sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Buco-Zau















Como referi no último texto, embora levando uma vida parada (o que, tenho de confessar, me fez mal em termos de saúde), o cérebro estava activo, necessitado de ocupação.
Daí eu passar a maior parte do tempo a ler.
A ler e a observar.
A intensificação da revolta cresceu ainda mais em mim.
Mais ainda tive mais a certeza de que aquela guerra era uma grande injustiça.
Só servia os «senhores da guerra» e as famílias que com eles privavam.
Os militares «do quadro», que faziam comissões atrás de comissões e se entretinham nas festanças no quartel, a beber e a jogar bridge, enquanto o pé-de-meia ia crescendo, crescendo.
Colonos e fazendeiros acompanhavam-nos.
Ao mesmo tempo, exploravam os pretos, coitados, que, embora com uma grande revolta interior, obedeciam e calavam a raiva.
Isto para poderem comer os restos e dar aos filhos como se de porcos se tratasse.
Parece linguagem dura, mas é verdadeira, infelizmente.
Os seus senhores, insensíveis e cruéis, fingiam que não viam.
A vidinha corria-lhes de vento em popa…
Quando este batalhão chegou, alguns de nós, mais revoltados, foram para lá decididos a protestar contra aquela injustiça e ganharam muitos para a causa.
Foi um protesto surdo, sem ruído.
A melhor táctica foi não alinhar em farras de famílias com as entidades locais mais gradas e os fazendeiros, que tinham até então os militares na mão.
Para quem sempre viveu da guerra e dos convívios, foi um choque.
Custou-lhes a aceitar.
Sentiram-se rejeitados e, como a inteligência estava adormecida, acho que nem perceberam o gesto.
Ao mesmo tempo, nos contactos diários, a relação dos militares com os indígenas, era como é evidente, de igual para igual.
Uma atitude que os deixou perplexos e com um brilho muito especial nos olhos.
Os que estavam mais próximos dos militares e suas famílias sentiram a cumplicidade. Isso transpareceu. Deixaram o olhar triste e começaram a sorrir.
Passaram palavra, olhavam-nos com muita simpatia e cumprimentavam.
Deixaram de se ver cenas tão tristes como aquela em que dois militares graduados tiveram que intervir fortemente.
O administrador local para se desresponsabilizar, perante os militares milicianos e famílias, esbofetear o «cipaio» já com muita idade («cipaio» era uma espécie de soldado civil de apoio  ao próprio administrador), acusando-o de ser o responsável pela falta de água.
Para «engraxar».
Devo dizer, que a água era, lá mais do que noutro sítio qualquer, um bem mais que necessário. Logo, era preciso não haver falhas nesse aspecto sobretudo.
Eram estes os donos daqueles países.
Muito mais haveria para dizer.
Como foi possível aguentar tanto?
Abraço

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