sábado, 12 de fevereiro de 2011

A minha varanda












O meu tempo era passado na minha varanda de tipo colonial (mas em casa de madeira, não esquecer), com alpendre, telhado de zinco, e com umas grades de madeira.
Parecida com a da imagem, mas era grande e agradável.
Com uma torneira com mangueira instalada, fazia as minhas delícias.
Durante o dia, eram várias as vezes que passava por mim a água que saía quente, mas que aliviava um pouco o calor por curtos momentos.
De tantos banhos, fiz uma queda de cabelo, que me pôs em pânico. Só com tratamento o problema se resolveu.
Essa varanda foi a minha sala de visitas, de estar, de jantar e de lazer. Muito agradável mesmo.
Foi lá que tomei conhecimento da fome e das crianças com barrigas dilatadas com umbigos do tamanho de peras.
Foi lá que me dei conta do racismo profundo dos militares do quadro ao espantarem com raiva essas crianças como se fosse cães sarnentos.
Foi de lá que li nos olhos dos mesmos, o espanto e quase crítica, por verem que acolhemos em nossa casa, protegemos e sentámos à nossa mesa uma criança preta, depois de lhe proporcionar um banho e lhe vestir roupa limpa.
Foi naquela varanda que me senti muito bem, ao ver a alegria nos seus olhos, por se sentir protegido, e gente.
Foi naquela varanda que recebemos com todo o gosto e amizade quem quisesse aparecer para conversar e sentir um pouco de calor humano.
Foi lá que num dia de natal, recebemos o grupo de soldados, o grupo do meu marido, e ceámos todos. Não faltaram as nossas tradicionais filhós que foram feitas debaixo da ventoinha.
À falta de bacalhau e couves, comeu-se cabrito assado.
Esta guerra aguentou-se, porque houve todas estas cumplicidades e solidariedade.
Os mais martirizados foram sem dúvida os soldados.
Sozinhos, abandonados, sem rumo nem amparo.
Compreendi o porquê dos excessos, compreendi o desespero de alguns, as atitudes tresloucadas quando se sentiam perseguidos e castigados por dá cá aquela palha.
Foram os heróis deste massacre, e alguns tão desamparados ainda hoje.
Para todos a minha admiração.
Abraço.

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