sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Convívios dois
















Durante todo o tempo em que estivemos em Buco Zau, fomos sujeitos a um tratamento de quinino para menorizar os efeitos do paludismo.
Eram uns comprimidos alongados, escuros, que deixaram também as suas marcas no organismo, ao nível da saúde.
Ainda assim, fui presenteada por três vezes, com esse «pitéu» (paludismo).
Provoca um incómodo tal que, durante uns três a quatro dias, fica-se prostrada, com febres altas e com dores em todo o corpo, principalmente ao nível da nuca, e com muitos arrepios de frio.
É impossível descrever.
Pois foi numa situação dessas, em que tive por companhia as minhas amigas osgas, que me aconteceu aquilo que francamente não previ.
Estava eu imobilizada, sem capacidade nem vontade de me mexer nem que me mexessem, quando, de repente, senti na minha perna esquerda qualquer coisa fria a mexer.
Instintivamente, com calma e só movimentando o braço, fui tocar na perna.
Logo que pus a mão, encontrei uma coisa mole e viscosa que, mesmo sem força e com
um febrão, me fez dar um salto da cama.
Estarrecida, larguei o que apanhei.
Era uma osga bem nutrida, gorda e reluzente.
Não sei onde fui buscar tanta força, só sei que fui à cozinha buscar uma vassoura, dei tantas na osga – que, não sei porquê, não ofereceu resistência e morreu.
Exausta, deitei-me e continuei prostrada e a tremer por todo o lado, de frio, e de medo.
Como é do conhecimento geral, os répteis nem são sociáveis.
O que aconteceu é que o animal deve ter sofrido alguma doença súbita. Será que foi paludismo em último grau?
Se calhar, o convívio connosco não lhe fez bem.
Este episódio fez-me ter ainda maior asco destes bichos, mas fui obrigada a conviver com eles até ao fim da comissão.
Depois de melhorar, racionalizei a situação e parei de me imaginar coberta de osgas por todo o corpo.
A África teve destas coisas.
Endureceu-me, tornou-me mais forte e sem medos de maior.
Foi uma espécie de vacina vitalícia.
Do mal, o menos.

Abraço.

1 comentário:

  1. Costuma dizer-se que "é nos maus momentos que se vêem as boas cabeças"; neste caso, pode dizer-se que "das fraquezas se fizeram forças" para lidar com algo de asqueroso e que, em condições normais, não teriamos forças (nem motivação!) para fazer! :) Boa vacina!

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