terça-feira, 28 de outubro de 2014

Publico, como recebi: imperdível




"AS CANALHÍADAS"




        Se Camões fosse vivo, escreveria assim os "Canalhíadas":





I
As sarnas de barões todos inchados

Eleitos pela plebe lusitana

Que agora se encontram instalados

 Fazendo o que lhes dá na real gana

 Nos seus poleiros bem engalanados,

 Mais do que permite a decência 

 Olvidam-se do quanto proclamaram

 Em campanhas com que nos enganaram!


II
 E também as jogadas habilidosas

 Daqueles tais que foram dilatando

 Contas bancárias ignominiosas,

 Do Minho ao Algarve tudo devastando,

 Guardam para si as coisas valiosas

 Desprezam quem de fome vai chorando!

 Gritando levarei, se tiver arte,

 Esta falta de vergonha a toda a parte!


III
 Falem da crise grega todo o ano!

 E das aflições que à Europa deram;

 Calem-se aqueles que por engano

 Votaram no refugo que elegeram!

 Que a mim mete-me nojo o peito ufano

 De crápulas que só enriqueceram

 Com a prática de trafulhice tanta

 Que andarem à solta só me espanta.


IV
E vós, ninfas do Coura onde eu nado

 Por quem sempre senti carinho ardente

 Não me deixeis agora abandonado

 E concedei engenho à minha mente,

 De modo a que possa, convosco ao lado,

 Desmascarar de forma eloquente

 Aqueles que já têm no seu gene

 A besta horrível do poder perene!

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O sol se esconde…





Os chorões que se estendem escarpa abaixo até ao mar convidam a sentar e esperar o pôr-do-
Os olhos regalam-se com o cenário que se repete todos os dias e que acontece sem pressa.
Uma cauda longa de luz estende-se pelas águas mansas e bamboleantes do oceano, que hoje está especialmente bonito.
O sol caminha devagar para o seu esconderijo atrás das nuvens, que se apresentavam grossas e difíceis de romper.
Escorrega e tranquilamente despede-se do dia que está prestes a terminar.
Aquela bola de fogo refugia-se e mergulha sem deixar rasto.

O mar abraça a areia com os seus braços de gigante e acaricia-a como se tratasse de um amor sem fim.
O lusco-fusco convida ao regresso a casa.
Mesmo à saída, o imprevisto aconteceu.
A ciência e o progresso cortaram aquele clima de introspecção.
No ar, um «drone» tele-comandado desviou as atenções dos que tinham ido apenas ver o pôr-do- sol!
Cabeças no ar, os últimos instantes foram para seguir as maravilhas da técnica que aquela máquina conseguiu demonstrar.
Sofisticada e super-silenciosa.
Valha-nos isso!
De outro modo, quebraria o encanto!


Abraço.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Onde anda a compostura?






Neste país já de si descomposto, todos os dias aparecem mais situações que apimentam ainda mais a molharangada que está neste caldeirão gigante! Entre outros casos, refiro o de Carrilho e Bárbara.
 É pena que no meio da caldeirada se envolvam crianças inocentes e com o direito à qualidade na educação!
Estas crianças não deveriam nunca ter de assistir a cenas tão pouco dignificantes.
Ficarão gravadas e, no futuro, certamente vão revelar-se nas suas personalidades de uma forma negativa!
Os pais são não só os seus ídolos, como são o espelho e as figuras que lhes servem de modelo.
Pena, também, é que muitas vezes estas situações partam de seres que aparentemente teriam obrigações redobradas.
Deveriam ser um exemplo para todos e muito mais para os próprios filhos!
É preocupante saber que numa destas cenas, está envolvido um ex-ministro da Educação de Portugal!
Esse senhorito dá-se ao desplante de ser um dos protagonistas de cenários de agressividade e violência! Algo que lhe retira qualquer réstia de qualidade, que ainda pensássemos que ele tivesse!
 Revela não só falta de sensibilidade, como mostra uma personalidade doentia, rancorosa e vingativa!
Todos estes epítetos são poucos para o classificar.
Não sabe perder, este senhorito!
Não sabe aceitar as regras do jogo.
Perder e ganhar - eis a questão.
Não! Certamente ninguém lhas ensinou!
Elementar, meu caro! Aprende-se no infantário!
Saber perder com dignidade faz parte da vida!
Já percebi porque é que o nosso país tem tantas lacunas em termos educacionais!
 Haja compostura senhores! Honrem os papeluchos que vos apelidam de doutores!   


