sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O chafariz das duas bicas















Na minha aldeia, havia e ainda há, um chafariz que era e é designado por Chafariz das Duas Bicas.
A sua água, segundo os mais velhos, era de uma qualidade excelente
Esse chafariz foi, durante muitos anos, meu vizinho muito próximo.
Sempre gostei, e até quase venerei, aquele chafariz.
Quase o sentia só meu.
Fez-me companhia nos bons e nos maus momentos.
Junto dele brinquei, sofri, fui feliz, amei, chorei – enfim, foi meu companheiro de todos os momentos.
O que mais recordo, e recordo com muita ternura, é o momento de ir dormir.
Sabia-me muito bem ao deitar e no silêncio da noite (o chafariz era memo em frente ao meu quarto), ouvi-lo e ser embalada suavemente ao som da cadência monótona e calma da água a correr para dentro do pio (era assim que se chamava) eternamente…
E eternamente porquê?
Porque, ao acordar, lá continuava o mesmo som da água, com a mesma cadência, sempre pronta a dar-me os bons dias.
Assim.
Vinte e quatro sobre vinte e quatro horas.
Lembro-me muitas vezes daquele chafariz.
Afinal, foi lá que cresci e me fiz mulher.
As minhas raízes estão lá bem fundas.
As minhas emoções também.
As recordações estão guardadas numa gaveta especial do meu cérebro.
E, claro, num lugar de eleição do meu coração.

Há coisas de que pouco se fala, mas estão e estarão sempre connosco.
Não foram afinal essas vivências que nos deram a personalidade que temos hoje?

Até sempre, meu amigo chafariz.

Abraço.

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