Eram algumas e engraçadas as tradições da minha aldeia.
Pela simplicidade, pela camaradagem e pela alegria ingénua.
Estou a recordar concretamente uma.
As cacadas
Era durante o mês de Fevereiro, no tempo que antecedia a quaresma,
que aconteciam.
Então de que é que constava esta brincadeira?
A noite era o momento escolhido para pôr a tradição em
prática.
Preparava-se durante o dia disfarçadamente.
Era preciso angariar material que fosse barulhento e que
obrigasse a uma pequena limpeza por parte dos atingidos.
Garrafões de vidro partidos e ainda com a palha.
Cestos com bugalhas, cacos etc...
Cântaros de barro já velhos, que se pudessem escaqueirar.
Cântaros de lata já sem préstimo, com tudo o que fizesse
barulho e confusão lá dentro.
Enfim, tudo o que pudesse pregar uns bons sustos e que
fizesse uma grande chinfrineira.
De noite, quando toda a gente já estava recolhida a jantar
ou simplesmente a fazer serão, o grupo que então se organizara, e com os
objectos na mão, ia pé ante pé.
Escolhiam-se as casas com degraus interiores de madeira ou que
tivessem corredores longos, e zás!
Atirava lá para dentro com tudo.
Caíam que nem «bombas» aqueles objectos barulhentos,
rebolando ou fazendo pum…pum…pum escadas abaixo ou corredores fora.
Era a confusão total.
O pessoal atingido corria às portas e ou riam a bom rir, ou
irritados gritavam impropérios, enquanto o grupinho fugia e soltava gargalhadas
saudáveis.
Às vezes, quase sempre, descobriam-se os prevaricadores.
Aí normalmente havia o troco.
Era só esperar a oportunidade!...
Nunca se sabia qual seria a próxima «vítima»!...
Era muito engraçada esta brincadeira inocente e
bem-disposta.
Abraço.
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