Abraço.

sábado, 4 de outubro de 2014

A ferida que não cura

 




Quem não passou pela Guerra Colonial pode não entender que, passados quarenta anos, ainda haja «alguéns» (muitos mesmo) com sequelas do que viveram nessa mesma guerra.
Pode até achar maçador que se fale do assunto depois de tantos anos!
 Pode até pensar, na sua juventude muitas vezes de futilidades em que tudo parece ter cor, que isso é coisa de velhos!
Compreendo-os, mas não posso deixar de discordar e pensar:
 «Quem não sabe, é como quem não vê»!
Quem não sabe, é também porque não procura saber!
É porque anda demasiado ocupado consigo próprio e com o seu umbigo!
Culpa deles?
Talvez metade -metade.
Talvez sim, porque, provavelmente, nem em casa nem na Escola os informaram de uma forma séria do significado e estragos daquela guerra.
Talvez não, porque também deveria partir deles o interesse pela aquisição de conhecimentos de uma forma geral - e isso dá trabalho! Pensar nos outros, perceber os porquês, é coisa demasiado aborrecida!
Aquela guerra, quer queiram quer não, também faz parte da História de Portugal.
Para esses que vivem na ignorância e também para aqueles que, apesar de terem tido conhecimento dela, lhes passou ao lado, é impossível que tenham a dimensão dos estragos que fez em quem a viveu!
Não lhes passa pela cabeça como foi o sentir daqueles jovens quando foram obrigados a interromper as suas vidas, para alguns então no início, e partir para tomar parte activa naquela demonstração de violência.
 Nem sequer entendem as feridas que ainda hoje estão abertas e que ninguém vê.
Esses jovens, que hoje são homens e que então viveram situações de grande risco, são pessoas problemáticas, traumatizadas, e com dificuldade de falar do que viveram.
Manifestam muitas vezes atitudes agressivas e de difícil controlo.
Raramente falam por vontade própria do que passaram.
Por tabela, as suas companheiras são as fiéis depositárias desses traumas, sequelas e agressividade!
São elas as vítimas mais próximas!
Muito pouco se fala delas!
 Muito pouco se fala deles!!!...
O que é sintomático de um regime insensível e sem alma.



Abraço.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Viver bem com a saudade




Para muita gente sentir saudades pode ser tristeza e até saudosismo meio doentio.
Para mim, sentir saudades é compensador e reconfortante.
É quase o reviver dos momentos de qualidade que se viviam em família e com os amigos, que nessa altura eram indiscutivelmente amigos.
Acontece-me muitas vezes «ausentar-me para junto da família»!
À lareira, ao calor do sol ou a uma sombra saborosa, convivia-se de uma forma saudável.
Os mais jovens no seu papel de animadores e os mais velhos divertidos, mas ao mesmo tempo atentos e passando-lhes, meio a brincar meio a sério, a aprendizagem adquirida com as experiências já vividas.
Dou comigo também nos convívios com as/os amigos.
E foram tantos e com tão boas recordações!
Com eles vivi as cumplicidades, os segredinhos, os namoricos que às vezes não passavam de disso mesmo (namoricos) e tinham a importância própria da idade!
As fugas para os bailaricos no Terreiro de S. Francisco ou, mais tarde, em garagens.
Alguns destes últimos com rótulo de pouco próprios e que os pais controlavam com mão férrea!
Os passeios intermináveis dos Domingo e Feriados, que terminavam com a noite já adiantada. O assunto nunca faltava e era acompanhado com alegres gargalhadas, que ecoavam em redor. 
Recordo-me que achávamos sempre que o tempo era pouco.
Era com um sentimento de pena que recolhíamos a casa e caíamos exaustas mas felizes no colchão a cheirar a palha fresca e nos enrolávamos nos lençóis lavados com a última novidade da técnica de higiene, o cheiroso Sabão Clarim!    
Os sonhos, esses, tinham o sentir da juventude e o sabor do amor que palpitava em cada coraçãozinho inexperiente!
Que pouco exigentes que éramos na altura e como éramos felizes! Sem contudo, deixarmos de ser dinâmicas e colaborantes sempre que éramos solicitadas.
 Um dia talvez recorde aqui alguns feitos do grupo que quando se desfez deixou saudades!
Diz quem testemunhou que nunca mais houve outro igual!
Não me digam que não é bom recordar esses tempos tão saudáveis e verdadeiros!
Saudosismo?
Não, apenas uma ternura doce, que é o que hoje pouco existe.

Abraço.