Como disse no texto anterior, na minha aldeia de há muitos
anos atrás, brincava-se ao carnaval de uma forma genuína e espontânea.
Era tradição, não podia passar despercebida.
Brincava-se muito, mas duma maneira tranquila e alegre.
As figuras de proa eram dois irmãos, homens do campo.
Travestiam-se de mulheres, enfeitavam os burritos com as
quinquilharias mais estapafúrdias que encontravam e, cheios de confiança no
sucesso, começavam o passeio carnavalesco pela aldeia.
Com as suas figuras grotescas e munidos de um papel que
fingiam ler, diziam os maiores disparates.
Só de vê-los as gargalhadas estalavam.
Quando começavam com a lengalenga, então era como se
estivéssemos a assistir a uma revista com todos os condimentos, mas caseira.
Eram seguidos pelas crianças da aldeia e iam parando aqui e
ali para se exibirem.
Os adultos também eram contagiados e a animação subia de
tom.
As tascas eram paragem obrigatória.
Era preciso molhar a garganta e reforçar a imaginação.
Essas investidas ao copo, traduziam-se em alegre bebedeira
no fim do dia.
Era preciso que alguém os ajudasse a descer do animal e a
caminhada até casa era feita em desequilíbrio de um lado ao outro da rua, com
as paredes a ampará-los.
As mulheres recebiam-nos em casa sem rancor.
Elas sabiam que um dia não são dias.
A alegria e a animação que transmitiam davam para perdoar os
exageros da bebida.
A cama era o porto seguro que os recebia para um bom e
merecido descanso.
Para o ano, eles lá estariam disponíveis para mais uma saga.
As minhas homenagens, aos irmãos Balbino.
Palhaços pobres, afáveis e genuínos
Abraço.
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