quinta-feira, 19 de maio de 2011

Relações de vizinhança











Há três anos e depois de trinta e muitos de cidade, decidimos que a qualidade de vida teria que ser uma prioridade.
Apeteceu-nos voltar a sentir a terra e a Natureza.
Tem sido uma experiência boa e tranquila.
Sinto-me quase em casa, naquele berço em que nasci e vivi durante vinte e dois anos.
O reviver do ambiente de aldeia trouxe-me o sabor das sensações vividas e de que sempre gostei.
É bom acordar com o cantar do galo da vizinha.
É bom ouvir o cacarejar feliz das galinhas quando põem o ovo.
É muito engraçado observar que o galo, solidário, se junta à festa executando o seu mais belo canto.
Inédito é ver o cachorro da casa do lado ir ao ninho buscar o ovo acabado de pôr e levá-lo na boca intacto à dona, que lhe tece grandes elogios.
É bom ouvir os cães em uníssono a refilar não se sabe muito bem porquê nem a quê.
Ás vezes, ladram apenas ao vento.
É muito engraçado poder ter quatro gatos que vivem todas as horas do dia para os donos, que os esperam ao portão e, dengosos, emitem miaus de saudade e mimo.
É bom ouvir as pessoas da aldeia a cumprimentarem-se de forma efusiva e com brejeirices normais de gente simples
É bom sobretudo acordar com a vizinha a saudar-nos e vermos nos seus olhos
amizade e respeito.
É bom sabermos que nos aceitaram, apesar de sermos intrusos.
É bom saber que sentem a nossa falta, que nos consideram gente igual e não apenas mais um número.
Um número que fosse apenas mais um entre tantos, incógnito.
As relações humanizadas que se criam nestes meios dão saúde.
Saúde física e psicológica.
Dão-no disponibilidade mental para fazermos coisas boas que nunca pensámos fazer – como por exemplo este blog, que até permite esta partilha.
Aproximam-nos e tornam-nos mais afectuosos, soltos, solidários, extrovertidos e menos egoístas.
Depois temos a qualidade alimentar.
Aqui tudo tem um sabor diferente.
O nosso palato nem acredita.
Os sabores que a nossa memória guardou, e nos deixaram saudades, estão ali outra vez.
As galinhas do galinheiro, os coelhos da coelheira, as ovos acabados de sair do poleiro.
As hortaliças criadas na horta ali ao lado e sem produtos químicos.
Os frutos da época fresquíssimos, etc. etc…
É na verdade um privilégio poder usufruir de tudo isto.
E…a cidade grande é logo ali.
A uns escassos trinta quilómetros.
Nunca pedi isto, nunca foi planeado, aconteceu.
Obrigada à vida.

Abraço 

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