domingo, 19 de dezembro de 2010

A paixão das gaivotas




Hoje o mar não estava para amar.
Com as ondas a fustigar as muralhas da fortaleza em Sesimbra, carrancudo, ameaçador, impunha-se. As sempre fiéis gaivotas, com respeito, perfilavam-se.
E, perante aquela força imensa, cabisbaixas, olhavam-no impotentes.
O almoço estava em risco.
Dependentes do mar para se alimentarem, o inverno não é, de todo, a estação sua preferida.
Apesar disso, havia ainda uma réstia de esperança: atrás das vagas revoltosas, lá longe, dois barquinhos de pesca artesanal bamboleavam-se e prometiam não demorar.
Era essa a certeza daquele bando, que insistia em não arredar pé da areia molhada que afinal é a sua casa – às vezes mais, outras vezes menos confortável.
Depois de dias consecutivos de temporal, dá pena vê-las em lamentos tristes à volta das lixeiras putrefactas mais próximas.
Elas, as rainhas do mar, humilhadas e vencidas pela fome!...
Parecem órfãs e sem amparo, sem rumo definido.
Onde irão pernoitar?
Sem dúvida que os dias de sol e mar calmo são esperados com ansiedade…
Também as gaivotas têm os seus amores e as suas paixões.
Abraço.  

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