terça-feira, 29 de novembro de 2011

O Inverno já se mostra











A manhã acordou cinzenta.
No ar uma acalmia fria fazia-se notar.
Um silêncio invernoso sugeria frio lá fora.
Este é um dia que convida ao quente, pensei.
Uma boa lareira.
Uma bebida aconchegante.
E…da janela, imaginar o frio.
É pena que nem todos possam usufruir.
E porque não, hoje, em especial, ouvir um pouco do que já é Património Cultural Imaterial da Humanidade?
Sim, um pouco de fado.
Bem cantado, pelos bons intérpretes que temos.
Foi um prémio merecido.
Depois de tão vilipendiado, chegou finalmente a sua vez.
Os que o cantam com a dignidade que merece, estão de parabéns.
Pois é, mas antes de me recolher, vou tonificar o físico e o psíquico, porque não?
O ginásio é uma das parcelas que fazem parte, como outras, do meu equilíbrio e saúde.
Depois sim, «Vamos ao Fado» …


Abraço.

domingo, 27 de novembro de 2011

Voar sem asas








Pegadas de dinossauros 
Pedra da Mua - Cabo Espichel



É boa esta sensação de voar sem asas.
Com os pés no chão e sem asas.
Num local onde serra e mar vivem paredes-meias.
Onde a civilização ainda não chegou.
Onde a natureza está quase intacta.
Uns trilhos apenas.
Alguns regos que a chuva se encarregou de esculpir na terra batida e avermelhada.
E pequenas galerias.
Alinhadas ou salpicadas aqui e ali, que alguns milhares de coelhos nas suas horas de solidão(?) se divertem a fazer.
Uma imensidão de Natureza onde o silêncio reina.
Limitei-me a fechar os olhos e a ouvir o silêncio.
Quase dói de tão imenso que é!...
Sabe bem este silêncio.
É como que uma lavagem ao cérebro, poluído com tanta poeira.
Senti que descolei e voei alto, leve que nem pena de gaivota.
Foram alguns momentos de evasão.
Quando os abri, afinal, não tinha saído daquela rocha forte e secular que me recebeu à chegada.
Estava apenas envolvida por uma calma serena e quase etérea.
Gosto daquele sítio.
Não me admiro nada que os dinossauros também tenham gostado, há milhares de anos!...
 
Grandes, mas de bom gosto, aqueles dinossauros!       

Abraço.

sábado, 26 de novembro de 2011

Parece que são, mas nem por isso














Neste nosso país pequeno, bonito e mais ou menos ordeiro, nem todos temos a noção do que é ser educado.
Existe uma noção pouco desenvolvida do que significa.
Este tema passa ao lado de uma grande parte dos cidadãos.
Acham que ser educado é ficarem-se pelos gestos mínimos do… se faz favor, com licença e obrigado.
Não sabem que ser educado vai muito mais além.
Cometem gafes que para eles nem sequer o chegam a ser.
Vivem numa ignorância tal que, na sua cabecinha convencida, arrogante e ignorante, não cabe sequer admitir que são gafes.
Não se dão conta de que são indelicados, que magoam, e que são inconvenientes e insensíveis.
Falta-lhes a súmula, a base que é o que nos dá tudo.
Resta-nos ir observando e às vezes indignarmo-nos, com tanto cromo convencido que há por aí a pensar que são, mas não são educados.
Orgulhosamente ignorantes.

É preciso mais substrato, senhores da cultura.

Abraço. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O meu gato Tobias

















É rafeirinho o meu gato Tobias.
Rafeiro, abandonado e talvez por isso muito meigo.
Há uns tempos chamou-nos a atenção um miar desesperado e aflito, vindo do nosso pequeno jardim

Fomos ver e era ele a pedir socorro.
Meu Deus, mais gatos não!
Mas ao vê-lo desprotegido, desorientado e com os olhitos a implorar ajuda, não conseguimos ignorá-lo.
Tinha sede de contacto, de casa e de mimos.
E tinha alguma fome.
Ao agarrá-lo, cedeu e ronronou.
Não se inibiu.
Instalou-se como se a casa e os donos já fossem velhos amigos.
Ganhou de imediato a simpatia dos dois.
Devia ter na altura dois a três meses.
Passados quase dois meses, é um amigo manso, carinhoso e grato pelo aconchego.
Calmo, brincalhão e companheiro.
É assim o meu gato Tobias.
Um amigo digno do afecto que lhe dispensamos.

