numa zona onde o mar é rei, tem vários privilégios.
Um deles é poder ir à tarde à praia e observar o pôr-do-sol que com tanta beleza, nos extasia.
Depois, para juntar a este, um outro momento que merece também a nossa atenção.
A saída dos pescadores para a pesca.
É uma tarefa bonita, de longa tradição e que apesar de mais facilitada agora com os tractores que puxam as redes, continua trabalhosa e arriscada.
Gosto de ver.
Por vezes ao entrarem no mar correm riscos.
Quando há muita agitação, os barcos de pesca artesanal que por norma são pequenos,
têm alguma dificuldade a entrar.
Os pescadores (os que vivem disso) arriscam mesmo assim.
Aí, o cenário é um pouco perturbador.
Quem está de fora tem vontade de desviar o olhar.
São uns momentos expectantes e de alguma preocupação.
As famílias e os companheiros que ficam em terra, enquanto não vêm o barco fora da rebentação, não tiram os olhos do mar que, devido à sua força, nem sempre facilita.
Depois de vencido, lá mais longe, são então lançadas as redes.
Em terra espera-se a volta.
Entretanto e ao mesmo tempo, convivem e trocam ideias.
Está tudo pronto para, logo que os companheiros voltem, recolherem o peixe.
Quando a rede vem cheia, a alegria é visível no semblante de todos.
Começa a separação por espécies.
Depois desta tarefa concluída, é a divisão do peixe.
Cabe a cada um uma parte do pescado.
O resto é para a venda ou não, depende do dono do barco, e das suas necessidades económicas.
São momentos de convívio que provocam diálogos engraçados e de descontracção saudável.
Uma vida pacata, que alguns fazem por necessidade, outros apenas para conseguirem as refeições do dia seguinte.
Infelizmente, há sempre um dia em que a saída para o mar não é feliz.
Então a tristeza cobre a face de todos.
É o preço a pagar por tanta coragem e por vezes pela própria sobrevivência.

Abraço.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Vale a pena ser mediático?















Ser mediático é o sonho de muito boa gente.
São capazes dos maiores sacrifícios e provações, para andarem sempre nas bocas do mundo.
Dão tudo por uma foto numa revista ou um momento efémero na televisão.
Depois há os mediáticos por força das circunstâncias.
Os políticos.
Esses, uns mais que outros, estão sempre na ribalta.
Por bons ou por menos bons motivos, tornam-se figuras mediáticas.
Que agradam ou não – isso já depende da sua actuação, das medidas que tomam, da imagem que passam.
Em presença da actual crise, dificilmente o mediatismo político é positivo.
É ver o que aconteceu ao nosso primeiro-ministro demissionário.
Começou por ser uma figura mediática, esteve nas primeiras páginas da informação por bons e por menos bons motivos e, à medida que o tempo foi passando, foi caindo em desgraça.
Crucificaram-no na praça pública.
As medidas impopulares que teve que impor acabaram com o resto.
«Mataram-no» definitivamente.
Eu pergunto.
Ele foi o único responsável?
Cadê os outros?
Ficaram para recordar, apenas, os momentos de insatisfação e que desagradaram.
Nunca fui uma admiradora de José Sócrates, mas devo dizer que sempre admirei a sua tenacidade e firmeza, mesmo nos momentos mais complicados.
E foram muitos.
Quanto a mim, saiu bem.
Quase me comoveu!...
Vamos ver agora quando é que vai começar a «matança» deste coelho tenro e inexperiente que tanta gente está a endeusar!...
Será que há milagres?
Começou agora o mediatismo.
Aguardemos pelo final!...

Abraço.

