domingo, 20 de fevereiro de 2011

Quartel do Bata Sano












De vez em quando, para quebrar um pouco a monotonia, ia passar o dia ao Bata Sano (quartel). Gostava de estar lá logo de manhã, para ouvir o toque da alvorada, para ver o içar da bandeira, e ver os militares na parada a fazerem ordem unida.
Era muito engraçado. Todo aquele ritual era novo para mim.
Eram gestos e movimentos elegantes, que, se não fossem executados num cenário de guerra, seria ainda mais agradável vê-los.
Mas o que me chamou logo a atenção foram dois elementos que mal soava o toque de reunir, se apresentavam.
Eram os primeiros a aparecer.
Perfilados, ficavam junto aos militares e aguardavam ordens, disciplinadamente.
Eram esses elementos: uma cabra e um cão.
Dois amigos inseparáveis.
Logo que começava a marcha, os dois um atrás do outro, alinhavam ao lado do grupo e marchavam ao ritmo imposto.
Era muito engraçado, pareciam animais de circo.
Eram as mascotes e todos gostavam deles.
No meio daquilo tudo tão desagradável, havia dois «palhacinhos» dispostos a animar a malta, e «com o sentido do dever».
Era divertida aquela cena.
O resto do dia era passado a conversar e a tentar enganar o tempo.
Era preciso que passasse depressa...
Tudo era novo para mim, gostava de observar aquela vida tão à parte.
Os militares, coitados, é que tinham uma vida sem objectivos, aquela de que gostavam e queriam, estava longe e demorava a chegar.
Tinham-na deixado pendurada no tempo, expectantes em relação ao futuro.
A espera era dura de mais.
Um dia, estava o meu marido de oficial de dia, chega um soldado a correr a chamá-lo.
Um outro soldado do grupo dele, tinha-se sublevado contra um sargento de carreira, que era sádico e adorava fazer a vida negra aos que estavam debaixo da sua alçada.
Os castigos por nada, eram o seu forte.
Já era conhecido por isso.
Dessa vez ia indo desta para melhor.
O soldado estava com a G3 apontada para ele e quem o travou foi a intervenção do meu marido, pois os que estavam presentes não o conseguiam demover.
O sargento estarrecido, acho que respirou de alívio.
Era o resultado que ele conseguia, pela forma prepotente e desumanizada de se relacionar com eles.
Um ódio de morte.
Era frustrante para ele, ver no fim do dia rasgar as participações contra os soldados, que apresentava ao meu marido.
Castigar e mal tratar, não era o objectivo de nenhum dos milicianos.
Já bastava a situação de fragilidade em que se encontravam.

Abraço

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