O gato Simão, já senhor da casa, adoptou-o como filho.
 
É bom ver como os animais se comportam em sociedade.
São um exemplo para os humanos!...

Abraço.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Misterioso













É isso.
A praia hoje estava misteriosa.
Visitei-a mesmo ao cair da noite.
Numa hora em que o dia se despedia já lá longe.
Gostei especialmente da cor do céu.
A média luz dava à praia um certo ar de mistério.
A luz despedia-se do dia e dava as quase boas-noites aos visitantes, que eram três ou quatro.
Bonito cenário aquele!
O meu amigo mar estava especialmente meigo e terno.
Penso que já está com um espiritozinho natalício.
Calmo, sereno, doce.
É raro, nesta altura do ano!
Convidava à paz.
Ao bem-estar.
Que bom seria que esta paz se passasse lá «para fora».
O mundo seria certamente diferente.
No momento em que a noite caiu, a penumbra avolumou-se e estava perfeito.
Um filme ficaria espectacular.

Esta praia e este mar são um mundo de surpresas.
Encantam-me todo o ano.

Não importam os humores.
.
Abraço.

Jacques Brel, 1962

Agora oiça esta: 
http://www.youtube.com/watch?v=v6rLLE48RL0

terça-feira, 22 de novembro de 2011

É de pasmar















Há episódios que de tão espantosos até parecem irreais.
Para tristeza de alguns, são bem verdadeiros.
Foi aqui numa escola bem perto.
Com crianças que se conhecem e que, penso, não inventaram nada.
Aconteceu, foi isso.
Os senhores professores levaram as crianças a ver um filme.
Até aqui tudo normal.

À saída, ninguém terá gostado.
«Isto foi uma porcaria»!

Tive conhecimento deste episódio por uma das intervenientes que se me dirigiu:
«Já viu o filme José e Pilar?
Eu vi hoje, foi uma porcaria, gostou?
Quem são o José e a Pilar»?

Fiquei sem perceber nada.
Então levaram as crianças a ver uma coisa de que nem sequer lhes falaram?
Exactamente.
Parece mentira, mas é real.
As crianças foram retiradas da escola, aparentemente apenas para ficarem quietinhas algum tempo, sem darem trabalho aos docentes.
Não entenderam nada de nada, antes pelo contrário. Apenas detestaram.
Só porque não sabiam e nem conheciam os participantes do filme.

Será que é este o papel dos senhores professores?
Manterem os seus alunos na ignorância?
O José é apenas um Prémio Nobel da Literatura!
A história que as crianças foram ver, é apenas sobre os últimos anos dele, na companhia
da mulher que o acompanhou e foi o seu braço direito nos últimos anos!
Será que não é suficiente para os s´tôres?

Apetece-me ser um bocadinho mazinha e dizer:
- Pérolas a porcos!...

Estes s’tôres não merecem nem o nome.

Abraço.

domingo, 20 de novembro de 2011

Caixas









Obras de saneamento 
em Caixas



É assim que se chama a aldeia onde moro há já três anos e três meses.
Várias vezes me tenho perguntado por que é que se chamará assim?
Não consegui ainda encontrar resposta.
Pus-me a divagar e a única explicação que a minha imaginação vislumbrou para tão estranho nome foi que, se calhar, é porque a aldeia se encontra rodeada de mar e pinhal.
Fica como que metida numa caixa, se quisermos forçar um pouco a nota.
Esta aldeia e os arredores (Alfarim, Meco e Zambujal), com que tive os primeiros contactos já lá vão trinta e muitos anos, é hoje muito diferente do que era nessa altura.
O turismo, com as belas praias que a circundam, tirou-a do anonimato.
Deu-lhe vida e trouxe-lhe o progresso.
As pessoas que na altura encontrei mudaram em todos os sentidos.
Têm agora, sem dúvida, uma qualidade de vida muito superior.
E os horizontes muito mais abertos.
A aldeia de então, não só cresceu em população e recebeu obras de saneamento, como se encontra muito bem servida de tudo o que este mundo moderno exige.
As entidades locais e alguns particulares, têm tido a visão e a preocupação de trazer até à população tudo ou quase tudo o que esta vida moderna exige.

