segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ternuras














Em meados de Maio que passou, tive a surpresa inesperadíssima de encontrar à porta da minha casa dois gatinhos abandonados que com um miado dilacerante, chamaram a minha atenção.
Fechados dentro de um saco de supermercado, suplicavam por socorro.
Fazerem isto… e logo a mim.
Logo a mim é que tinha que acontecer uma situação destas, doida por cães e gatos desde sempre.
Fiquei com o coração em alvoroço sem saber o que fazer.
Não tinham mais de quinze dias.
Mal se punham em pé.
O que fazer com esta crueldade?
Eu que já tinha duas gatas donas absolutas do seu espaço e que já eram uma preocupação cada vez que tinha que me ausentar.
«Se fossem mais pequenos matava-os, mas já abrem os olhos» - disse alguém que se aproximou.
Arrepiei-me e disse: «Vamos tentar uma solução».
Primeira medida: agasalhá-los.
Segunda: correr ao hipermercado mais próximo comprar leite próprio, biberão, e um saco para por água quente.
Tudo isto numa correria, pois a situação era para mim aflitiva.
Cheguei, aqueci o leite, alimentei-os e, com muitos miminhos, tentei transmitir-lhes segurança.
Coloquei-os numa cama muito confortável.
Acalmaram.
O saco da água quente, penso que lhes fez lembrar o calor da mãe.
Era fome, o frio, o desnorte – pobrezinhos!..
E agora?                                    
Ficam na rua na varanda.
Mas está tanto frio.
Que problema para mim aquelas duas criaturas indefesas e ternurentas.
Depois de algumas horas e muita hesitação, diz o meu marido que acabava de entrar: «Não pode ser, já temos duas, é impraticável. Eu já trato disso…».
A morte dos pobrezinhos outra vez em perspectiva.
Quando eu olho para aqueles dois seres indefesos já confortavelmente instalados, e por mais que eu própria também achasse irracional, não consegui aguentar a ideia.
Saí para não assistir à cena, e chorei sozinha.
Quando voltei, a sensibilidade tinha falado mais alto.
Os meus protegidos continuavam no seu novo aconchego, calmos e a recuperar da aventura por que irresponsavelmente os fizeram passar.
Ficaram connosco, e fazem as delícias de todos, com as suas traquinices.
Tratei deles como se fosse a própria mãe, dei-lhes biberão e fiz-lhes a higiene que a mãe lhes faria. Ganharam a amizade e a simpatia de quem, à partida, ofereceu resistência.
Nunca ouvi aqueles dois bebés miar, ou expressar qualquer gesto de desconforto ou mal-estar.
Tiveram um crescimento óptimo e são dois irmãos muito felizes.
Até as gatas os toleram e às vezes entram na brincadeira.
A ternura e a amizade que manifestam um ao outro e a nós são inesgotáveis.
Os humanos deviam seguir-lhes o exemplo.
Abraço.

1 comentário:

  1. Então quer dizer que tu em tempo de crise aumentaste a familia...quando deves fazer menos despesas aumentas as bocas para alimentar...és do contra?

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