Nestes dias mais ou menos festivos, é inevitável o meu
pensamento não voar.
Desta vez foi até à minha aldeia de então.
Era uma aldeia quieta e silenciosa.
Em dias de chuva como o de hoje, era também deserta.
Quase fazia lembrar uma aldeia onde, a qualquer momento, um
filme fantasmagórico iria acontecer.
Nas ruas, para lá da chuva que zurzia tudo o que encontrava
pela frente, havia no ar um cheiro intenso a fumo.
Até isso era meio misterioso e agradável.
Era um cheiro genuíno e forte e selvagem.
Dentro de cada casa, a lareira era a protagonista.
Sem ela, diria eu, seria insuportável viver ali.
Por isso era tão adorada, tão querida e tratada com tanto
desvelo.
À sua volta, teciam-se estórias e romanceavam-se acontecimentos.
Quase sempre os antepassados já desaparecidos eram os
protagonistas.
Desde quadrilhas que assaltavam pela calada da noite, a
proezas acontecidas, tudo servia para ocupar e animar o grupo.
A lareira era o
centro do convívio saudável daquela época.
Havia sempre alguém
que fazia o papel de animador.
Às vezes até penso que aqueles serões se transformavam em verdadeira comédia à portuguesa.
Na altura não havia gente depressiva.
O convívio era alegre e muito verdadeiro.
Transformou-se a minha aldeia.
Para melhor em termos de progresso.
O resto, esse, ficou-se pelo caminho.
Na minha aldeia, num dia igual ao de hoje, alguém diria:
- Está um dia de capar cães!...
E outras expressões que, manda a decência, ficam apenas no
pensamento.
A minha aldeia mudou, mas continua a ser a minha aldeia,
aquela que me viu nascer e crescer.
Um ano bom para todos os que me lerem.
Abraço.
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