Desde Centros de dia (dois).
Lar com hospital de retaguarda.
Um centro de fisioterapia com técnico experiente e credenciado, que assiste não só os utentes como os sócios.
Tem médico.
Enfermeiros.
Está equipado com elevador, e todos os requisitos exigidos para a situação.
Um jardim-de-infância que faz inveja a qualquer um de qualquer cidade que se preze.
Há ainda um ginásio com piscina e aulas das mais variadas modalidades, que põe tudo a mexer, incluindo os idosos.

Há um clube desportivo muito dinâmico.
Há Casa do Povo.
Há farmácia.
Multi-banco.
Duas bombas de gasolina.
Cabeleireiros (três).
E as mais variadas profissões.
Desde o ramo automóvel, até à construção civil que é, ou era antes da crise, a alma da economia local.
Isto, para não falar das peixarias com peixe «vivo» do mar de Sesimbra, Setúbal e outras paragens.
Não se reconhece esta localidade que antes não passava de mais uma aldeia esquecida e desconhecida, em que as pessoas se mostravam tímidas e com falta de contacto com outras gentes.
Vive-se bem aqui.
Diria até que o nível de vida é, para muita gente, médio alto e sem preocupações.

Abraço.

sábado, 19 de novembro de 2011

As ladainhas













Havia na minha aldeia, e provavelmente noutras, uma tradição que designaram por ladainhas.
Sempre me intrigou aquela crença.
Naquele tempo, a maioria das pessoas vivia apenas do que dava a agricultura.
Que tudo germinasse da melhor forma, era a ambição de todos.
Dependiam do tempo que fizesse para encherem ou não as «lojas» e terem o sustento para todo o ano.
Daí, aquela necessidade de recorrer ao divino, para que lhes protegesse o que já tinham lançado à terra.
Sim, porque as ladainhas eram procissões e rezas que apelavam a todos os santos para que lhes protegessem as culturas.
Eram realizadas de madrugada.
Ainda noite escura e com a iluminação fraca das ruas.
Lembro-me que era acordada todas as manhãs naquele período (não sei precisar mas acho que eram algumas semanas) por um grupo de vozes que mais ma pareciam vindas do além, que cantavam rezando – ou rezavam cantando...
Pelas ruas da aldeia iam andando e cantavam as ladainhas.
Todos os santos conhecidos eram chamados a intervir.
O sacerdote dava o mote lá da frente e todos mais ou menos ao mesmo tempo, respondiam.
Mais ou menos isto:

- Santa Maria Madalena!
- ...Rogai por nós!...

- Santa Joana!
- ...Rogai por nós!...

E por aí fora… até se esgotar o stock.

Às vezes acontecia que não se conseguiam coordenar, o que dava uma grande trapalhada, e lá ficava uma voz sozinha a berrar na noite!...

Eu, de cada vez que ouvia lá longe aqueles sons misteriosos, levantava-me e ia à janela.
Era um espectáculo que, digo com franqueza, me impressionava um pouco - até posso dizer que na época me deixava meio aterrorizada.
Talvez porque me lembrava uma cena de almas do outro mundo.

Gosto de recordar estes episódios da minha meninice.

