terça-feira, 28 de outubro de 2014

Publico, como recebi: imperdível




"AS CANALHÍADAS"




        Se Camões fosse vivo, escreveria assim os "Canalhíadas":





I
As sarnas de barões todos inchados

Eleitos pela plebe lusitana

Que agora se encontram instalados

 Fazendo o que lhes dá na real gana

 Nos seus poleiros bem engalanados,

 Mais do que permite a decência 

 Olvidam-se do quanto proclamaram

 Em campanhas com que nos enganaram!


II
 E também as jogadas habilidosas

 Daqueles tais que foram dilatando

 Contas bancárias ignominiosas,

 Do Minho ao Algarve tudo devastando,

 Guardam para si as coisas valiosas

 Desprezam quem de fome vai chorando!

 Gritando levarei, se tiver arte,

 Esta falta de vergonha a toda a parte!


III
 Falem da crise grega todo o ano!

 E das aflições que à Europa deram;

 Calem-se aqueles que por engano

 Votaram no refugo que elegeram!

 Que a mim mete-me nojo o peito ufano

 De crápulas que só enriqueceram

 Com a prática de trafulhice tanta

 Que andarem à solta só me espanta.


IV
E vós, ninfas do Coura onde eu nado

 Por quem sempre senti carinho ardente

 Não me deixeis agora abandonado

 E concedei engenho à minha mente,

 De modo a que possa, convosco ao lado,

 Desmascarar de forma eloquente

 Aqueles que já têm no seu gene

 A besta horrível do poder perene!

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