quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Férias dois












Fomos mais uma vez de férias, mas desta vez para Carmona, agora Uíge.
Viajámos de jipe até Cabinda como de costume, em Cabinda apanhámos um avião da TAAG (Transportes Aéreos de Angola) até Luanda. Aí apanhámos um avião da tropa, o Nord Atlas na gíria militar, mais conhecido por «Barriga de Ginguba».
A viagem foi oferta, mas as condições daquele transporte, ainda hoje me fazem rir.
Quando lá entrei não me ri, não: fiquei aterrada.
Olhei à minha volta e o que vi foi um espaço com aspecto frio, desumanizado e sem condições para, fosse quem fosse, voar.
Aquilo parecia um galinheiro enorme, um transporte de mercadorias (carne para abate), com uns bancos de pau corridos e uns cintos de segurança.
Do mal, o menos – pensei.
Havia cintos.
Quase me negava a fazer a viagem. Não tinha sido preparada para aquilo.
Foi-me dito logo.
«Não têm aspecto, mas são seguros e os pilotos são os melhores e com muita preparação e treino».
Acalmei.
Quando depois de instalados (éramos só nós dois, dois militares e o piloto), fizemos uma descolagem perfeita e sem qualquer perturbação.
Foi o máximo, aquela aventura.
Eu só tinha vontade de rir. Já me tinham acontecido muitas situações que não esperava, mas aquela foi de mais.
Aquele avião fazia tanto, tanto barulho, que só por gestos é que se podia comunicar.
Fomos uma hora e meia, mais ou menos, sem conseguir dialogar.
Quando me levantei, tinha as costas doridas, tal era a comodidade daquele transporte.
Era assim, «confortável e tranquilamente instalados», que viajavam os nossos militares em serviço.
Coitados. Aquilo era um desabrigo e tanto.
Quando aterrassem e tivessem que enfrentar o «inimigo», penso que nem ouviriam as bazucadas vindas do outro lado.
A aterragem nem se sentiu.
Não fiquei com medo da próxima viagem.
Parabéns à Força Aérea, pelos profissionais com aquele brio e preparação.   
Fomos para casa de uns padrinhos meus, que estavam lá há bastantes anos.
Eles sim, eram colonos.
Foram à procura de uma vida melhor e tudo indicava que tinham conseguido.
Ela era professora, ele, funcionário numa qualquer repartição do Estado.
Estavam perfeitamente entrosados naquela vida e naquela mentalidade de seres superiores, que reinava entre os colonos.
Não foi surpresa.
Tudo estava preparado para que fosse assim.
O coitado do indígena, só servia para obedecer, ser humilhado e, quantas vezes, difamado.
Foram dias bons, porque fomos muito bem tratados, mas com momentos constrangedores, o que andávamos a combater (a fobia à cor preta) estava ali bem debaixo dos nossos olhos.
Acho que nem se davam conta, aquilo era uma atitude normal, interiorizada por anos e anos de cultura incutida erradamente.
Nunca esquecerei aquelas férias.
O regresso não custou nada.
Mais uma lição de vida.

Abraço    

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