Abraço.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O chafariz das duas bicas















Na minha aldeia, havia e ainda há, um chafariz que era e é designado por Chafariz das Duas Bicas.
A sua água, segundo os mais velhos, era de uma qualidade excelente
Esse chafariz foi, durante muitos anos, meu vizinho muito próximo.
Sempre gostei, e até quase venerei, aquele chafariz.
Quase o sentia só meu.
Fez-me companhia nos bons e nos maus momentos.
Junto dele brinquei, sofri, fui feliz, amei, chorei – enfim, foi meu companheiro de todos os momentos.
O que mais recordo, e recordo com muita ternura, é o momento de ir dormir.
Sabia-me muito bem ao deitar e no silêncio da noite (o chafariz era memo em frente ao meu quarto), ouvi-lo e ser embalada suavemente ao som da cadência monótona e calma da água a correr para dentro do pio (era assim que se chamava) eternamente…
E eternamente porquê?
Porque, ao acordar, lá continuava o mesmo som da água, com a mesma cadência, sempre pronta a dar-me os bons dias.
Assim.
Vinte e quatro sobre vinte e quatro horas.
Lembro-me muitas vezes daquele chafariz.
Afinal, foi lá que cresci e me fiz mulher.
As minhas raízes estão lá bem fundas.
As minhas emoções também.
As recordações estão guardadas numa gaveta especial do meu cérebro.
E, claro, num lugar de eleição do meu coração.

Há coisas de que pouco se fala, mas estão e estarão sempre connosco.
Não foram afinal essas vivências que nos deram a personalidade que temos hoje?

Até sempre, meu amigo chafariz.

Abraço.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

«Pêdágógia»














Exactamente assim.
Pê-dá-gó-gia.

Há já há alguns anos, num Jardim-de-Infância, uma trabalhadora que na altura era auxiliar de educação com papel passado e tudo, quis aproveitar aquela «borla» que o Ministério deu às auxiliares, de tirar o curso de educadora.
Até aqui tudo bem.
As oportunidades são para aproveitar, ainda que às vezes as lacunas que ficam sejam constrangedoras.
Quanto a mim, em certos casos e naquele concretamente, isso é mais que visível.
Bom, mas voltando ao princípio desta estória: a pessoa em causa foi-se inscrever, alguém lhe terá feito um pequeno questionário e lhe perguntou o que era para ela a pedagogia.
A pessoa terá ficado embaraçada, e disse que não sabia.
Ao chegar ao infantário, vinha um pouco agitada e contou às colegas o episódio.
E muito indignada, disse:
«Sei lá eu o que é pêdágogia! Vou perguntar p’ra mê mêrido»!...

Este acontecimento testemunhado por várias colegas, ficou para a história das anedotas.
Devo dizer que esta trabalhadora conseguiu o papel do curso de educadora.
Dizia mesmo que as professoras tinham pena dela, porque ela chorava.
Chantagem que usava, sempre que se via em apuros.

Apenas este caso, para ilustrar algumas das incapacidades que há para aí, neste e noutros ramos de actividade, neste país das facilidades.
Pode parecer anedota, mas não é.
Outros casos reais haveria para relatar.

O pior disto, é que têm a cobertura de responsáveis, que deveriam ter mais sentido do dever.

Não se consegue um país com alguma qualidade, enquanto se proceder assim.

Abraço

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Natal da crise














Nem sequer sei se metade do país já deu pela chegada vagarosa deste Natal.
Aproxima-se sem ruído.
Como que a não querer ser notado.
O Natal, sempre tão efusivo!
Pé-ante-pé, eis que se apresenta.
Aos poucos.
Sem os espalhafatos do costume.
Por que será?
Nos rostos, na forma de estar da maior parte dos portugueses, não há sombras de festa.
Nem se ouve falar do acontecimento sempre tão envolvente.
Faltou o gás.
O combustível.
Os motores não querem andar.
Os natais consumistas vão ser, provavelmente, os mais penalizados!...
E agora?
As sacadas de inutilidades?
Os supérfluos?
Só restam os afectos.
Onde é que eles andam?

Por onde andaram?

Mesmo não parecendo, foi o que sempre faltou.
Tudo, não passava de cenário para esquecer outros males.
Este ano fica pior.
Não haverá onde descarregar as angústias, as frustrações, os feitios avessos, o cansaço e…já agora, a indignação.

Coisas do consumo exagerado.

O que é isso de afectos?

