segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Que grande vassourada



O dia vinte e nove de Setembro de dois mil e treze vai certamente ficar na história do nosso pequeno grande país.

O presunçoso do primeiro-ministro e a sua política foram varridos com um enorme vassourão.
Uma grande parte do país não os quer.
Aqueles que têm sido vítimas das torturas que ele instaurou estão feridos e magoados.
Só os obsessivos, os cegos políticos, os fanáticos… conseguem não sentir o chicote que todos os meses e a toda a hora, zurzindo, lhes cai em cima.
Esses seguem o seu senhor, quais masoquistas ignorantes e sempre prontos a dar a outra face.

Pois é verdade, apesar da varridela, sua excelência apresentou-se com a mesma presunção a assumir a derrota.
Nem um minimozinho de sensibilidade lhe espreitou no rosto.
Sua alteza não achou necessário dar um mínimo sinal de desconforto.
Simplesmente, qual pau seco e hirto, disse que iria continuar a sua política.

Apesar de muito, ainda foi pouco – digo eu.
Este espécime precisa que lhe vão preparando o futuro.

Até à próxima.


Abraço.

domingo, 29 de setembro de 2013

Uma pitada de Outono




Esta viragem do Verão para o Outono é para muita gente deprimente.
São as férias que terminam, são os dias que encurtam, são as noites que se alongam, é o tempo que muda, enfim são mudanças às vezes um pouco abruptas que deixam desconfortáveis muitos cidadãos.

Eu não faço parte desse grupo.
Recebo o Outono com agrado.
Para mim é o início de uma época de maior privacidade, de maior reflexão e intimismo.
Adoro o silêncio, gosto da surdina da noite.
Adoro entrar dentro de mim, despir-me, vasculhar o que tenho guardado e enfrentar-me.
Gosto de reflectir sobre os acontecimentos vividos e tirar deles lições para o futuro.

Às vezes deparo-me com acontecimentos que considero pouco próprios.
Tanto a nível de país, como da vida corrente.
Interrogo-me:
– Porquê?
Encontra-se de tudo neste caminhar pela vida.
Gente boa, e gentinha.
Sim, mal-formada e que é capaz de qualquer atitude para satisfazer os seus ímpetos selvagens e cavernosos.
Gente incapaz de reflectir e de se questionar.
Daqueles que pensam que nunca erram.
Que não precisam de rever os seus actos.
Que são os melhores!...
Que não se questiona nunca!
Para quê o silêncio e a reflexão?
A fuga à realidade é bem mais fácil.

As estações mais agrestes levam-me para um mundo aconchegante e intimista de que gosto muito.

Bem-vindo, Outono.
Traz as tuas chuvas, o teu vento.
Traz as tuas folhas da cor da terra, de que tanto gosto.
A tua magia nostálgica de fazer dançar tudo o que mexe, num bailado de cor.
Que nos leva em pensamento a um desfilar de emoções doces e serenas.

Bem-vinda sejas, estação das cores!...


Abraço.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O mais cego é o que não quer ver



Este é um ditado antigo que, acho eu, tem muito de verdade.

Costuma dizer-se quando há quem se negue a ver – mesmo o que tem debaixo do nariz.

Há muitos acontecimentos e situações, que preferimos ignorar.
Desviamos o olhar, fingimos que ignoramos. Enfim, pequenos truques que muitas vezes nos deixam a consciência menos pesada e nos facilitam a vida.
Ficamos bem mais confortáveis e sem preocupações.
Evitamos enfrentar e, quem sabe, tomar posição – o que para muita gente é uma atitude difícil.
Tomar conhecimento é por vezes muito complicado.
Talvez seja por isso que há tanta gente a fazer de conta que não vê, que não dá conta.

A cegueira fictícia é perigosa e enganadora.
É bem mais corajoso e sensato encarar os problemas de frente e, se pudermos, ajudar a resolvê-los.

