Era uma mulher já bastante idosa.
Tinha a seu cargo uma neta adolescente.
Era pesada a responsabilidade.
Teve que arranjar um meio de sobrevivência.
Na aldeia não havia carteiro.
Ofereceu-se.
Não sei quem pagava o quê.
Logo no início, sozinha, calcorreava as ruas da aldeia
gritando a cada porta anunciando as notícias que chegavam.
Mais tarde, já quase cega e coxa, era acompanhada pela neta que
lhe dava o braço e a guiava.
As cartas eram transportadas directamente nas mãos que
tremiam demais.
Andrajosa, com pouca higiene, atraía as crianças da aldeia
que a assediavam.
Chamavam-lhe a alcunha que ela mais odiava.
Os adultos, alguns, aproveitavam a boleia.
Gostavam de a ouvir dizer das boas!...
Até os cães a cheiravam à distância e lhe ladravam deseperadamente.
Reagiam, penso eu, ao odor menos agradável que dela exalava.
Chamava-se Maria da Graça.
A alcunha era «Greta».
Chamavam-lhe assim e escondiam-se, gargalhando
Caíam raios e coriscos dignos de bolinha vermelha.
Gostava da pinga.
Dava-lhe mais ânimo para as voltas, dizia.
Parecerá um espectáculo sádico, humilhante.
Mas sei que não existia esse sentimento.
Era apenas uma forma de diversão inocente.
Era o gozo de ver o álcool funcionar.
Era a televisão da época.
E tinha muita piada mesmo.
Morreu muito velha a ti’ Maria da Graça.
Apesar de tudo, era uma pessoa querida de todos.
Greta, greta, greta!...
Ainda hoje é motivo de gargalhada.
Vá-se lá perceber.
Abraço.
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