Abraço.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A lareira

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A chama da lareira e o seu crepitar, sempre me encantaram.
É bonito o efeito que se cria naquele habitáculo.
O som surdo e constante da chama traz-me uma sensação de paz e de conforto.
O fogo quente e aconchegante descontrai-me.
Vejo nele uma agradável companhia.
As noites longas de Inverno tornam-se uma forma agradável de repousar.
Remetem-me à minha aldeia e aos serões que eram aproveitados para ouvir os mais velhos a contar as suas estórias, que me prendiam às suas palavras sábias e conhecedoras da vida.
Nesse tempo os mais velhos ainda mereciam o respeito dos mais novos.
A sua sabedoria era recebida com agrado e quase admiração.
Adorava aqueles serões quentes.
De calor físico e, mais importante ainda, humano.
Era com o coração cheio de afecto que, depois de algumas horas de convívio, nos despedíamos até amanhã.
O dia era passado na expectativa do próximo encontro.
Roda mais ou menos alargada, conforme os que compareciam.
A lareira era a figura principal.
Por vezes, tal era o calor que imanava, obrigava os presentes a alargarem ainda mais a roda.
Tempos bonitos e inesquecíveis.
Em que a amizade era a rainha.

Que saudades!

Abraço.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Gasparzinho












Era uma vez um menino, que vivia num país longínquo, numa torre de marfim.
Vivia feliz no seu mundo de sonho e sem dificuldades aparentes.
Esse menino que tinha fama de menino-prodígio, era o Gasparzinho.
Um belo dia, o pobre do Gasparzinho, foi perturbado na sua vida de harmonia e descontracção.
Com características de líder sabichão, foi chamado a ajudar a apagar um «incêndio».
Só uma sumidade como ele estaria à altura.
Coitado do Gasparzinho.
Não teve como dizer não.
Largou tudo e partiu.
A situação que encontrou não foi de modo nenhum animadora.
Achou mesmo que era catastrófica.
Recolheu-se para pensar.
Era responsabilidade a mais para um menino assim, mimado e protegido como ele.
Mas o Gasparzinho era um génio.
Não podia falhar.
Depois de analisar a situação, muito acabrunhado, sentenciou.
O problema… é que… há… muitos… preguiçosos… neste país!
Este… incêndio… deflagrou…, porque… ninguém… mexeu… uma… palha… para o… evitar!
Com o semblante cada vez mais carregado, sem levantar os olhos dos papéis, com umas olheiras que mais pareciam as canalizações da Baixa, disse:
- E-s-t-e   p-a-í-s   v-a-i   a-r-d-e-r    m-e-s-m-o.
N-ã-o   h-á   c-o-m-o  c-o-n-t-r-o-l-a-r   e-s-t-e   i-n-c-ê-n-d-i-o.
Coitado do Gasparzinho, mais parecia um «robot» encravado e ao ralenti…
Para ouvi-lo, era preciso engolir uma dose de paciência do tamanho do mundo!...

Ouve quem desistisse do discurso.
Às urtigas a inteligência do menino-prodígio.

E o Gasparzinho lá ficou… P-a-t-a-ti…p-a-t-a-t-a…

Que saudades da torre de marfim!... – terá pensado.

Abraço.

domingo, 13 de novembro de 2011

É bonito mesmo












Desde que, há três anos e três meses, me encontro reclusa por vontade própria, neste canto que me encanta, aqui numa aldeia de Sesimbra, que sinto a cada momento, os olhos cheios de natureza prenhe de beleza.
Ele é o mar que cada dia nos apresenta uma variante.
Ora calmo e grande, com o seu ar bonacheirão.
Ora enraivecido e espumando furioso sem paciência.
Ele é o campo com a sua grandeza imponente de pinheirais sem fim à vista.
São as hortas que, durante todo o ano, enchem as casas de hortaliças e frutos saborosos.
É o ambiente de aldeia em si, que me envolve e devolve aos meus tempos de menina saudável e livre.
Àquele tempo em que se iam colher, ali, rápido, as couves para o caldo verde.
Ou o tomate para a salada.
É este sítio que me envolve e devolve às relações de proximidade e afecto com os vizinhos.
É aqui que me reconhecem na rua e me estimam nos mais variados sítios que frequento.
É esta beleza física e com afectos, que me enche a alma e o coração.
Que me dá alento para esquecer momentos menos bons, que afinal todos nós temos.
É neste canto que passo o meu tempo.
Onde sinto que cresci muito.
Onde de uma forma calma e tranquila, tenho tempo para me dedicar a coisas para as quais não tinha tempo nem disponibilidade psicológica.
É aqui que penso a fundo nas coisas da vida.
É aqui que «mastigo».
Assimilo, digiro e traduzo os acontecimentos do dia-a-dia
É aqui que tento resolver-me.
É aqui que gosto de estar e onde me sinto bem.
Neste cantinho, na península de Sesimbra.
Algures, bem juntinho ao Oceano Atlântico.

