quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

E o tempo passa…




Foi aqui mesmo ao meu lado, que aconteceu o trágico acidente.
Aqui, no mar do Meco.
Naquele mar que me é tão familiar.
Que conheço tão bem, que me ouve quando passeio pela praia e debito os meus monólogos.
 Momentos bons e menos bons, eu já partilhei com ele!
Com todo o respeito, claro, porque aquele mar não está sempre para amar.
Nos dias não, é melhor dar-lhe espaço. Vê-lo apenas de longe para não o incomodar.
Respeitar a sua fúria. Gosta de privacidade este mar.    
 Naquela noite para mim mal dormida, ouvi-o demais.
Era um desatino fora do comum.
Marés vivas, pensei eu.
Será que os restaurantes de praia resistem?
Era de meter medo.
Foi exactamente aquele mar que sete jovens inconscientes e entregues a si próprios, decidiram desafiar.
Soube logo pela manhã da tragédia.
Não é possível!
Não se desafia um gigante enfurecido.
Já se especulou muito.
Para mim, aqueles jovens, não tiveram maturidade para avaliar a situação.
Não se tratou de crianças. Todos eram adultos com obrigações.
Como será o futuro do país, com cabecinhas destas em lugares-chave?
Perder tempo com a educação e os pincípios não é perder: é ganhar.


Abraço.   

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Amigos




Quando paro para pensar na palavra amigo, surgem-me algumas questões.
Um amigo é o quê? Como acontece? Para que serve?
À partida, acho que um amigo será aquela pessoa que tem qualquer coisa a ver comigo, com quem gosto de conviver, de comunicar e a quem me vou ligando, conforme me vou apercebendo de que temos afinidades e motivações em comum.
A partir daí, pode criar-se uma empatia, um certo prazer de comunicar e de estar, que poderá levar à amizade sincera e leal.
Para que serve afinal um amigo?
Quanto a mim, um amigo é uma mais-valia.
É aquele que não falha nos momentos críticos.
 Nos momentos de alegria e de comemoração de alguma coisa.
É aquele que nos dá o ombro, que nos apoia quando precisamos.
Que não foge de nós como rato, quando estamos abatidos e com necessidade das suas palavras de força.
Penso que se banalizou a palavra amigo, sem se pensar no seu verdadeiro conteúdo.
Ser amigo é ser nobre nas atitudes e nos gestos e não apenas debitar retórica de ocasião.

Abraço.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Olá!




Quando decidi criar este blogue e me pus para aqui a debitar pensamentos, reflexões ou coisas de somenos importância, nunca supus angariar um número tão significativo de visitantes.
Para um bologuezinho caseiro e sem pretensões, digamos que me surpreendeu.
Devo dizer que há dias em que a quantidade de visitas atinge números que, de certa forma, me surpreendem.
 Para ser franca, fiquei contente e isso deu-me coragem para continuar.
Conseguiram com essa assiduidade atiçar o meu gosto pela escrita.
Então, assumi comigo mesma o compromisso de manter este blogue vivo.
Ao ponto de me sentir em falta quando não me apetecia tanto escrever.
Há uma semana a esta parte, tenho verificado que as visitas diminuíram drasticamente.
Fiquei intrigada e decidi pensar que, olha…, tudo tem um princípio e um fim, se calhar é hora de parar.
Se calhar, cansei o pessoal!
Ora eu, que quando comecei até pensei que isto era apenas para consumo próprio, não poderia exigir mais.
Achei também que seria um sítio que me serviria quase só para fazer as minhas catarses, que são tantas!
E, quem sabe, imaginar que, do outro lado, alguém hipoteticamente me escutaria – um amigo imaginário, quem sabe!...
Hoje, a meio da tarde, surpreendi-me mais uma vez.
Em grande parte, as minhas visitas estavam de volta.
Afinal o que se passou?
Terá tido a ver com o aviso de que o blogue tinha «cookies»?
É que alguém me alertou para isso.
Ainda não é desta que vou parar.
Mas, claro que terá que ser um dia.


Abraço.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Sem rebuços





São as crianças.
Não se coíbem de dizer o que pensam.
Desinibidas, sem intenção de agradar ou não, falam.
E como às vezes são cruéis!
Hoje lembrei-me de uma situação que me contaram e a que, na altura, achei imensa piada.
Não só pela surpresa, como pela frontal simplicidade de uma criança.
Um amigo, professor numa Escola Básica no interior do País, cheio de boa vontade, resolveu trazer as crianças a Lisboa, para uma visita ao Parlamento.
Era preciso que começassem a tomar conhecimento.
A perceberem onde, como e quem ditava as leis do seu País.
Depois de muito bem recebidos e já instalados, começam, espantados, a seguir os trabalhos da sessão desse da.
Discurso para cá, discurso para lá, foi a vez de uma deputada que, muito inflamada, defendia a sua questão.
Aos gritos e gesticulando largo, dirigia-se encarnada aos presentes.
Uma das crianças, intrigada, virou-se para o seu professor e perguntou:
- Ó professor, aquela mulher está bêbeda?
O professor teve que se controlar e lá esclareceu a criança como pôde.
A verdade é que, certamente, esta criança nunca mais se irá esquecer da expressão dura e provavelmente excessiva, que viu no rosto de alguns dos responsáveis pelas leis que nos regem.
Criança não disfarça nem se inibe de dizer o que pensa.
Doa a quem doer.