Há ditados que se aplicam á vida real

Abraço.


domingo, 22 de setembro de 2013

O dinheiro não compra tudo

 

Pois é.
O dinheiro.
O deus dinheiro.
Não, não compra tudo.
É apenas uma ilusão enganadora e uma forma de nos distrair do essencial.
É claro que é um bem necessário.
Sem ele, é tudo bem mais difícil.
Mas nem tudo se consegue com dinheiro.
Os sentimentos mais profundos de solidariedade, de amizade e de afecto não se adquirem com as quantias mais significativas desse metal.
Esses sentimentos não se compram.
Têm que nascer dentro de nós.
Têm que brotar espontaneamente e ser canalizados sem esforço, nem frete.
Como se dentro de nós houvesse uma fonte corrente de ternura a passar para quem gostamos.
O dinheiro «é» quase sempre fútil.
«É» soberbo, «é» orgulhoso e «não tem» sensibilidade.
É um bem necessário, sim, mas se for mais do que o que precisamos, pode ser perigoso.
Pode ser a forma de nos fecharmos e de ficarmos desumanizados, egoístas e egocêntricos.

O dinheiro.

O bem mais desejado.
O que «enlouquece» os mais fracos de espírito.

A saúde e o necessário para o dia-a-dia, seria uma riqueza impagável.


Abraço.    

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Pedaços de mim




Às vezes dou comigo a pensar o quanto eu já percorri.
Por quantos sítios já andei e o que já fiz.
Ao olhar de longe o meu trajecto, imagino quantos pedacinhos de mim andam por aí espalhados!
Pedacinhos cheios de vida.
Cheios de entusiasmos, de alegrias, de vontade de fazer o que fiz e da melhor maneira que soube e me deixaram.

Há de certeza, junto desses bocadinhos, momentos menos bons.
De tristeza, de desilusão e de impotência também.
Outros, e são tantos, cheios de ternura, muita, e de muito amor!
Amor pelas pessoas que se têm cruzado comigo e que merecem.
Amor por tantas crianças que ajudei a crescer.
Amor pelo trabalho que sempre me entusiasmou.
Amor pela família com quem me criei e me transmitiu os genes que fizeram de mim a pessoa que sou.
Com os princípios e a educação de que sempre me tenho orgulhado.
Da ligação forte a tudo o que – e todos aqueles a quem – me ligo.
Da forma como encaro o que me desagrada.
Com a dignidade que me é possível.
Com indignação e muitas vezes revolta, mas sem cair no que considero vulgar.
Foi isso que colhi na origem e é isso que me norteia.

Pedaços de mim.

Alguns com uma marca de alegria e felicidade.
Outros mais ou menos em ferida e que doeram muito.
Esses, eu quero esquecer.


Abraço.


E oiça O Chico Buarque 
(acompanhado), 
clicando na foto:



sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sofrimento



O sofrimento.
É a parte feia da vida.
É parar de ser feliz.
É a tristeza a entrar.
É o coração a fechar-se.
São as marcas incrustadas e visíveis.
São lágrimas que enchem os sulcos que a vida desenhou.
São também lágrimas recolhidas que apertam a alma.
É o coração dilacerado.
É o corpo a não querer reagir.
Sofrimento é dor.
É a impotência a tomar conta.
Sofrimento é a ausência de objectivos.
É a vida parada.
Sofrimento é desistirmos de nós.
Dos outros e do mundo.
Sofrimento é um túnel sem luz.

E a solidariedade de quem tem conhecimento, não ajudaria a colmatar a dor?


Abraço.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Ser solidário



«Ser solidário» é o nome de uma bela canção de José Mário Branco.

Foi há muitos anos.

Quando a solidariedade ainda fazia parte das atitudes normais entre as pessoas.
Hoje, poucos serão os que a praticam ou, diria até, aqueles que sabem o seu verdadeiro significado.

Hoje, os interesses não passam muito por aí. As preferências vão mais para aquilo que nos aliena.
Recebemos de braços abertos tudo o que nos desvie da realidade que nos rodeia.

Quanta coisa supérflua!

É bem mais cómodo atentarmos nos supérfluos que a vida se encarrega de nos pôr à frente todos os dias.
Naquilo que por momentos nos «preenche» os vazios interiores.
Que serve como uma forma de alienação consentida.

Ser solidário não é fácil.
Exige muitas vezes sacrifícios e renúncias.
A canção do José Mário Branco é ainda hoje bem actual e oportuna.

Como o Mundo seria melhor se tentássemos entender o verdadeiro significado da palavra solidariedade e procurássemos pô-la em prática!


Abraço.

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Para ouvir a música, clique na foto:

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Volto dentro de momentos






















É esta a legenda que me passa pela cabeça sempre que, ao ver televisão, começa o desfiar de desgraças que vão pelo mundo.
É certo que temos que ter conhecimento do que se passa.
É um facto que não podemos ignorar.
Mas insistir em mostrar as tragédias de uma maneira repetida, diria que é um excesso.