Aqui.

Abraço.

sábado, 12 de novembro de 2011

Entusiasmos













Ser entusiasta quanto a mim, é agarrar tudo o que se faz com garra.
É aplicarmo-nos, seja o que for que façamos.
Com alegria, com prazer, com dinamismo.
É bom sentir prazer com o que se faz.
Para isso temos de trabalhar com as condições mínimas exigidas.
Um salário razoável, um horário compatível, e um ambiente que nos proporcione bem-estar e estabilidade.
É claro que estas condições seriam as ideais.
Todos sabemos que não existem e que na maior parte das vezes temos que nos superar para que o que fazemos nos agrade a nós e aos outros.
Bom, mas se agora as condições muitas vezes nos desagradam, como será quando entrarem em vigor os «castigos» que nos esperam, em termos de austeridade tanto material como física?
Como irão as pessoas reagir e resistir?
Onde irão buscar forças para trabalhar com o tal gosto e entusiasmo?
Se até aqui havia gente acabrunhada e triste, o futuro não se apresenta promissor.
Sobrecarga de horários, diminuição de ordenados e regalias, aumento de impostos, de bens essenciais – quem poderá viver e exercer com prazer e entusiasmo a sua vida tanto profissional como pessoal?
Resumindo: o seu dia-a-dia?
O país está destinado a ser um país triste, de olhos baços e sorriso apagado.
Ainda haverá estofo económico e emocional para este embate?

Só os donos do dinheiro escaparão a este trambolhão…

Estarei a ser demasiado pessimista?

Aguardemos para ver.

Abraço.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Saudade














Ausência de quem se ama.
Espaço vazio.
Tristeza
Melancolia.
Dor.
Amargura.
Disfarce.
Falta.
Ansiedade.
Aperto de alma.
Necessidade de preencher o vazio.
Muitas vezes impossível.

Uma angústia para sempre?

Uma mágoa quase sempre difícil de contornar.

Abraço. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dor será o quê?











A dor pode ser sentida de várias formas.
Pode ser uma dor física, quem não a sentiu já?
Ou pode ser uma dor emocional.
Para mim que já «provei» as duas, a emocional custa-me bem mais a suportar.
No campo físico, já tive uma cólica renal durante cinco dias, que até hoje foi do pior que senti. É mesmo para não esquecer!...
No campo emocional, aí, sou uma veterana.
Não precisaria de experimentar mais.
E como descrever a dor?
Impossível.
É um mal-estar geral às vezes insuportável, que nos deixa infelizes, de mau humor, rezingões até.
È imensurável, cada um tem a sua forma de a manifestar e de a suportar.
É um sentimento profundo, que pode atingir-nos no mais profundo do nosso ser.
Pode derrubar-nos, tirar-nos a vontade de viver.
A tão conhecida depressão, é normalmente a primeira a apresentar-se, respeitosamente pontual.
A dor, diria eu, comanda a vida.
A dor emocional então, é uma assassina mesmo.

«Vá de retro»!...

Abraço.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Violência doméstica















Está na moda.

