domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sustos












Foram vários.
Não estou a falar de osgas e baratas. Isso, no meio de tudo o resto, foi uma «gracinha».
Deixava o coração aos saltos, arrepiava, mas não punha a vida em risco.
Refiro-me às saídas do meu marido com o seu grupo para o mato.
Ao ataque ao quartel.
Às trovoadas.
Ao ter ficado sozinha e sem vizinhos, quando o colega do meu marido foi, castigado, para o leste.
Quando me dei conta de que para essa casa vazia entraram dois rapagões pretos, que iriam ser os meus próximos vizinhos (eram soldados do MPLA), soube logo.
Coração sofre!...
As saídas para o mato, eram sempre uma incógnita.
Fazíamo-nos fortes, mas a ansiedade instalava-se.
Tentava tudo para não pensar no pior.
Em casa eu via-os passar.
Lá ia a coluna com uma Berliet e três Unimogues carregados de jovens muito jovens, que não sabiam se voltavam.
Logo ali a três ou quatro quilómetros, espreitava o primeiro perigo.
A curva da morte (assim se chamava - ver foto) era famosa nas emboscadas.
Havia um morro, que era um sítio «estratégico e eficaz para matar».
Um dia antes de este batalhão chegar, tinham lá sido mortos dois militares.
Um bom presságio para quem chega!
Da minha casa eu, expectante a fazer de conta que era forte (ou inconsciente?), ouvia o fogo que o grupo do meu marido abria para, hipoteticamente, assustar se fosse possível.
A ansiedade era muita.
Até eles voltarem era um verdadeiro suplício.
Isto repetia-se mensalmente.
Era o reabastecimento.
O Congo era logo ali.
Nunca aconteceu nada, mas só soubemos isso no fim!...
Era uma tensão inevitável.
À chegada da missão, era a descompressão.
Com os vizinhos militares de carreira, a olhar e admirados, porque nunca tal tinham visto.
Ouviam dizer das suas mãezinhas tudo o que provavelmente nunca tinham ouvido.
Isto porque eram os únicos a quem interessava que aquela guerra continuasse e defendiam-na.
Eu limitava-me a tentar acalmar e a dar apoio.
Ele tinha razão.
Cada oito ou nove dias, eu ficava sozinha em casa.
Ao meu marido calhava a vez de dormir no quartel. Era durante vinte e quatro horas o oficial de dia.
Não foi assim tão mau, enquanto não chegou o tempo das chuvas com as trovoadas acopladas.
Depois, era de cortar a respiração.
Durante a noite, já a dormir, era brutalmente acordada com estrondos «nunca dantes» ouvidos.
Pelas frestas da madeira, entrava uma luz tão intensa, que o meu quarto ficava iluminado como se de luz eléctrica se tratasse.
Os raios caíam nas árvores (sorte a minha) que eram mesmo coladas à minha casa.
Ao outro dia, ao levantar-me, ia ver o que tinha acontecido.
As árvores, de grande porte como já aqui referi, estavam abertas pelas faíscas e com troncos queimados.
Houve noites em que julguei que ficava ali.
De manhã, agradecia a Deus por estar viva.
Amanhã há mais.
Abraço.

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