quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Carnaval e a tradição












Hoje vou falar do carnaval, mas do carnaval simples e ingénuo de há muitos anos, quando eu ainda era menina.

Nesse tempo em que fiz a Escola Primária, havia no carnaval uma tradição que fazia as delícias das crianças.
Essa tradição chamava-se «O Testamento do Galo».
Era simples, mas exigia por parte das crianças alguma movimentação.
Tratava-se de quê?
Comprar um galo que seria oferecido nesse dia ao professor da terra.
Para isso era preciso que as crianças arranjassem dinheiro (para o comprar).
Quando faltava mais ou menos um mês para o dia, as crianças encarregadas da tarefa corriam toda a povoação, metendo o nariz em tudo o que tinha galináceos.
Observavam e tentavam encontrar o maior, o mais bonito, o mais gordo e vistoso galo.
Depois de encontrado o que mais agradava, passava-se ao «negócio» propriamente dito.
Se tudo corresse de feição, pagava-se logo. E o animal ficava à guarda da vendedora até chegar o dia.
Logo que chegasse, todas as crianças vestiam as suas melhores roupas e iam buscar o galaró.
Com serpentinas de todas as cores, enfeitavam-no.
Pegando nele ao colo, ora umas ora outras, começava a «procissão».
Era chegado o momento mais importante e desejado.
Ler o Testamento do Galo.
Era uma cantilena muito engraçada.
Uma forma de mostrar a toda a gente as últimas vontades do «condenado».
Sim, porque, na pior das hipóteses, o animal ia dar uma bela canja em casa da pessoa a quem era oferecido.
Então era um desfiar de lamúrias e brejeirices que punha toda a gente a rir.
Até as meninas solteiras, os velhinhos mais velhinhos eram sujeitos a chacota…
No testamento, o galo oferecia todas as partes do seu corpo.
Sem escapar nenhuma.
Era lido em voz alta, nos sítios principais da aldeia.
Só no fim de todas as crianças terem brilhado a ler de uma forma exímia todo o conteúdo do pequeno fascículo, é que se ia finalmente entregar o galo.
Claro que era recebido com agrado.
Íamos para casa felizes, com a tarefa cumprida e as mãos com alguns rebuçaditos…

Era um dia para não esquecer mais.

Esta era uma das tradições, mas havia mais.

Sei que na minha aldeia estão a recuperá-la

Nem todos pensam da mesma maneira!... Veja-se o Primeir-Ministro.

Abraço.

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