Todos os dias na comunicação social se noticiam casos de violência doméstica.
As notícias que nos chegam têm tendência a crescer preocupantemente.
A última que veio a público foi mortal e de grande violência.
Assistimos, assim, a um crescendo cada vez maior de crimes contra pessoas indefesas e sem saída para este grave problema.
E que pessoas são estas que agridem assim gratuitamente uma pessoa frágil e quantas vezes dependente a nível económico e até emocional?
E quais os motivos que os levam a cometer tais actos?
E de que meio vêm?
Apenas é preciso pensar um pouco e ter acesso a alguma leitura sobre o assunto, para chegarmos a algumas conclusões.
Nada de novo.
Normalmente são pessoas alcoolizadas.
Pessoas dependentes de drogas.
Pessoas que estão sem trabalho.
Pessoas perturbadas psicológica ou emocionalmente.
Pessoas dependentes de medicamentos, como anti-depressivos.
Pessoas de nível social médio alto.
Embora também aconteçam noutras camadas mais baixas.
Haverá alguns, e isto sou eu que digo, que são apenas tiranos e pronto.
Outros haverá ainda, que são sádicos por natureza.
Bom, depois destas conclusões, teremos que chegar a outras.
Perante os factos relatados, preparemo-nos para o que estará para vir.
Com o país falido e com as dificuldades a aumentar, quem as irá pagar?
A mulher, como ser mais frágil, será o alvo a atingir?

E vivam os valentões.

Abraço.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Homo erectus















Ai, países socialistas, o que fizeram de vós?...

Há já alguns anos, no tempo em que a minha inocência ainda era virgem, acreditei com muita força, que o socialismo a sério era o caminho correcto para a cultura, a educação, a assistência na saúde e o progresso em geral.
Eis que, e bem de perto, me deparo ao vivo e a cores com situações e gente oriunda desses países, que me leva a concluir que fui muito bem enganada.
Tudo não passou de uma ilusão.
De um grande equívoco.
Aquilo em que ao longo de anos acreditei, e pelo qual lutei convicta, foi apenas uma valente fraude dourada com ouro baratucho e falso.
Os países que, diziam, davam cartas no campo da educação, do ensino, da cultura e da saúde, só existiram na minha pobre cabeça limpa das «maningâncias», e dos ardis dos homens do poder.
Do poder interesseiro e calculista, claro.
Não fui a única.
Muitos caíram no mesmo engodo.
Pois hoje sei, porque testemunho, que esses países deixaram os seus povos na maior das pobrezas e na maior das ignorâncias.
E não só pobreza económica, mas também pobreza de conteúdos.
Por defeito de educação (ou deseducação), são de um vazio de conhecimento, de carácter, de sentimentos, de sensibilidade e de cultura seja de que tipo for, que eu pensaria que só nos primórdios da humanidade pudesse acontecer.
Tenho-me deparado com situações que nem nas aldeias mais recônditas, há muitos anos atrás, aconteciam.
Estou de queixo caído.
Sinto-me uma idiota.
Uma ingénua, uma otária
Que gente é esta que apareceu aqui com uma mão à frente e outra atrás, com a roupa do corpo na maior das misérias, e o único objectivo é ganhar dinheiro?
Nunca ouviram falar de princípios, e só desejam uma casa no país de origem, e um bom carro para lá mostrar? Em terras sem qualquer condição para viver: nem alcatrão, nem electricidade pública eficaz, nem higiene e lama até aos calcanhares…
Nem que para isso tenham que faltar com a alimentação aos filhos e, como se costuma, dizer, vender a mãe.
Informação? Não é com eles. Tudo lhes passa ao lado. Nem querem saber.
As tradições então, são do mais primitivo que se conhece.
Onde está o tão apregoado socialismo?
Que desilusão!...
Machismo é mais que muito. A mulher para eles é uma escrava. Os filhos nem sabem o que é afecto nem princípios de educação.
Falta-lhes em formação o que lhes sobra em arrogância e vaidade.
Isto só no tempo do «homo erectus»… Sem ofensa para o «homo erectus». 

Abraço.

domingo, 6 de novembro de 2011

Monótona?




Rota da Memória








Quando escrevo no meu blogue, às vezes penso que me podem achar monótona.
Porquê?
Porque falo muitas vezes de temas que poderão parecer repetitivos.
O mar, a natureza, a degradação da sociedade actual, as «malabarices» dos políticos etc.
A verdade é que são temas que me dominam.
Uns pela proximidade, outros pela minha vivência ou porque mexem com a minha sensibilidade de cidadã que se preocupa com o seu país e com a dignidade do mesmo
Há momentos em que faço uns intervalos.
Curto as mágoas do dia-a-dia.
Coisas sem importância!
Uma maldade ou outra sem sentido, que só serve a quem faz uso dela.
Bom, mas se calhar isto sou eu a falar, a fazer uma rebobinagem do que está escrito.
Depois ao abrir diariamente este pequeno e despretensioso espaço, verifico que afinal há gente que todos os dias está comigo, embora respeitosamente em silêncio.

