quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dois anos















Como já aqui escrevi, a minha chegada a Cabinda foi uma decepção.
Contudo, o que descrevi foi apenas uma ponta do enorme fio, que foi aquela experiência.
À chegada, fomos precariamente instalados numa das casas de madeira que foram feitas de propósito para os militares daquele batalhão que optassem por ter a família com eles. 
Ainda mal refeita da mudança radical que se tinha operado na minha vida, deparei-me com uma situação no mínimo caricata.
A casa tinha dentro, apenas, uma cama de casal.
Os móveis, que também foram feitos por encomenda, também não estavam prontos.
O trabalho artesanal foi chegando com alguma lentidão.
Achei graça.
A matéria-prima de que foram feitos era exactamente extraída das grandiosas árvores da floresta do Maiombe, minha vizinha: o mogno.
Quase tudo era feito de uma só tábua.
Madeira virgem, sem qualquer espécie de tratamento.
Era bonita, assim ao natural. Limitei-me apenas a pedir que lhe dessem uma camada de cera clara.
Umas cadeiras de praia, uma estante com tábuas e tijolos, uma mesa mais ou menos grande, uns almofadões de tecido local (fiote, na linguagem indígena), e umas cobertas feitos do mesmo, com uma manta no chão… fizeram da minha casa um «chalé» que provocava a cobiça de todos, incluindo o comandante do batalhão, que nos visitou um dia de surpresa para verificar «in loco», pois já lhe tinha constado.
Acho que era da solidão. Ele não tinha lá ninguém de família. Também precisaria de sentir um ambiente caseuiro e com o conforto possível.
Na nossa casa, o resto que era necessário foi-se adquirindo aos poucos à medida do possível.
Entretanto, valia-nos o apoio que vinha do quartel. A messe era a salvação.
Com a passagem do tempo, fui-me convencendo de que aquele sítio no meio do mato, seria a minha morada nos dois anos seguintes.
Buco Zau era o nome daquele sítio onde só havia indígenas e tropa. Berliets, jipes e unimogs.
Nós achávamos que era uma terra de muito calor e muita humidade: na época mais quente do ano, 50º de calor e 70 a 80% de humidade no ar.
O movimento na rua, para lá das passagens da tropa, era de pessoas locais, sempre embrulhadas em mantas (tinham sempre frio, julgo que por causa daquela humidade extrema), carregando os filhos às costas, ou com molhos de lenha para se aquecerem e fazerem a comida.
E havia os fazendeiros... que até esta altura eram os donos não só da terra e das gentes como também da tropa. 
O sol nascia por volta das quatro da manhã e as noites começavam às dezasseis.
Logo no início – foi uma coisa que me marcou, para lá do calor pegajoso, também estas diferenças me perturbaram –, comecei a ter perturbações a nível de sono, só com ajuda de um comprimido fui suportando toda aquela mudança.
Um objectivo único, me mantinha: apoiar quem estava todos os dias a correr riscos.
Um dia destes conto mais.
Abraço.

1 comentário:

  1. Cabinda oh yé!
    estiveste numa estancia balnear de muitas e muitas estrelas e ainda te queixas....
    Quem me dera estar lá agora!
    Velhos tempos da nossa juventude que nao voltam mais...
    Tudo de bom.
    Bjo

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