domingo, 23 de março de 2014

Em jeito de…




Depois de uma vida vivida a trabalhar com crianças e seus familiares, é impossível não guardar no disco rígido da nossa memória algumas recordações de estórias diárias.
Umas com piada, outras nem tanto.
Hoje, lembrei-me do Fernando.
Chegou ao infantário com quatro anos.
Vinha de uma família desestruturada e vivia com dois avós já idosos.
Era uma criança doce, mas instável e irrequieta.
Quem o levava todos os dias era o avô.
A relação dos dois era amistosa e de grande cumplicidade.
Contudo, havia um pormenor que fazia toda a diferença.
Aquele avô, gostava do copito. À tarde quando o ia buscar, a rua já era estreita e com alguns ziguezagues a mais!
O Fernando, espertalhão, apercebia-se de que o avô estava em momento de facilitar.
Então, fazia-se difícil, não queria ir embora, fingia que ia mas voltava para trás, enfim, digamos que as conversações entre os dois se tornavam um bocadito complicadas.
«Fernando! Anda, dá um beijo à senhora»!
O Fernando, fingia-se surdo. Mexia mais aqui, mais ali, enquanto o avô, meio toldado, se enchia de paciência e dizia mais uma vez:
«Fernando, anda, dá um beijo à senhora!»
Nada. O Fernando continuava a tirar partido da situação.
Até que o avô, que era idoso mas tinha a marca de malandreco bem à vista, dizia com entusiasmo:  
«Fernando! Dá um beijo à senhora já! Olha que se não dás tu, dou eu!...».
Coisa atrevida, para a época.

Esta situação só podia ter ficado para a colecção das situações consideradas anedotas que por ali iam acontecendo.
Foi assim, em jeito de anedota, que me deu gozo contar-lha a si.
Um bom início de semana.

Abraço.

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