Então agora com a chacina na Síria…
Mostrar repetidamente ao mundo aquela monstruosidade com crianças a morrer em directo, penso que não será a melhor forma.
Parece-me que, para informar, não será necessário explorar os sentimentos dos mais sensíveis!
E mais.
Há crianças sozinhas em casa, enquanto os pais labutam pela vida.
São imagens demasiado fortes para uma criança digerir, quando não há apoio de um adulto por perto.
Será que alguém já pensou nisto?

Violência do princípio ao fim de um telejornal, será demais – eu acho!
Por isso, apetece desligar e… voltar dentro de momentos…


Abraço. 

sábado, 7 de setembro de 2013

A noite caiu




O sol, devagar, foi-se inclinando.
Tocou a linha do horizonte, lambeu as águas do oceano e descansou atrás das nuvens.
A noite espreita como que para saber se pode entrar.
Chegou mais cedo, a noite.
Setembro é o mês em que as mudanças se começam a acentuar.
Dias um pouco mais pequenos introduzem novos hábitos de vida.
Na rua, nota-se uma aragem fresca, a fazer lembrar que o verão começa a despedir-se, para dar lugar a mais um longo período de labuta.
A noite começa a ser rainha.
Convida à introspecção, ao recolhimento e a um certo silêncio interrompido pelo período de férias, normalmente buliciosas.
Cheira um tudo-nada a Outono.
Aquele cheiro bom e fresco da humidade nocturna.
Das ervas a pingar orvalhada.
E da terra a abrir-se para a receber

É Setembro.

O Outono aproxima-se.
Tudo tem o seu tempo.


Abraço.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

E fez-se vida





No jardim já florido, nasceu mais uma flor.
Pequenina, sensível, mas com muita vontade de viver.
Foi recebida com amor.
A luz do sol é o bálsamo de que precisa para viver.
Rodeada de mimos, abre as pétalas mimosas e espreguiça-se.
Desvanecida, agradece e prepara-se para crescer.
Por ser tão pequenina e bela, destaca-se no meio das outras flores do jardim.

À noite, recolhe as pétalas.
Adormece nos braços do luar.
A orvalhada, ao de leve, refresca-a e alimenta-a.

Acorda com os raios solares a beijarem-lhe as folhas frescas.
Sorrindo, diz com ternura:
– Bom dia sol! Bom dia mundo!... Como é bom viver!...


Abraço.  

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Maria da Graça
















Era uma mulher já bastante idosa.
Tinha a seu cargo uma neta adolescente.
Era pesada a responsabilidade.
Teve que arranjar um meio de sobrevivência.
Na aldeia não havia carteiro.
Ofereceu-se.
Não sei quem pagava o quê.
Logo no início, sozinha, calcorreava as ruas da aldeia gritando a cada porta anunciando as notícias que chegavam.
Mais tarde, já quase cega e coxa, era acompanhada pela neta que lhe dava o braço e a guiava.
As cartas eram transportadas directamente nas mãos que tremiam demais.
Andrajosa, com pouca higiene, atraía as crianças da aldeia que a assediavam.
Chamavam-lhe a alcunha que ela mais odiava.  
Os adultos, alguns, aproveitavam a boleia.
Gostavam de a ouvir dizer das boas!...
Até os cães a cheiravam à distância e lhe ladravam deseperadamente.
Reagiam, penso eu, ao odor menos agradável que dela exalava.  

Chamava-se Maria da Graça.
A alcunha era «Greta».
Chamavam-lhe assim e escondiam-se, gargalhando
Caíam raios e coriscos dignos de bolinha vermelha.

Gostava da pinga.
Dava-lhe mais ânimo para as voltas, dizia.
Parecerá um espectáculo sádico, humilhante.
Mas sei que não existia esse sentimento.
Era apenas uma forma de diversão inocente.
Era o gozo de ver o álcool funcionar.
Era a televisão da época.
E tinha muita piada mesmo.

Morreu muito velha a ti’ Maria da Graça.
Apesar de tudo, era uma pessoa querida de todos.

Greta, greta, greta!...

Ainda hoje é motivo de gargalhada.
Vá-se lá perceber.


Abraço.