Cuidado com a língua











Quando se fazem declarações públicas, há que haver cuidado e bom senso.
Sem esses dois ingredientes, corre-se o risco de lançar às feras qualquer cidadão.
O ser humano merece-nos mais respeito.
Ainda que não se nutra muita simpatia pelo alvo apetecido, é preciso controlar os ímpetos animalescos que habitam em todos nós.
Se essas declarações forem frente a um órgão de comunicação poderoso como a televisão, é claro que piora tudo.
O «abate» pode começar aí.
Penso que ninguém pode atirar a matar.
Todos temos telhados de vidro.
Se estamos tão cheios de nós, que achemos que não podemos também um dia ser atingidos, mera ilusão.
Um pouco de contenção, muitas vezes é o elemento que falta.
As declarações da doutora Ana Gomes sobre o seu colega de política, doutor Paulo Portas, para lá de terem sido largadas impunemente, foram muito infelizes.
Depois, se ela olhar à sua volta, deverá encontrar muito para ver.
E comentar…  
E se não se conseguir controlar… que comente apenas em privado e com os amigos.
Fica-lhe melhor, eu acho.
Ai as línguas viperinas!...

Abraço.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ainda a propósito do voto












É certo que estamos todos muito cansados desta ida constante às urnas.
É certo que pouco ou nada se tem alterado com isso.
É certo que o desânimo é próprio de quem não obtém os resultados que deseja.
Mas também é verdade que não é ignorando o direito ao voto e abdicando da obrigação de votar que ajudamos ao que quer que seja.
Não é comportando-nos como gente amorfa e sem vontade própria, que vamos a algum lado.
Não é ignorando ou fingindo que não vivemos neste país e assobiando para o lado que marcamos alguma posição que nos orgulhe.
Não é dizer que não temos nada a ver com o que se está a passar, porque todos temos.
Embora uns mais que outros.
Devo dizer que também eu me sinto defraudada com toda esta politiquice de trazer por casa, mas a última coisa que farei será auto-marginalizar-me como cidadã de corpo inteiro.
Não me sentiria bem se andasse a gritar aos sete ventos que está tudo mal e não tivesse opinião.
E não a manifestasse.
E sempre no sítio próprio.
No caso concreto, nas urnas.
Tive esperança que, desta vez, as pessoas estivessem mais conscientes da sua obrigação.
Tive a esperança de que a abstenção fosse bem menor.
Enganei-me.
Ou é inconsciência ou ignorância.
Provavelmente as duas coisas.
Se calhar alguns nem imaginam o que é viver amordaçado, sem liberdade de expressão.
Se calhar está-lhes a fazer falta um estagiozinho.
Eu quereria estar longe.
Já provei desse petisco!...

Abraço.

domingo, 5 de junho de 2011

Agora é que vai ser













Meu povo.
Obrigada por este presente.
Elegeste o coelho.
Que bom, agora a ementa vai melhorar pela certa.
Vamo-nos deixar da sopa requentada e passar a comer coelhinho.
Primeiro deixá-lo crescer.
O coelho para ser bom tem que ser adulto.
Tem que ser um coelho com muita experiência de coelho.
Dêem-lhe tempo.
Depois sim, ataquem e façam belos cozinhados.
Guisem-no ou triturem-no para almôndegas e sirvam-no frio.
No verão, vai saber bem.
Rematem com uma bela sobremesa.
Farófias de preferência.
Este coelho merece um bom remate.
Regalem-se e saboreiem o vosso pitéu.
Não contem comigo.
Não posso.
Tenho um sapo grande entalado na garganta.

Abraço.  

sábado, 4 de junho de 2011

Baile mandado















O baile de roda mandado é uma dança do folclore português muito animada, em que todos os participantes dançam alegremente.
Mas apenas um dá as ordens para a execução dos passos a seguir.
Gosto do baile mandado.
Acho piada ao mandador.
Sabe da arte e ordena com segurança.
Quem o ouve está atento e não falha.
O baile segue e agrada a quem o vê.
É agradável ver a disciplina e o gosto do grupo.
Assim houvesse tanta eficácia na coordenação de certos sectores tão importantes, como são os serviços públicos e outros.
Assim quem os comanda tivesse aquela segurança e saber.
Se assim fosse, talvez o país não andasse tanto ao retardador.
Talvez não empanturrasse, e não estivesse na cauda da Europa em termos de desenvolvimento.
Mas pronto.
Decididamente, não temos mandador à altura.
É pena
Um baile bem mandado é sempre bonito de ver e move vontades.
É de uma dinâmica que dá gosto, até apetece participar.
Na minha perspectiva, não vislumbro no horizonte, nenhum mandador capaz.
Até chegar um, continuaremos tipo caracol.
Devagarinho!...
Sem stress, que é para não destoar.

