Gosto de música desde que me conheço.
Na minha adolescência, ouvi e dancei ao som das músicas que
durante todo o dia passavam na Rádio Altitude da Guarda.
Saltava-me o coraçãozito com toda ela.
Faltava-me a noção da qualidade.
Ainda hoje, ranchos folclóricos, acordeão, bandas, tudo isso
me faz bater o pé.
Em determinada altura, já no
fim da minha adolescência, chegou-me por via de um amigo, uma cassete gravada
por um grupo de cantores de intervenção.
Fizeram isso meio
clandestinamente e distribuíram cópias.
Algo mudou em mim.
Meio atordoada, tomei
conhecimento daquele género de músca e apaixonei-me por ela.
Foi um abanão psicológico e intelectual!...
Fez-me parar para pensar.
Tratava de assuntos que até então estavam meio nublados no
meu espírito. Aos poucos, fui tomando consciência de como a vida era madrasta
para alguns e tão fácil para outros.
Abriu-me horizontes e ensinou-me a entender os porquês e os meandros
e mistérios que até aí nem questionava.
Ficou para mim tudo mais claro.
Aprendi caminhos alternativos e mais correctos para alcançar
uma maior justiça.
Foram anos em que essa música me acompanhou e me ajudou a desbravar
caminhos.
Acompanhou-me e deu-me força, em momentos difíceis – como a
guerra colonial.
Entre muitos outros e apenas para referir alguns, o José
Afonso, o Adriano Correia de Oliveira, o Sérgio Godinho, o Francisco Fanhais, o
José Mário Branco, deixaram marcas fortes.
Seria exaustivo falar de tantos. Nossos, brasileiros e de
outros países que se juntaram a este movimento de esclarecimento dos mais
afastados da realidade.
Aprendi com eles a apreciar o que de bom se pode fazer com
músicas e letras de qualidade.
Não posso deixar de me sentir triste quando, de repente,
começo a ver essa gente e esses poemas, a sair de cena para darem lugar a
autênticas mediocridades, que preenchem os espaços nobres das nossas televisões...
Que saudades e que crime este de desprezar a cultura que nos
é tão necessária!
Dou comigo a pensar que de José Afonso ao kuduro e outras
que tal, vai um mundo de ignorância de desconhecimento e de distância em
relação ao saber. A começar na programação das televisões que enfrascam quem os
vê de mediocridade e toneladas de falta de qualidade.
Pobre povo que tão mal tratado és!
Abraço.
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