Não é este um blogue intimista?

Agradeço o respeito.

Já agora informo que estou no ar há dez meses e é admirada que verifico que neste momento, tenho exactamente três mil e vinte e três visitas.
Juro que me surpreende.
Quando comecei, pensei que não merecesse esta atenção.
Nem sequer sabia se seria capaz de ter capacidade para trilhar este caminho.
Parece que tudo tem que ter atrás algum incentivo e algum apoio psicológico.

Obrigada pelo apreço.
Prometo continuar a ser autêntica e verdadeira como sempre – comigo e com quem me lê.

É um prazer.

Abraço.

sábado, 5 de novembro de 2011

Horizonte aberto












Numa tarde de sol frio e mais ou menos envergonhado, ali estava eu no habitáculo pequeno do meu Toyota Yaris, que comprei há sete anos e paguei com o fruto do meu trabalho.
Ali.
Com uma perspectiva única e rara, de olhos postos no mar que se confundia com a linha do horizonte.
Para completar o cenário, ouvia pela enésima vez um C D de música cigana.
Baixinho, como convinha no momento.
Não fosse a música alterar a tranquilidade do cenário e do local.
E a minha, que era muita.
O sol esforçava-se por furar as nuvens grossas e por acaso muito belas, que teimavam em o ofuscar.
As nuvens venceram a batalha, com o beneplácito do arco-íris, que fez questão de aparecer também.
Não é para admirar, o sol já reinou muito este ano.
Só houve um senão.
O vento, que não gosta de ser confrontado, deu também o ar da sua graça.
Rugia a sério.
O carrito, que por acaso estava ao cimo de uma ravina, de vez em quando abanava!
Pensei:
- Não quero acabar assim, aos trambolhões até ao mar.
Já fui demasiado feliz aqui.
Venceu o bom senso.
Saí.
Fui procurar o aconchego da lareira, que nestes dias também me conforta muito.
Quase me faz esquecer a crise.

Crise?

Só para alguns.
Abraço.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A vida












O que é a vida?

É luz.
É sol.
É liberdade é convívio.
É trabalho, quando há.
É alegria, é tristeza.
É amor, desamor.
Maldade.
Hipocrisia.
É saúde, é doença.
É drama.
É fome.
É um poema vivido com ou sem entusiasmo.
A vida é um enigma.
Difícil de decifrar.
A vida é um misto de sentimentos.
A vida é um mistério.
É uma criança a sorrir.
A vida é um sonho que se vai construindo e desfazendo aos poucos.
Sem retorno.
A vida, às vezes, é desilusão.
A vida é uma roda que não pára.
A vida devia ser apenas e só…

Uma entrega.

Sem egoísmos, sem golpes baixos.
A transbordar generosidade.

Abraço.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Reclusão












Hoje foi dia de reclusão.

Acordei de manhã ao som do ribombar de trovões ensurdecedores e de uma chuva torrencial que quase fazia fumo.

Saltei da cama meio atordoada, abri o estore e observei o temporal.
Para ser franca, a coisa impunha respeito.
Voltei para a cama e, aconchegada no edredão, assisti a mais um espectáculo com que a Natureza de vez enquando nos presenteia.
Lá fora, na rua deserta, a luta era feroz.
A trovoada era violenta.
Vinha do Cabo Espichel e, quando é assim, fia fino.
Foi uma manhã de preguicite boa e morna.
Ficaram para trás os projectos da rotina diária.
Apesar de tudo, foi um dia diferente.
Melancólico mas tranquilo.
De vez em quando, é preciso esquecer a vida que vai lá fora.
Está demasiado feia e complicada.
A reclusão pode ser um intervalo na trapalhada.

Abraço.