segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Luís
















Pouco tempo depois de chegarmos, travámos conhecimento com aquela criança desprotegida, de olhar triste e inseguro que era o Luís – ele ia a minha casa pedir alguma coisa para comer.
Tinha doze anos - como o rapaz cabinda da foto.
Como o meu marido começou a dar aulas na escola local, achámos que seria uma boa oportunidade para o ajudar.
Encarregámo-nos não só da sua educação, da alimentação, com também das roupas, dos livros e da sua higiene.
Todos os dias o Luís tomava o seu banho de mangueira na minha varanda e vestia roupa limpa.
Comia as refeições sentado connosco à nossa mesa.
Comia dos mesmos alimentos que nós (e só refiro este facto porque havia quem lhes – aos indígenas locais – desse as peles e a gordura que tirava à carne para confeccionar a sua própria comida).
Andava cheiroso e notava-se que estava vaidoso.
Alimentava-se bem e estava feliz, caminhava para a escola com entusiasmo.
Naqueles dois anos, deu gozo ver o Luís crescer e ganhar hábitos de higiene, boas maneiras e ficar um menino bem-educado.
Achava imensa graça quando eu, em pânico, fugia dos morcegos que à noite me entravam pela casa dentro.
«Senhora, não tem medo, eles não fazem mal». Corria a proteger-me e eu… já enfiada na casa de banho de porta fechada.
Só saía quando ele me dizia que «ele (o morcego), já foi embora, pode vir».
Era um bom menino o Luís.
Tive pena quando viemos embora e o deixámos entregue ao destino.
De vez em quando falamos dele e perguntamo-nos se terá escapado àquela guerra civil que se seguiu à nossa saída.
Se conseguiu, hoje será um homem de quase 50 anos, com filhos e, por certo, ainda não nos esqueceu.
Como já tenho aqui dito, estes factos foram uma forma de não dar de todo por mal
empregue tudo o que se passou naquele cenário de guerra.

Abraço.

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