O saco era grande
e chegava quase vazio.
Às nove e meia de
todas as manhãs, era agarrado pelas «orelhas» e levado a arrastar estrada
abaixo, numa correria alegre.
O SACO!
O saco chegava na camioneta da carreira!
Qualquer criança, das muitas que nessa altura havia, disputava a guarda e entrega do saco.
Era quase um
crescer da sua vaidadezinha de meninos! Ser portador daquele saco, era uma
responsabilidade, pois não se tratava de um saco qualquer!
Aqueles corpitos
frágeis e aquelas mãos pequeninas tinham uma missão que não podiam falhar: entregá-lo
em mãos seguras no posto do correio.
Era aguardado com alguma ansiedade. Mulheres, namoradas e
claro, os comerciantes da aldeia,desejavam que lá dentro viesse a perspectiva da
continuação de uma vida sem percalços.
O que traria hoje
o saco?
Só depois de
aberto por alguém possuidor da chave, se saberia!
Era uma chavinha
pequena mas especial! Era guardada em sítio seguro e só de lá saía no momento
certo, manuseada pela pessoa certa!
Penetrava a
fechadura, rodava e só depois os segredo ou não, poderiam finalmente ser entregues
e lidos.
As boas ou as más
notícias, as juras de amor ou as despedidas até mais ver!
Os nomes dos
destinatários eram lidos em voz alta:
«Senhora fulana
de tal! Menina Tal e Tal»! ...
«E do meu filho,
não veio nada»?
«O meu homem já me
devia ter mandado o vale»!...
Estávamos no
início da primeira debandada de emigrantes que, mensalmente, enviavam o pecúlio
que com grandes sacrifícios, conseguiam angariar.
Felizes uns, outros nem tanto, lá aceitavam a realidade,
porque a esperança não podia morrer!
«Devem chegar
notícias amanhã», dizia a mulher de lenço preto na cabeça, afastando-se
cabisbaixa.
Era assim nos
anos sessenta.
Tudo dependia da
camioneta da carreira e do que aquele saco trouxesse.
Os interessados
esperavam ansiosos e em grupo,a camioneta com o saco do correio.
Era um momento do
dia com alguma importância.
Hoje, poucos se lembrarão daquele saco!
O objecto em
tempos tão desejado, jaz esquecido e coberto de pó não se sabe onde!
Coisas dos
tempos!
Abraço.
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