 Abraço.     

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Macacos





Adoro macacos.  Macacos verdadeiros, brincalhões, bem-dispostos e inteligentes.
Às vezes, quando os observo, quase me comovo com o discernimento daqueles seres.
Enquanto trabalhadora no activo, tive oportunidade de acompanhar as minhas crianças ao Jardim Zoológico mais que uma vez, e de me maravilhar com o que por lá vi.
Numa dessas idas, deparei-me com um pequenino que, na sua jaula, tentava construir um puzzle com os paralelepípedos que tinham saltado da calçada.
Com muita paciência e perspicácia, procurava refazer o espaço.
Fiquei siderada com as tentativas : põe, tira, volta a pôr, olha, vira, volta a olhar!...
Aquilo, se eu não estivesse a ver, diria que era uma cena montada!
Não era, eu vi.
Vi e nunca me esquecerei. Foi uma verdadeira maravilha vinda de um ser tão pequeno e ali sem apoios nem incentivos humanos, no Jardim Zoológico de Lisboa.
Por isso é que não gosto de ouvir chamar aos nossos políticos «macacos»!...
 Como assim?
Os macacos, eu testemunhei, têm inteligência.
E a deles por onde anda?

Abraço.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Desta vez…




Pois é verdade. Desta vez o mar falhou-me.
Proibiu-me de estar com ele.
Estrebuchava enlouquecido e entrou em histeria.
Destruiu e arrasou tudo o que encontrou pela frente.
Urrando e sem controlo, exibiu-se como um louco.
Fez tremer os mais ousados e habituados às suas fúrias
Arrancou do seu ventre toda a força e penetrou em terra.
Dela, arrecadou o que pôde.
Os pescadores, seus companheiros de viagem, olhavam atónitos aqueles preparos despropositados.
Demorou a passar aquela fúria.
Parecia um surto!...
Assim não, mar.
Assim, como posso eu continuar a contar contigo?
Onde e quando, volto a encontrar o ombro terno e amigo de que preciso às vezes?
Preciso de ti normal.
Só tu me ouves sem me interromperes.
Só tu não me fazes perguntas.
Só tu me aceitas tal como sou.
Volta, mar.    


Abraço.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Caixas fechadas












Tantas caixas!
Todas elas, quase hermeticamente fechadas.
Umas, mais ou menos transparentes.
Outras, opacas e densas.
Quando se olha, nada transparece.
Só se sabe que são caixas das mais variadas formas e tamanhos.
O que terão lá dentro?
Estão trancadas e impenetráveis.
Como se de cofres se tratasse.
Depois de voltas e voltas…
São vidas que estão lá dentro!
São as vidas de cada um.
Resguardadas.
Alguém consegue imaginá-las?
Cada um só mostra o que quer, quando quer.   
Caixas.
É isso, são vidas metidas em caixas.


Abraço.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Mandava a tradição…





Eram passadas as festividades natalícias.
Mal havia tempo de retomar a vida normal e já outra tradição apontava.
As Janeiras.
Na época, eram vividas de uma forma alegre e originavam o convívio, que preenchia o silêncio que se fazia «ouvir» nas ruas desertas.
As noites eram longas e muito frias.
Havia que recolher cedo e usufruir do «conforto» interior, se é que se podia chamar assim.
Há algumas décadas atrás, os acabamentos das casas não eram propriamente de primeira!
As casas eram quase todas de taipa e as frestas riam-se, franqueando a entrada aos agentes exteriores que, lá fora, se enfureciam uns contra os outros.
O céu era azul gélido.
 A lua, senhora roliça e bela, olhava as estrelas que lhe piscavam constantemente o olho brilhante de luz.
Ainda a ceia se ajeitava no estômago e a conversa era amena, já ao longe se ouviam as cantorias alusivas à época:
«Levante-se lá, senhora,
Desse banco de cortiça.
Venha-nos dar as janeiras:
Ou morcela ou chouriça!»
Era o hábito. Ninguém estranhava.
Na dispensa, estavam já à espera os manjares do costume.
A falta de meios de comunicação e outros meios, dava origem a que as pessoas fossem mais alegres e mais criativas.
Havia, então, uma maior necessidade de inventar formas de convívio e de comunicação.
Era assim que se brincava há umas décadas atrás.  


Abraço.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O tempo




O tempo, hoje, está meio enjoado aqui por estas bandas.
Está mole, húmido, meio parado e sem graça.
Nada a ver com um dia de chuva bem chovida ou de um qualquer dia solarego.
 Não gosto de meias tintas, gosto de situações claras.
 Este tempo assim é para mim meio depressivo.
Como resolver isto?
Ignorando o que vai lá fora e ajeitando-me aqui no meu canto, com um bom livro à frente.
Desta vez, virei-me para o Mia Couto.
Um autor que sempre me agradou, que me prende e me preenche.
Assim, ao mesmo tempo que me abstraio do que me incomoda, vou-me deliciando, e porque não, também cultivando, com a sabedoria deste exímio escritor, que escreve de uma forma que acho deliciosa.
Também com um conhecimento profundo dos temas que se propõe tratar.
O tempo é demasiado precioso para ser desperdiçado.
A televisão não merece muito a minha atenção.
Em muitos momentos, isto digo eu, desceu abaixo do que seria desejável.
Depois, uma boa leitura é sempre uma boa companhia.


Abraço.