sábado, 19 de novembro de 2011

As ladainhas













Havia na minha aldeia, e provavelmente noutras, uma tradição que designaram por ladainhas.
Sempre me intrigou aquela crença.
Naquele tempo, a maioria das pessoas vivia apenas do que dava a agricultura.
Que tudo germinasse da melhor forma, era a ambição de todos.
Dependiam do tempo que fizesse para encherem ou não as «lojas» e terem o sustento para todo o ano.
Daí, aquela necessidade de recorrer ao divino, para que lhes protegesse o que já tinham lançado à terra.
Sim, porque as ladainhas eram procissões e rezas que apelavam a todos os santos para que lhes protegessem as culturas.
Eram realizadas de madrugada.
Ainda noite escura e com a iluminação fraca das ruas.
Lembro-me que era acordada todas as manhãs naquele período (não sei precisar mas acho que eram algumas semanas) por um grupo de vozes que mais ma pareciam vindas do além, que cantavam rezando – ou rezavam cantando...
Pelas ruas da aldeia iam andando e cantavam as ladainhas.
Todos os santos conhecidos eram chamados a intervir.
O sacerdote dava o mote lá da frente e todos mais ou menos ao mesmo tempo, respondiam.
Mais ou menos isto:

- Santa Maria Madalena!
- ...Rogai por nós!...

- Santa Joana!
- ...Rogai por nós!...

E por aí fora… até se esgotar o stock.

Às vezes acontecia que não se conseguiam coordenar, o que dava uma grande trapalhada, e lá ficava uma voz sozinha a berrar na noite!...

Eu, de cada vez que ouvia lá longe aqueles sons misteriosos, levantava-me e ia à janela.
Era um espectáculo que, digo com franqueza, me impressionava um pouco - até posso dizer que na época me deixava meio aterrorizada.
Talvez porque me lembrava uma cena de almas do outro mundo.

Gosto de recordar estes episódios da minha meninice.

Abraço.

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