quarta-feira, 29 de junho de 2011

As estórias que me encantavam
















Sempre adorei estórias.
Principalmente estórias fantásticas, apesar de algumas terem um fundo de verdade.
Á noite no inverno à lareira que crepitava envolta em silêncio e com o vento soprando lá fora, as estórias tinham um sabor diferente, ainda mais misterioso.
A minha mãe contava-me episódios que me deixavam encantada, curiosa e com todos os sentidos em alerta.
Lembro-me da saga do João Brandão.
Um ladrão que liderava uma quadrilha e percorria o país a roubar aos ricos para depois (dizia ele) distribuir pelos mais necessitados.
Um dia, o João Brandão e os seus homens sentiram-se perseguidos, e tiveram que se esconder vários dias e noites num pinhal junto de Penamacor.
Uma noite, ouviram ao longe o trote de dois cavalos.
Puseram-se em guarda. Saltaram para o meio da estrada e disseram: «Parem».
Para espanto geral, já todos se conheciam.
O João Brandão tinha na sua frente um fidalgo que, para proteger os seus bens, o acoitava a ele e ao bando sempre que eles pediam ajuda.
O ricaço não queria acreditar quando o João Brandão lhe ordena.
«Queremos dinheiro».
«Ó João, tu fazes-me isto? A mim que sempre te recebi e alimentei?»
«Senhor Pina, o senhor está demasiado confiante. Isto é para o senhor saber, que os seus bens só estão guardados enquanto eu e os meus homens, quisermos. Não confie demais».
O senhor Pina, que era acompanhado de um criado e levava dois cavalos com alforges cheios de moedas que serviriam para pagar aos seus assalariados, que viviam nos arredores, pegou em várias mãos cheias e distribuiu por todos.
Depois de servido, disse:
«Pode seguir. Pense que estará sempre nas nossas mãos».
«Está bem João, passa lá em casa terás o que precisares».
Era um grande «profissional» o João Brandão.
Tinha uma estratégia que não falhava!...
No fim de uma estória destas, escusado será dizer que o meu sono fugia e, ao deslocar-me, olhava aterrada para todos os lados a ver quando me aparecia o terror do João Brandão.
Eram noites complicadas e de imaginação efervescente.

Era bom ouvir as estórias, mas difíceis de digerir.

Abraço.

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