sexta-feira, 31 de maio de 2013

A propósito de trovoadas


Lá, era bem pior do que isto...


Li ontem no blogue ‘Capeia Arraiana’, a descrição sentida e perfeita de uma trovoada no interior do nosso país (*).
Quem escreve assim sobre um fenómeno natural, só pode ser uma pessoa sensível.
Aliás o autor já nos vem habituando há algum tempo a este estilo tranquilo e criativo e que eu acho muito bonito.
Ao ler aquela crónica não pude travar o pensamento.
Vi-me de repente como que esvoaçando e só poisei em Cabinda.
Mais propriamente numa pequena aldeia no meio da floresta virgem do Maiombe, chamada Buco Zau.
«Estávamos» na tropa, claro. 

Cheguei lá num ápice.
Sentei-me na minha velha varanda e sob um calor húmido e infernal, comecei a ver que o sol se escapava por detrás de umas nuvens espessas e negras, que teimavam em sobrevoar o céu.
Assim, do nada, o dia fez-se noite.
Noite de breu mesmo.
A trovoada nem se fez anunciar.
De repente, no meio daquela imensidão e silêncio, comecei a ouvir um forte ribombar de trovões sucessivos, acompanhados de uma festa florescente de raios, que um espectáculo de fogo de artifício não faria melhor.
Aquela que parecia ser noite transformou-se num dia cheio de luz.   
As nuvens negras abriram-se e fizeram da pequena aldeia um sem número de rios que procuravam um leito de grande porte que os acolhesse.
Enquanto durava aquele espectáculo, não era possível o diálogo.
Tal era o estrondo sucessivo.
Aquele que eu considerava um espectáculo pictórico, era digno de ser observado.
Ainda que, para isso, o medo tivesse que ser remetido à sua insignificância.

A casa que habitei durante dois anos era de madeira com telhado de zinco, igual às de todo o bairro de oficiais construídas de propósito para nós todos...
Tinha a rodeá-la um sem fim de árvores centenárias de grandes dimensões.   
Quando a trovoada terminava, e já com sol novamente no seu máximo, não era raro ver um daqueles gigantes da floresta, aberto por um raio.
Ali, a três metros de mim.

Não tinha chegado ainda a minha vez de sair deste mundo.

Mas lá que o espectáculo era lindo, lá isso era.
Nunca mais poderei esquecê-lo.

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       (*) Pode ler aqui, abrindo o link.
  

Abraço.

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