Quando eu era criança, passava à minha porta um homem grande.
Passava montado num cavalo grande e para mim muito alto.
O homem, de chapéu de três bicos, intimidava a criança que
eu era.
Ao vê-lo cá de baixo, parecia-me uma figura poderosa.
Algo de misterioso passava pela minha imaginação.
Tinha medo daquela figura.
Vista cá de baixo, parecia-me demasiado imponente e vinda de
um outro sítio qualquer, que não do meu mundinho de menina.
Logo que, ainda lá longe, ouvia o trotar do cavalo, ficava em
alerta.
Em alerta mas curiosa.
Meio dentro, meio fora da minha porta, via-o passar e olhava-o.
Ele, que já devia ter percebido o efeito que fazia em mim,
olhava-me com um meio sorriso, que ainda o tornava mais enigmático.
Tinha medo daquele homem.
Saía do padrão normal dos homens da minha terra.
A minha ingenuidade de criança transportava-me para um mundo
de gigantes, onde o perigo espreitava a cada canto.
Custou-me a habituar àquele trote de cavalo e àquele homem
grande!...
Só mais tarde, já adolescente, interiorizei que aquela
figura, para mim misteriosa, era apenas um lavrador abastado da minha própria
terra.
O cavalo conduzia-o apenas às suas propriedades.
Ainda que desfeito o enigma, ainda hoje me impressiono,
quando penso na figura grande, majestosa e imponente, daquele homem grande.
O que a imaginação de uma criança pode!...
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