Abraço.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Violência, violência, Violência















A violência e as agressões não são de agora.
O que acontece é que agora são bem mais visíveis.
A televisão e os outros meios de comunicação encarregam-se de nos pôr debaixo dos olhos a realidade nua e crua.
Por muito dura que seja e por muito que nos choque, é o que esta sociedade desumanizada, indiferente e materialista nos preparou e está a servir-nos assim, fria.
Quanto a mim, tudo isto resulta da tal falta de valores que deveriam ter sido transmitidos e que infelizmente muita gente ignorou ou não soube transmitir.
Os fruto de tudo isto estão aí.
Demasiado azedos e duros, estes frutos!...
Agora só resta roê-los.
Vão por certo aparecer por aí muitos dentes partidos!
E os dentistas  tão caros…
E a crise está quase ao rubro…
E como consertar tudo isto?
Tenhamos calma.
O governo que vem aí, vai salvar-nos.
Segundo os profetas, aquele senhor com cara de santo de pau oco, e que é perito em farófias, vai de certeza resolver e prevenir todas estas questões a que, até agora, ninguém teve tempo de se dedicar.
Abençoado.

Brincar com a miséria, às vezes, ajuda a disfarçar um pouco a revolta.

Abraço. 

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dia mundial da criança?













Para festejar este dia de consciência tranquila e com verdade, seria preciso alterar muita coisa.
Por exemplo.
Dar às crianças condições de vida com a qualidade necessária que elas merecem, para terem um desenvolvimento feliz, bem apoiado e com a introdução obrigatória dos valores de educação, cultura e civismo.
Dar formação séria e exigente aos profissionais responsáveis e supervisionar o trabalho que lhes compete desenvolver.  
Com o país que temos, com a escola que temos, com a educação que temos, com os profissionais que em geral temos, como se pode dar às crianças um dia mundial?
Só de fachada!
Sim, porque o que interessa à maior parte, são as aparências.
Saídas, teatrinhos, lanchinhos, e outras coisas assim que escondam as falhas.
Quem conhece os meandros sabe que tudo ou quase tudo o que se faz neste dia e noutros igualmente assinalados, é feito para cumprir calendário.
Pelas crianças pouco se faz.
Normalmente passam o dia desocupadas, e acabam exaustas e stressadas sem perceberem que afinal aquele era um dia especial para elas.
Os adultos, esses, tiveram um dia diferente, limitaram-se apenas a «guardar» os meninos, para à noite serem entregues sãos e salvos aos pais que, de tão ocupados, os recebem para terminarem o restinho do dia, e terem que lhes aturar as birras de cansaço.
Dia mundial da criança?
Tem «pai» que é cego.

Abraço.

Vira o disco…












Sempre que se aproxima mais uma campanha eleitoral, não é invulgar ouvir alguém a protestar porque «lá vêm eles outra vez a massacrar, porque já não se podem ouvir, é sempre a mesma coisa».
Francamente, e no que a mim diz respeito, eu começo a partilhar desta opinião.
É realmente um massacre.
Esta repetição de actos eleitorais, esta repetição de sermões em vez de ser positiva, torna-se um enfado.
Não há esclarecimento.
O que se vê e se ouve é uma caterva de frases feitas e repetidas até à exaustão.
Estes políticos têm um discurso vazio de ideias e vê-se à distância que o que os move é o interesse partidário e pessoal - mais ainda este último.
Enquanto isso, o nosso pouco dinheiro vai voando.
É o que sinto quando os vejo e os oiço.
Andam pelas feiras e mercados a aproveitar-se da ingenuidade do povo – que luta para fazer chegar ao fim do mês o pouco que recebe.
Ou não.
Sei que votar é um dever e um direito (ganho com muito esforço e algum sangue).
Só por isso, no domingo lá vou mais uma vez.
Em quem?
Nem eu própria decidi ainda.
Façam como eu.
Exerçam o direito.
Ainda que o disco toque o mesmo.

Abraço.